quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

14 - Teologia Liberal: Uma aproximação





Teologia Liberal: Uma aproximação

por

David Rubens




     O termo Teologia Liberal, tencionava indicar um livre método de investigação histórico-crítico das fontes da fé e da teologia, que não se sentisse vinculado aos dados posteriores da tradição dogmática. A Teologia Liberal nasceu da burguesia européia do século XIX com a Teologia Protestante. Tem seus antecedentes históricos na Filosofia da Religião de Hegel e na Teologia de Schleiermacher. Não é uma escola bem definida, se podem distinguir diferentes linhas de pensamentos. É chamada de Teologia Liberal a interpretação racionalista do Novo Testamento (Baur, Strauss) da primeira metade do século XIX. É designada como liberal a reflexão do teólogo de Göttinger, Albrecht Ritschl, e de sua escola, que incluía teólogos sistemáticos como Hermann, estudiosos do Antigo Testamento como Welhausen, do Novo Testamento como Jülicher, historiadores como Harnack e filósofos da religião como Troeltsch.

Suas características eram:


A) Leitura predominantemente ética do cristianismo;
B) Assunção rigorosa do método histórico-crítico e de seus resultados;
C) Relativização da tradição dogmática da Igreja, e particularmente da cristologia.
Os documentos mais significativos da Teologia Liberal são: A Essência do Cristianismo de Harnack e a Absolutidade do Cristianismo de Troeltsch.

Conclusão:
Por Teologia Liberal entende-se toda tentativa teológica que, em nome do método histórico-crítico e de seus resultados, exige uma revisão dogmática ou uma relativização da cristologia.





Georg Wilhelm Friedrich Hegel

(Estugarda, 27 de agosto de 1770Berlim, 14 de novembro de 1831) foi um filósofo alemão. Recebeu sua formação no Tübinger Stift (seminário da Igreja Protestante em Württemberg). Era fascinado pelas obras de Spinoza, Kant e Rousseau, assim como pela Revolução Francesa. Muitos consideram que Hegel representa o ápice do idealismo alemão do século XIX, que teve impacto profundo no materialismo histórico de Karl Marx.




Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher (Breslau21 de novembro de 1768 — Berlim12 de fevereiro de 1834) foi pregador em Berlim na Igreja da Trindade, deu aula de Filosofia e Teologia em Halle an der Saale. Traduziu as obras de Platão para o alemão. Foi influenciado por Kant e Fichte, mas não se tornou um idealista subjetivo. Foi corresponsável pela aparição da teologia liberal, negando a historicidade dos milagres e a autoridade literal das Escrituras. Schleiermacher tentou tornar a fé cristã palatável aos que foram educados e influenciados pelo pensadores iluministas.




Ferdinand Christian Baur
(21 de junho de 1792 - 2 de dezembro de 1860) foi um teólogo alemão e líder da escola de teologia de Tübingen. Seguindo Hegel na teoria da dialética, Baur argumentou que no segundo século o cristianismo representou a síntese de duas teses opostas: o cristianismo
judaico e cristianismo paulino.








David Friedrich Strauss

(Ludwigsburg, Alemanha, 27 de Janeiro de 1808 - 8 de Fevereiro de 1874) foi um teólogo e exegeta alemão. Em Setembro de 1825 iniciou os seus estudos de teologia no seminário protestante de Tübingen, sendo depois professor no seminário de Maulbroon. Discípulo de Hegel, tornou-se muito conhecido após a publicação, em 1835, da obra Vida de Jesus, que causou escândalo nos meios religiosos da Alemanha. Para Strauss, o sucesso do cristianismo explicava-se por um "mito de Jesus", que teria sido forjado pela mentalidade judaica dos tempos apostólicos, e que não poderia ser sustentada pela ciência moderna - perspectiva depois adaptada por Ernest Renan na sua Vida de Jesus.




Albrecht Ritschl
(25 de março de 1822 - 20 de março de 1889) foi um teólogo alemão. Segundo Ritschl, a fé era entendido como sendo irredutível a outras experiências, fora do âmbito da razão. A fé, disse ele, não veio de fatos, mas a partir de juízos de valor. "Divindade de Jesus, ele argumentou, foi melhor entendida como a expressão do “valor-revelacional” de Cristo para a comunidade que confia nele como Deus.








