terça-feira, 31 de março de 2020

498 - Meguilot: Enfoque Feminista. RIBLA – Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana.


RIBLA 67, aborda os cinco livrinhos da Bíblia Hebraica que a tradição judaica chama de Meguilot (“Rolos”). São eles: Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações e Ester.
As autoras e autores deste número realizam um belíssimo trabalho de exegese bíblica com enfoque feminista.

Será que os cinco livros bíblicos conhecidos como Megillot podem ser considerados como uma Torá feminina popular paralela à Torá oficial?

Artigos:
- A Torá Feminina. Introdução histórico-literária
- Desenrolando as cinco Meguilot festivas
- Rute. Uma Introdução
- O Livro de Rute, bordado à mão
- Rindo para não chorar no balcão dos “mal-amados”
- Uma visão panorâmica do Livro do Cântico dos Cânticos
- Meguilot Eihá. O Livro das Lamentações
- As múltiplas vozes de Lamentações: Fazer profecia a partir da dor
- Qohelet – Dicas para fazer do deserto um espaço habitável
- O desencanto como resistência (Eclesiastes 1,2-11)
- Ester: A Mulher que enfrentou o palácio

Nhanduti Editora
P. 160.

Ano. 2013.


segunda-feira, 30 de março de 2020

497 - Lloyd Geering: Contra o fundamentalismo.



“O fundamentalismo cristão é um mal social”

Geering é professor emérito de estudos religiosos na Universidade Victoria de Wellington. Nasceu em 1918, completou 100 anos em fevereiro de 2018.
Lloyd Geering é um teólogo de renome na Nova Zelândia, onde tem sido constantemente requisitado como professor e como comentarista sobre religião e assuntos relacionados, tanto na televisão quanto no rádio. Foi professor de Antigo Testamento durante muitos anos, e, membro do famoso Seminário Jesus. 
Em 1966, Geering publicou um artigo sobre “A ressurreição de Jesus” e, em 1967, outro sobre “A imortalidade da alma”, que juntos provocaram uma controvérsia teológica pública de dois anos que culminou em acusações da Igreja Presbiteriana de Nova Zelândia - do qual é ministro ordenado – de heresia. 
Durante seu julgamento na igreja, ele alegou que os restos mortais de Jesus estavam em algum lugar da Palestina e que a ressurreição havia sido interpretada erroneamente pelas igrejas como uma ressuscitação do corpo de Jesus. Rejeitou também a noção de que Deus é um ser sobrenatural que criou e continua a olhar o mundo. Lloyd Geering tem recebido diversas homenagens na Nova Zelândia.

Alguns Livros de Lloyd Geering
Reimaginando Deus: a jornada de fé de um herege moderno, 2014.
Do Big Bang a Deus: Nossa Jornada de Evolução Inspiradora, 2013.
Cristianismo sem Deus, 2002.
Fé cristã na encruzilhada, 2001.
O mundo por vir:  do passado cristão ao futuro global, 1999.
Deus de amanhã: como criamos nossos mundos, 2000.
No mundo de hoje, 1988.
O mundo das relações: uma introdução a Martin Buber, 1983.
A nova era da fé: uma perspectiva sobre a mudança religiosa contemporânea, 1980.
Ressurreição - Um símbolo de esperança, 1971.
Deus no novo mundo, 1968.

Livros publicados no Brasil










































terça-feira, 24 de março de 2020

496 - René Girard: Sagrado; desejo mimético; bode expiatório inconsciente e violência.



“A concepção romântica do desejo é ilusória”.

