quarta-feira, 8 de julho de 2020

525 - "Abre a tua boa e come"! Literatura e antropofagia: Rubem Alves.


A literatura é um processo de transformações alquímicas. O escritor transforma – ou, se preferem uma palavra em desuso, utilizada pelos teólogos antigos, “transubstancia” – sua carne e seu sangue em palavras e diz seus leitores:
“Leiam! Comam! Bebam! Está é minha carne, este é meu sangue!”
A experiência literária é um ritual antropofágico. A antropofagia não é gastronomia, é magia.
Come-se o corpo de um morto para se apropriar de suas virtudes. Não é esse o propósito da Eucaristia, o ritual antropofágico supremo?
Come-se e bebe-se a carne e o sangue de Cristo para se faze semelhante a ele.
Eu mesmo sou o que sou pelos escritores que devorei...
Rubem Alves

segunda-feira, 6 de julho de 2020

524 - Literatura: outros olhares sobre o texto bíblico.



Muitos escritores famosos usaram a Bíblia como fonte de inspiração. Ao longo da história, poetas, teatrólogos e romancistas adaptaram histórias bíblicas para suas obras.
Elaborei uma lista de premiados autores contemporâneos que usaram temas ou personagens bíblicos em suas produções literárias.

Escritor russo Fiodor Dostoiévski (1821-1881) retratou vários de seus personagens como figuras de Cristo, por exemplo, o príncipe Leo Myshkin, em O Idiota (1868-69), e Alyosha, em Os Irmãos Karamazov (1880).



Victor Hugo (1802-1885), escritor francês, criou figuras de Cristo no Bispo de Digne, na obra Os Miseráveis (1862). 



Romancista francês Gustave Flaubert (1821-1880), em Herodias (1877), ele amaldiçoa todas as pessoas ou grupos envolvidos na decapitação de João Batista. 



James Joyce (1882-1941), autor irlandês que escreveu o romance Ulisses (1922), produziu obras com temáticas bíblicas, podemos destacar a obra O Jesus Brincalhão. 



Poeta inglês T. S. Eliot (1888-1965), prêmio Nobel 1948, escreveu vários poemas sobre assuntos bíblicos, por exemplo: A jornada dos Magos (1927), Um Cântico de Simeão (1928).


Thomas Mann (1875-1955), escritor alemão, recebeu o prêmio Nobel em 1929, fez uma sofistica leitura de Gênesis na obra José e Seus Irmãos (1933-43). 



Nigeriano Wole Soyinka (1934-), ganhador do prêmio Nobel 1986, fez uso de temas bíblicos. Na peça Os moradores do Pântano, ele usa a Parábola do Filho Perdido misturada com outras histórias de conflitos entre irmãos. 


Patrick White (1912-1990), australiano prêmio Nobel em 1973, usou simbolismos bíblicos em seus romances, o personagem protagonista em Voss (1957) revela-se como uma figura de Cristo. 



Escritor sueco Pär Fabian Lagerkvist (1891-1974), prêmio Nobel em 1951, na obra Barrabás (1950), reflete sobre o que passou a ser a vida do personagem bíblico após ser libertado em lugar de Jesus. 



Nikos Kazantzakis (1883-1957), escritor grego, escreveu a famosa obra A última tentação de Cristo (1955), cuja abordagem incomum do Evangelho foi condenada pelas Igrejas Católica e Ortodoxa. 



O norte-americano John Steinbeck (1902-1968), recebeu o prêmio Nobel em 1962, escreveu sobre a história de Caim e Abel na obra A Leste do Paraíso (1952). 



William Faulkner (1897-1962), norte-americano, recebeu o prêmio Nobel de 1949, escreveu um romance sobre a paixão de Cristo, ocorrendo durante a Primeira Guerra Mundial, na obra Uma Fábula (1954). 



Escritor português José Saramago (1922-2010), prêmio Nobel em 1998, escreveu O evangelho segundo Jesus Cristo (1991), o romance foi censurado pelo governo português e excluído do concurso literário da Comunidade Europeia. 














David Rubens de Souza

quarta-feira, 1 de julho de 2020

523 - Morreu o teólogo alemão Klaus Berger.




Morreu no dia 8 de junho de 2020, aos 79 anos, o renomado teólogo alemão Klaus Berger.
Klaus Berger foi professor de teologia do Novo Testamento na faculdade de teologia da Universidade de Heidelberg. Foi um grande pesquisador do Novo Testamento, publicou muitos livros e artigos especializados. Seu livro sobre Jesus tornou-se um best-seller na Alemanha. 
É importante dizer que Berger se opôs aos desenhos clássicos e históricos de Rudolf Bultmann e Martin Dibelius. Sua preocupação foi trabalhar com categorias da retórica antiga (helenística) e não com construções modernas, e olhar não apenas trechos do Novo Testamento, mas também todos os textos do Novo Testamento.
Em seus textos sobre exegese, Berger argumentou que forma e conteúdo não podem ser separados de acordo com a velha teoria da teologia liberal, como casca e núcleo. Porque a forma também fornece sinais importantes para a compreensão do conteúdo e, portanto, deve ser levado a sério.

Um fato curioso da vida de Klaus Berger
Inicialmente, Berger era católico, no entanto, em 1967 ele passou a ser protestante, motivo, a Faculdade de Teologia de Munique recusou a sua tese de doutorado, na qual ele afirmou que Jesus não dissolveu a lei Judaica, mas sim interpretou-a de acordo com o sentido do seu tempo. O fato curioso ocorreu pouco antes de sua aposentadoria, quando ele causou um escândalo ao afirmar que nunca havia deixado a Igreja Católica Romana e sempre fora católico.
A ideia sobre Jesus defendida por Berger foi aceita em 1991 e é agora considerada oficial pela Igreja Católica.

A formação
Klaus Berger se formou no colegial do conselho humanista de Goslar. A partir de 1960, estudou teologia e filosofia católica, e línguas cristãs orientais (aramaico, sírio, etíope, árabe) na Universidade Ludwig Maximilians em Munique, na Universidade Livre de Berlim e na Universidade de Hamburgo. Em 1965, ele passou no exame da faculdade de teologia em Munique e recebeu seu doutorado no Novo Testamento em 1967. Na dissertação, algumas posições foram consideradas heréticas, razão pela qual ele não podia mais se tornar um padre católico. Em 1971, ele se habilitou na mesma disciplina na Universidade de Hamburgo, na Faculdade Teológica Protestante.
De 1974 até sua aposentadoria em 2006, ensinou Novo Testamento na Faculdade Teológica Protestante da Universidade de Heidelberg. 
Berger teve dois filhos de seu primeiro casamento com Christa Berger. Teve um segundo casamento com a cientista Christiane Nord. 
Berger faleceu em Heidelberg.


Obras de Klaus Berger traduzidas para o português:










Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.