Johann Wilhelm Herrmann
(1846-1922) era um teólogo reformado alemão. Hermann ensinou em Halle e depois foi professor em Marburg . Influenciado por Kant e Ritschl, via Deus como o poder da bondade. Jesus era visto como um homem exemplar. Mesmo que Jesus nunca existiu, de acordo com Herrmann, seu retrato tradicional ainda era válido. Seu livro A Comunhão do Deus cristão era visto como um dos destaques do século XIX.





Julius Wellhausen
(17 de maio de 1844 - 7 de janeiro de 1918) foi um estudioso da Bíblia e um orientalista alemão. Nasceu em Hameln, Weser (Westphalia). Tornou-se conhecido especialmente por sua atuação na análise do Antigo Testamento e pelo desenvolvimento da Alta crítica e da hipótese documental. É um dos grandes nomes da teologia liberal.









Jülicher Adolf
(1857-1938) foi um estudioso e exegeta alemão. Foi professor de História da Igreja e Exegese do Novo Testamento, na Universidade de Marburg. Teorizava que Jesus não afirmou ser o Messias , mas que a igreja primitiva tinha reivindicado que era. Segundo esta teoria, o autor do evangelho de Marcos tinha inventado a idéia de "segredo messiânico", segundo a qual Jesus tentou esconder sua identidade, e só revelou a alguns de seus discípulos.





Adolf von Harnack
(Dorpat, Estónia, 7 de maio de 1851Heidelberg, 10 de junho de 1930) foi um teólogo alemão, além de historiador do cristianismo. Suas duas obras mais conhecidas são o Lehrbuch der Dogmengeschichte ("Manual de história do dogma", em três volumes) e a série de palestras Das Wesen des Christentums ("A essência do cristianismo"), texto clássico da teologia liberal.








Ernst Troeltsch
(Haunstetten, hoje bairro de Augsburgo, 17 de Fevereiro de 1865Berlim, 1 de Fevereiro de 1923) foi um teológo alemão que ao lado de Max Weber elaborou alguns conceitos relacionados à religião. Na obra The Social Teaching of the Cristinan Churches, Troeltsch, visando analisar a organização religiosa dentro dos parâmetros burocráticos, fez a distinção de igreja e seita. A primeira significa um organismo religioso grande e bem-estabelecida, exemplo típico é a Igreja Católica. A segunda refere-se a um agrupamento menor de fiéis, geralmente iniciado em protesto aos rumos tomados por uma determinada igreja, os calvinistas podem ser apontados como representantes de uma seita.


Estilo de Normalizar Citação De Acordo com as Normas da ABNT para Trabalhos Acadêmicos.
RUBENS, David. Teologia Liberal: Uma aproximação. http://biblicoteologico.blogspot.com.br/. Acesso em: _____________.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

13 - Ressurreição de Jesus: RUDOLF BULTMANN, KARL BARTH, WOLFHART PANNENBERG

Resumo:

A ressurreição é uma das áreas mais amplamente discutidas da teologia cristã moderna. Isso reflete o fato de que a questão importante da relação entre fé e a História se concentrar, com freqüência, no tema da ressurreição de cristo. A seguir, apresentaremos um esboço das principais posições que se desenvolveram durante o período moderno numa tentativa de avaliar sua relevância.