René Girard, falecido em 2015, foi membro da Academia Francesa e professor de Literatura Francesa na Universidade de Stanford. Sua teoria do desejo mimético indica que entre o sujeito e o objeto não existe somente o desejo, mas também o modelo, o mediador do desejo, ou o rival. O conceito de mimesis aqui estabelece o ponto central da articulação. Desde as sociedades primitivas, o desejo mediado é o desejo causador dos conflitos. Pela imitação, aprendemos a falar, a andar e a desejar. E, pela imitação do desejo alheio, competimos e rivalizamos, dando início a um ciclo de violência, capaz de se atenuar pelo sacrifício, neste caso, de uma vítima que acaba por aliviar as tensões do coletivo, reestabelecendo a paz momentânea. Torna-se inevitável, dentro deste esquema, que também o ciúme e a inveja façam parte da mimesis do desejo.
Radicado nos Estados Unidos há mais de 50 anos, Girard estudou o Antigo Testamento sob a ótica sociológica e vê no cristianismo a primeira religião que consegue amenizar a violência pelo expediente da crucificação.

Nesta entrevista, concedida à CULT, o historiador falou sobre alguns dos temas presentes naquele que é considerado seu mais importante livro, Coisas ocultas desde a fundação do mundo, publicado originalmente em 1978 e lançado pela editora Paz e Terra. Nele, Girard aprofunda, através de diálogos com dois psiquiatras franceses, suas hipóteses sobre a violência, o desejo e a representação do sagrado, desenvolvidas a partir de temas de seu livro anterior, A violência e o sagrado.






Fala-se muito hoje em violência. Mas não vivemos uma época em que há maior controle social e cultural da violência do que em qualquer outro período da história?
René Girard – Temos um grande controle da violência no que se refere ao local. Entretanto, as pessoas não estão cientes da violência em si. A mediação externa resolve o problema da violência de forma imperfeita porque o faz através de uma vítima. Considero que temos paz no âmbito individual, mas a ameaça está no coletivo. Tanto o rito quanto a proibição somente adiam a explosão da violência.
Sistemas religiosos como o cristianismo atuam no sentido de conscientizar sobre o uso da vítima expiatória. E não existe uso deste mecanismo de forma consciente. O bode expiatório é inconsciente, ou não é.
Em um nível exponencialmente maior, estamos lidando hoje com a possibilidade da destruição total, do uso da violência em termos absolutos, através do crescente desenvolvimento de tecnologias novas como a nanotecnologia — manipulação de partículas que podem desencadear reações de potencial altamente destrutivo.
Assim como Peter Gay, o senhor afirma que o coletivo é assassino por natureza e não o homem. Poderia explicar?
RG – Penso que o indivíduo não é assassino em sua natureza e, sim, o coletivo. As descobertas coletivas são perigosas em vários aspectos do desenvolvimento humano.
A primeira metade do século 20 foi intensamente bélica. O século 21 traz novos desafios e preocupações, que são o desenvolvimento científico e as descobertas para as quais não estamos novamente preparados.
Acredito que nossa natureza mimética é responsável pela tendência das multidões de focalizar sua violência em um único indivíduo que se transforme, arbitrariamente, no bode expiatório de alguma comunidade. A matança unânime de uma vítima inocente, no passado, pacificava multidões perigosamente perturbadas e tornou possível sua estabilização.
Acredito que o bode expiatório tem um papel essencial na criação e na perpetuação de religiões arcaicas. As culturas arcaicas foram essencialmente a repetição de sacrifícios religiosos, evacuando a violência interna através destas vítimas substitutas. Isto não significa que eu recomende o mecanismo do bode expiatório para a manutenção da paz dentro das comunidades. Uma vez que o ciclo do sacrifício é compreendido, ele perde sua eficácia, como uma arma contra a violência interna.
Os deuses arcaicos, na minha opinião, são vítimas da matança daqueles que põem fim à violência disruptiva e são considerados divindades da violência e da paz.
Thomas Mann se perguntava: “Não é a paz um elemento de corrupção civil e a guerra purificação, liberação, uma enorme esperança?” O rito sacrificial – o uso da violência para apaziguar ânimos – vem sendo há muito tempo discutido pela literatura universal?
RG – Não concordo que a guerra traga purificação. Na literatura há comentários sobre o comportamento mimético tanto do desejo, quanto da violência. O rito sacrificial é arcaico, é gênese da violência humana. O uso do bode expiatório está presente na literatura, como em Shakespeare, por exemplo.
Esta declaração do jovem Thomas Mann reflete a atitude à época do início da Primeira Guerra e foi compartilhada por muitos ingleses e franceses. Este espírito durou até, aproximadamente, 1916. Estas opiniões sofreram mudanças extremas devido às terríveis perdas da guerra e do progressivo aumento do poder militar.
Mann era muito comprometido e leal às ideias antinazistas e perdeu sua crença no poder enobrecedor do aparato de guerra. Concordo com o Thomas Mann mais velho. No futuro, ou não haverá nenhuma guerra como aquelas do século 20, ou nós veremos a destruição da civilização.
Em Coisas ocultas desde a fundação do mundo, o senhor diz que os ritos sacrificiais perderam força sob influência do judaísmo e do cristianismo. No que concerne à relação entre Israel e Palestina, existe o uso do mecanismo sacrificial?
RG – Devemos tentar ver todos os conflitos e guerras que temos hoje sob a ótica do mecanismo mimético. Mimesis tanto do desejo, quanto do uso da violência. No cristianismo, quebra-se o ciclo. Cristo oferece a outra face e redime seus algozes. Não busca vingança, não derrama mais sangue. É pela cruz, pelo amor, que se dá a interrupção do ciclo de violência. O cristianismo mostrou que a sociedade humana produzia vítimas únicas. A crucificação desobstruiu o caminho para o entendimento do processo da vítima expiatória.
Mimetizamos o desejo e também a violência? Ou, ao mimetizar o desejo, criamos a violência?
RG – Sim, as duas sentenças estão corretas. Criamos rivalidade na mimesis, competindo pelo mesmo objeto, desejando os desejos do nosso modelo, o outro. Esta admiração velada do prestígio do outro, do que o outro possui, é a constatação clara de ser insuficiente. Constatação está muito angustiante e incômoda. Já o modelo, o intermediário, não é passivo dentro deste mecanismo. Pelo contrário, faz de tudo para provocar o desejo do outro sobre seu objeto. Pois, que valor tem o objeto, senão pelo desejo de outrem? Este é o ciclo infernal do desejo. E também dos conflitos.
Para Freud, o mal-estar do homem moderno ocorreria devido à repressão de sua violência natural, que gera outros problemas de ordem interna e também conflitos sociais de diferentes naturezas. A teoria de Freud não vem de encontro à sua?
RG – Sim, há uma oposição entre as ideias de Freud e as minhas. Muitos diriam que tanto na repressão da libido em Freud, quanto no uso do mecanismo de vítimas arbitrárias para aplacar explosões, reside uma ideia similar. Mas não concordo com Freud e com sua teoria de que tudo está relacionado ao desejo sexual. Freud justifica todo comportamento humano baseando-se nesta ideia. Ele foi o primeiro a ver a profunda influência que uma pessoa tem sobre a outra. Mas discordo de sua visão de que a influência dos pais delinearia a personalidade. A visão de Freud ficou muito restrita ao período em que viveu, no qual predominava um certo tipo de estrutura familiar.
E quanto àqueles que somente desejam o impossível? Ou, como disse Kierkegaard, “cometem o pecado capital de não querer nada profunda e autenticamente”?
RG – Minhas ideias estão bem mais próximas às de Kierkegaard do que foi visto nas entrevistas que dei e nos artigos escritos sobre minha obra. Para mim, o desejo do impossível e o não-desejo ainda estariam de acordo com mecanismos miméticos.
Kierkegaard constatou, em sua análise dos três estágios do ser, a presença de um homem que se escora no outro. Possuindo um vazio existencial aterrador, ele procura na observação do outro, do que o outro possui, do que o outro aparenta, uma forma de saber quem é e como sentir-se pleno. Portanto, para ser ele mesmo, este homem necessita tomar conhecimento do outro, como no mecanismo do desejo mimético, onde este desejo somente se faz possível pela intermediação do que é e deseja um outro.

Por Melissa Antunes de Menezes



segunda-feira, 23 de março de 2020

495 - Foucault e a política da pandemia de coronavírus.



Como o coronavírus, oficialmente conhecido como COVID-19, continua incansavelmente em todo o mundo, do lado intelectual, também provocou novas conversas sobre a (geo) política e as ramificações relacionadas em termos de redesenho das linhas da esfera pública/privada, o empoderamento dos governos (locais) sobre os indivíduos, o novo padrão de “distanciamento social”, as possibilidades de uma nova rodada de “desglobalização” e coisas do gênero. 
Da China ao Irã, Itália, Coréia do Sul, Cingapura etc., milhões de pessoas são colocadas sob auto-isolamento obrigatório ou “voluntário” e vilas e cidades inteiras estão experimentando a dura realidade da vida em quarentena - a ponto de algumas particularmente na Europa, invocaram comparação com a grande praga dos anos 1300, que destruiu de trinta a sessenta por cento da população do continente.
As chances são, no entanto, de que, devido aos avanços da tecnologia médica, as perspectivas de uma vacina, esforços preventivos como quarentena e “auto-isolamento” e assim por diante, as previsões sombrias, como a refletida em um novo estudo de Harvard, não sejam realizada e essa pandemia não exigirá milhões de vidas, como temido por esses estudos. 
Com muita incerteza em torno do trem aparentemente descontrolado do COVID-19, resta saber o que o futuro nos reserva nos próximos dois meses cruciais. Mas, se a China tem alguma pista, seu aparente sucesso no combate à epidemia, promovido pelo líder do país, a pandemia tem uma chance decente de ser contida mais cedo ou mais tarde, principalmente se a vacina for produzida; em relação a este último, as estimativas variam de vários meses a um ano e meio.   
Enquanto isso, é instrutivo colocar em prática as ideias do filósofo francês Michel Foucault, examinando a política global do COVID-19 de uma perspectiva foucaultiana. Como é sabido, Foucault estudou os efeitos da grande praga em termos de controle populacional, centralização do poder, desindividualização dos cidadãos e sua nova compartimentação ‘científica’, resultando em certos efeitos colaterais com relação ao controle penitenciário “panopticista” e , com ele, um novo modo de vigilância refletindo uma nova modalidade de operacionalização do poder.
Em seu ensaio sobre “Panopticismo”, Foucault escreveu que “a praga é atendida por ordem”. Da mesma forma, podemos dizer que a pandemia de coroa está criando uma “nova ordem”. 
Quais são as principais características dessa “nova ordem”? Nesta fase, estamos muito próximos do drama que se desenrola para tirar conclusões firmes, mas talvez as seguintes conclusões provisórias preencham a resposta.
Primeiro, embora existam grandes disparidades em termos de estratégias nacionais para combater o COVID-19, no geral, a ênfase colocada na liberdade de movimento por novas restrições de viagens, fronteiras fechadas, cidades e cidades bloqueadas, e outras, revela um exponencial crescimento do controle do governo sobre vidas privadas, refletido em ordens cada vez mais draconianas por parte dos governos nos níveis nacional e local declarando estados de emergência - que evitam os canais legais normais para a tomada de decisões e são inerentemente antidemocráticos, independentemente de sua racionalização médica. 
Portanto, a curva autoritária na política global está em alta como resultado da covid-19, enquanto a curva da democracia está em declínio, de um modo geral.
Segundo, países como o Irã, que inicialmente optaram por um método consultivo e/ou persuasivo, em vez da abordagem draconiana (ao estilo da China), não obtiveram sucesso em combater a doença expansiva, fazendo os ajustes que mostram uma maior centralização na tomada de decisões, por exemplo, com a escolha do presidente supremo, Rouhani, de liderar o esforço nacional. Tais variações nas táticas e estratégias antivírus empalidecem, no entanto, em comparação com a crescente faixa autoritária na luta global contra a pandemia. 
Terceiro, de uma perspectiva foucaultiana, o contexto do coronavírus é até certo ponto contraditório, pois em alguns casos, como os EUA, levou a uma maior autonomia local, uma vez que os governadores locais em vários estados subnacionais exercem um papel proeminente na elaboração da resposta no nível estadual, comparado ao governo federal, que tem sofrido críticas públicas por sua resposta subótima. 
Um novo federalismo, com uma tomada de decisão aprimorada do poder local, é paralelo ao efeito colateral “anti-globalização” da pandemia, que provavelmente enfraquecerá os laços da “interdependência complexa” nos próximos meses e anos. 
A complementação do mantra de Trump de “América em primeiro lugar”, o impacto do vírus em termos de priorizar estratégias nacionais e subnacionais em vez de uma maior cooperação global e até regional, provavelmente pôs em movimento uma nova dinâmica que será difícil, se não impossível, reverter. 
Com relação aos EUA, que tem sido cauteloso com a “ascensão da China”, o vírus foi inicialmente visto como um meio útil para minar o poder assertivo da China e enfraquecer seu poder de barganha em relação à hegemonia dos EUA. Mas agora que a China está controlando a doença e os EUA estão começando a suportar as crescentes cicatrizes do vírus em sua poderosa economia, a mesa está começando a mudar e depende muito do escopo e duração da epidemia nos EUA, ou seja, uma grande fuga assustará os EUA provavelmente mais do que a China, reequilibrando a distribuição global de energia. 
Coincidindo com uma nova crise dos preços do petróleo após a recente reunião fracassada da OPEP, esta epidemia nos EUA está criando uma ‘tempestade perfeita’ que pode muito bem afastar o setor de petróleo de xisto dos EUA e, assim, transformar os EUA em importadores de petróleo novamente. Caso isso aconteça, o interesse dos EUA no petróleo do Oriente Médio aumentará novamente, impactando os cálculos do Pentágono.
Novamente, do ponto de vista foucaultiano, isso pode ser analisado em termos do poder disciplinar dos EUA hegemônicos em relação a “desafiadores” como o Irã e a China, um poder que depende fortemente do instrumento de sanções. Mas, novamente, como inferido acima, existe uma “armadilha de pandemia” que opera nos dois lados da ilha, por assim dizer, exigindo, por sua vez, uma grande habilidade política em nível nacional para fazer os ajustes necessários em um estado fluido mudando constantemente seu repertório de táticas e estratégias. Aqueles que escapam com sucesso dessa armadilha são os eventuais vencedores e, vice-versa, aqueles que falham inevitavelmente enfrentam as terríveis consequências da marginalização e do controle externo. 
Por Kaveh L. Afrasiabi


sábado, 21 de março de 2020

494 - O Papa Francisco sobre a pandemia: diante de Deus todos nós somos filhos, sairemos dela juntos,




Com penitência, compaixão e esperança. E humildade, porque muitas vezes esquecemos que na vida existem “áreas escuras”, os momentos escuros. Pensamos que eles só podem ocorrer a outras pessoas. Em vez disso, desta vez está escuro para todos, ninguém excluído. É marcado pela dor e pelas sombras que entraram na nossa casa. É uma situação diferente daquelas que vivemos. Também porque ninguém se pode dar ao luxo de estar tranquilo, todos partilham estes dias difíceis.
 Não podemos fazer distinções "entre crentes e não-crentes". Somos todos humanos e, como homens, estamos todos no mesmo barco. E nenhuma coisa humana deve ser estranha para um cristão. Aqui choramos porque sofremos. Todos nós. Há em comum a humanidade e o sofrimento. Ajuda-nos a sinergia, a colaboração mútua, o senso de responsabilidade e o espírito de sacrifício que é gerado em tantos lugares. Não devemos fazer diferença entre crentes e não-crentes, vamos à raiz: a humanidade. Diante de Deus somos todos filhos.

Francisco falou então da solidão daqueles que morrem sem o conforto de seus familiares:
“Nestes dias, contaram-me uma história que me tocou e me entristeceu, também porque representa o que está ocorrendo nos hospitais. Uma senhora idosa compreendeu que estava morrendo e queria despedir-se dos seus entes queridos: a enfermeira pegou o celular e fez uma videochamada para a neta, assim a senhora idosa viu o rosto da neta e pôde partir com este consolo. É necessidade última ter uma mão que segura a sua mão, necessidade de um gesto final de companhia. E muitas enfermeiras e enfermeiros acompanham este desejo extremo com os ouvidos, escutando a dor da solidão, segurando a mão. A dor daqueles que partiram sem se despedir torna-se uma ferida no coração daqueles que ficaram. Agradeço a todos estes enfermeiros e enfermeiras, médicos e voluntários que, apesar do cansaço extraordinário, se inclinam com paciência e bondade de coração, para suprir a ausência obrigada dos familiares”.
Falando das consequências para o nosso futuro, o Papa disse que o que está acontecendo servirá para “lembrar aos homens de uma vez por todas que a humanidade é uma única comunidade”. E como é importante, decisiva, a fraternidade universal. Devemos pensar que será um pouco, um pós-guerra. Não haverá mais “o outro”, mas seremos “nós”. Porque nós só podemos sair desta situação juntos. Devemos olhar ainda mais para as raízes: os avós, os idosos. Construir uma verdadeira fraternidade entre nós. Recordar esta experiência difícil que todos nós vivemos juntos. E seguir em frente com esperança, que nunca decepciona. Estas serão as palavras-chave para recomeçar: raízes, memória, fraternidade e esperança”.

Fonte: vaticannews.va/pt/papa/news/2020-03/o-papa-sobre-a-pandemia-diante-de-deus-todos-somos-filhos.html

493 - Coronavírus mata dezenas de padres no norte da Itália.




Eles morrem como seus fiéis, sem missa ou ritual fúnebre. O coronavírus está vitimando muitos padres na região norte da Itália: uma dezena em Bérgamo, cinco em Parma, outros em Milão e em Cremona.
As mortes são tão numerosas que “o censo é difícil de estabelecer”, indicou a publicação.
O jornal L’Eco di Bergamo publicou ao menos 160 anúncios de morte em sua edição de 15 de março, cinco vezes a mais na comparação com um dia normal.
A publicação registrou cinco mortes de padres da diocese de Parma, duas em Milão e Cremona, uma em Brescia, sem contar os muitos sacerdotes infectados, alguns internados em unidades de terapia intensiva.
Ao lado de médicos e enfermeiras, os padres prestam auxílio espiritual aos enfermos, uma missão necessária nesta região da Itália particularmente religiosa.
A cidade da Lombardia, de 120.000 habitantes, no coração da província, é uma das mais afetadas pela pandemia da doença infectou mais de 41.000 pessoas na Itália.
Os necrotérios não têm espaço para acomodar os caixões e os enviam para o cemitério.
“Não sabemos mais onde colocar os mortos. Utilizamos algumas igrejas. Tudo isso diz respeito aos sentimentos mais profundos” afirmou o arcebispo de Bérgamo, monsenhor Francesco Beschi, entrevistado pelo Vatican News.
A rádio da Conferência Episcopal Italiana (Cei), InBlu, explicou que devido às medidas para evitar a propagação do coronavírus, os padres devem evitar a extrema-unção, o óleo sagrado usado para untar os enfermos próximos da morte.
“Um padre que perdeu o pai me ligou. Ele está em quarentena, a mãe está em quarentena sozinha em outra casa, seus irmãos estão em quarentena e os funerais estão proibidos. Será enterrado no cemitério sem que ninguém possa participar de um momento de piedade humana e cristã”, contou o arcebispo Beschi.
Como todas as outras vítimas do novo coronavírus, os padres falecidos estão sendo sepultados sem o rito fúnebre.
“É uma dor ver os padres ficando doentes, às vezes por dever pastoral, e passando pela porta da triagem (dos pacientes) onde, naturalmente, ninguém pode entrar. Depois, alternando esperanças e recaídas, nos deixam para sempre”, afirmou o bispo de Parma, Enrico Solmi, ao jornal Avvenire.
Comovido com a situação difícil de Bérgamo, o papa Francisco ligou na quarta-feira para o arcebispo Beschi para expressar “apoio aos padres, aos enfermos, aos que cuidam dos pacientes e a toda nossa comunidade”, disse.
“Estava muito impressionado com o sofrimento que padecem, pela morte solitária, sem a companhia das famílias, tão dolorosa”, acrescentou Beschi em um comunicado.
Francisco considera que “as medidas draconianas nem sempre são boas” e pediu aos bispos e padres que não deixem os fiéis sozinhos ante o coronavírus.
A declaração foi percebida como uma crítica indireta às restrições drásticas impostas pela Itália para conter a propagação do vírus e que incluem a proibição de viagens e de visitas, como a dos padres que diariamente se encontravam com idosos isolados.

https://istoe.com.br/coronavirus-mata-dezenas-de-padres-no-norte-da-italia/


David Rubens de Souza

492 - Itália: Já morreram mais padres do que médicos, vítimas do coronavírus.





Eles vêm para abençoar aqueles que mais sofrem com o novo coronavírus. E então, cada vez mais, os padres da Itália morrem.
A diocese de Bergamo, nordeste de Milão, parece ter sido a mais devastada pelo “assassino furtivo”, coronavírus. Vários padres já morreram de COVID-19, informou o jornal católico Avvenire na quinta-feira.
As mortes, sejam de padres ou de membros de suas comunidades, são “tão numerosas que é difícil contar”, escreveu o jornal.
Como os médicos, os padres da Itália entram em contato com os casos mais graves da doença.
E, como médicos, sabe-se que os padres se reúnem em locais próximos, criando as condições perfeitas para o contágio. Pelo menos 18 padres morreram essa semana.
“Vestindo uma máscara, um boné, luvas, uma túnica e óculos de proteção, os padres andam pelos corredores como zumbis”, disse o padre Claudio del Monte à agência de notícias italiana Adnkronos.
Del Monte tem uma paróquia em Bergamo, uma cidade murada e montanhosa de 120.000 habitantes, com torres quadradas e telhados inclinados de terracota, familiares aos turistas de muitas cidades italianas.
Sua província é agora a mais afetada da Itália. Com 4.634 infecções na sexta-feira, a província acumulou 11% de todos os casos da Itália.
A sua população é responsável por 0,2% do total da Itália.
Bergamo tem tantos mortos, que camiões do exército tiveram que entregar suprimentos de caixões de madeira recém-fabricados na quinta-feira e as casas mortuárias não conseguem dar conta de todos os corpos.



David Rubens de Souza

sexta-feira, 20 de março de 2020

491 - A grande esperança: Textos escolhidos sobre escatologia. Joseph Ratzinger; Rudy Albino de Assunção.



“A escatologia [...] é uma afirmação de fé. Baseada na confissão da ressurreição de Jesus Cristo, ela anuncia a ressurreição dos mortos, a vida eterna, e o Reino de Deus”. Portanto, crer n'Ele é confiar que o destino último do homem não é o nada, o seu aniquilamento, mas o Paraíso, a relação dialogal que nunca acabará com o Amor e a Verdade que são Deus mesmo. Isto é o que nos lembra Joseph Ratzinger nestas páginas: “ser cristão é Esperança”. Assim, neste livro está expressa uma confiança viva e grandiosa nas promessas do Senhor, que nos consola neste tempo em que pequenas esperanças e transitórias utopias já não bastam.



Joseph Aloisius Ratzinger (1927), Papa Emérito Bento XVI, foi papa e bispo de Roma de 19 de abril de 2005 a 28 de fevereiro de 2013, quando oficializou sua abdicação. Lecionou em Bonn (1959 - 1963); em Münster (1963 - 1966) e em Tubinga (1966 - 1969) onde foi colega de Hans Küng. A partir de 1969, passou a ser catedrático de dogmática e história do dogma na Universidade de Ratisbona, onde chegou a ser Vice-Reitor. Participou do Concílio Vaticano II (1962 – 1965). Fundou em 1972, junto com os teólogos Hans Urs von Balthasar (1905-1988) e Henri De Lubac (1896-1992), a revista Communio.

Rudy Albino de Assunção: Bacharel em Fillosofia (UNIFEBE, 2005), Mestre (2010) e Doutor (2016) em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina. Fez seu Estágio de Doutorado Sandwich na Universidade de Navarra (Espanha, jan.-jun. 2014). Pós-Doutorando em Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. É professor e coordenador dos Cursos de Filosofia e Teologia no Centro Universitário Católica de Quixadá (UNICATÓLICA, Ceará). Organizou diversas obras de J. Ratzinger-Bento XVI, dentre elas os quatro tomos de “Um caminho de fé antigo e sempre novo. Pregações litúrgicas” (Molokai, 2017).

quinta-feira, 19 de março de 2020

490 - Textos de Qumran. Florentino García Martínez.





Melhor livro sobre os Manuscritos de Qumran disponível no Brasil. Tradução dos textos descobertos.

Os Manuscritos do Mar Morto foram um dos maiores achados arqueológicos do séc. XX. A tradução dos textos, sob a responsabilidade de Garcia Martinez, quer ser antes de tudo fiel, sem buscar outros efeitos que o de oferecer uma base confiável para o conhecimento e estudo científico dos textos não-bíblicos do Mar Morto.
p. 584.






Florentino García Martínez (nasceu em 1942, Madri) é um ex-padre católico, agora casado e por muitos anos professor de religião e teologia na Universidade de Groningen, na Holanda. Ele é um dos principais especialistas do mundo em Manuscritos do Mar Morto.











489 - Qumran e Jesus. Klaus Berger.





O autor, profundo conhecedor do antigo judaísmo e especialista em teologia bíblica do Novo Testamento, revela condições ideias e conhecimentos adequados para tratar do Manuscritos do Qumran.
O autor apresenta como ponto de partida os últimos textos descobertos, revelando os detalhes da vida na cidade junto ao Mar Morto. Ele demonstra as relações entre os documentos de Qumran e o cristianismo primitivo.








Klaus Berger, professor de Novo Testamento na Universidade de Heidelberg, Alemanha.

488 - Mistérios gnósticos - as novas descobertas. Marvin W. Meyer.






O achado arqueológico do século XX foi a impressionante descoberta, em dezembro de 1945, de um grande vaso cheio de antigos manuscritos em papiro. Meticulosamente restaurados e traduzidos, esses fragmentos vieram a ser conhecidos em conjunto com a biblioteca de Nag Hammadi. Por meio deles, vislumbramos uma emocionante perspectiva alternativa sobre Jesus e muitos dos seus primeiros seguidores, incluindo a influência do gnosticismo sobre as suas crenças. Marvin Meyer, um dos principais tradutorese pesquisadores especializados no assunto, discorre em detalhes sobre a importância e a influência continuada dessas opiniões alternativas do Cristianismo reprimidas pela Igreja primitiva. ‘Mistérios Gnósticos: As Novas Descobertas’ é um importante guia disponível da história e significação das descobertas de Nag Hammandi - um vínculo sensacional da arqueologia moderna com os fundamentos da maior religião do mundo.


Marvin W. Meyer (1948-2012) foi um estudioso da religião e professor titular na Chapman University, em Orange, Califórnia. Foi diretor do Instituto Albert Schweitzer.













Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.