RUDOLF BULTMANN: A RESSURREIÇÃO COMO UM ACONTECIMENTO NA EXPERIÊNCIA DOS DISCÍPULOS

Bultmann conserva a convicção de que nesta era científica é impossível crer em milagres. Em decorrência disso, a crença na ressurreição objetiva de Jesus não é mais possível; contudo, pode se mostrar possível entendê-la de outra maneira. De acordo com Bultmann, a história é “um continuo fechado de efeitos no qual acontecimentos individuais são ligados pela sucessão de causa e efeito”. A ressurreição, como outros milagres, interromperia, portanto, o sistema fechado da natureza.
A crença ma ressurreição de Jesus, ainda que perfeitamente legítima e compreensível no primeiro século, não pode ser levada a sério nos dias de hoje. “É impossível usar luz elétrica e equipamentos de rádio e, num caso de enfermidade, buscar ajuda da medicina moderna e das descobertas clínicas e, ao mesmo tempo, crer no mundo de espíritos e milagres do Novo Testamento.” A compreensão humana do mundo e da existência humana mudou radicalmente desde o primeiro século; em decorrência disso, para a humanidade moderna, a cosmovisão mitológica do Novo Testamento é incompreensível e inaceitável. A cosmovisão de uma pessoa é formada de acordo com a era em que vive e não pode ser alterada.
A ressurreição é algo que aconteceu na experiência subjetiva dos discípulos, e não algo que ocorreu no âmbito público da História. Para Bultmann, Jesus foi, de fato, ressurreto - foi ressurreto na forma de Kerigma. A pregação de Jesus foi transformada numa proclamação cristã de Cristo. Jesus se tornou um elemento da pregação cristã; foi ressurreto e assimilado na proclamação do evangelho.





KARL BARTH: A RESSURREIÇÃO COMO ACONTECIMENTO HISTÓRICO ALÉM DA INVESTIGAÇÃO CRÍTICA.

Em seus primeiros escritos, Barth argumentou que o túmulo vazio era de importância mínima para a ressurreição. No entanto, se espantou cada vez mais com a abordagem existencial de Bultmann que parecia sugerir que a ressurreição não tinha nenhuma base histórica objetiva. Por esse motivo, Barth passou a enfatizar com veemência os relatos dos evangelhos acerca do túmulo vazio. O túmulo vazio é “um sinal indispensável” que “evita todos os possíveis mal-entendidos”. Demonstra que a ressurreição de Cristo não foi um acontecimento puramente íntimo, interno ou subjetivo, mas algo que deixou uma marca na História.
Isso parece sugerir que Barth considera a ressurreição um acontecimento aberto a investigação histórica, a fim de esclarecer sua natureza e confirmar seu lugar na história geral do mundo, e não uma experiência interna particular dos primeiros cristãos. Entretanto, não é o caso. Ele recusa firmemente permitir que as narrativas dos evangelhos sejam submetidas ao escrutínio histórico-crítico.
Barth enfatiza que Paulo e os outros apóstolos não estão pedindo a “aceitação de um relato histórico perfeitamente atestado”, mas sim “uma decisão de fé”.
A investigação histórica não pode legitimar ou prover segurança para essa fé; assim como a fé não pode se tornar dependente dos resultados provisórios da investigação histórica. A fé é uma resposta ao Cristo ressurreto, e não ao túmulo vazio. O túmulo vazio não tem nenhum valor na fundamentação da fé no Cristo ressurreto.






WOLFHART PANNENBERG: A RESSURREIÇÃO COMO UM ACONTECIMENTO HISTÓRICO ABERTO À INVESTIGAÇÃO CRÍTICA


Para Pannenberg a História, em sua totalidade, só pode ser entendida quando é vista de seu ponto final. O fim da História, que ainda não ocorreu, foi revelado de antemão na pessoa e obra de Cristo.
Enquanto Rudolf Bultmann escolheu demitologizar os elementos apocalípticos do Novo Testamento, Pannenberg os considera a grade ou estrutura hermenêutica pela qual a vida, morte e ressurreição de Cristo podem ser interpretadas.
Pannenberg insiste na ressurreição de Jesus como um acontecimento histórico objetivo, testemunhado por todos que tiveram acesso às evidências. Enquanto Bultmann tratou a ressurreição como um acontecimento dentro do mundo experimental dos discípulos, Pannenberg declara que ele pertence ao mundo da história pública universal.
Pannenberg, historiador extremamente competente, diz que se o historiador se propõe a investigar o NT convicto de que “pessoas mortas não ressuscitam”, essa conclusão será apenas projetada no conteúdo neotestamentário. A avaliação “Jesus não ressuscitou dentre os mortos” será a pressuposição, e não a conclusão dessa investigação. Pannenberg pede uma abordagem neutra à ressurreição. As evidencias históricas que apontam para a ressurreição de Jesus devem ser investigadas sem nenhuma pressuposição dogmática de que essa ressurreição não poderia ter acontecido. Pannenberg afirma que a ressurreição de Jesus prenuncia a ressurreição geral do fim dos tempos e traz para a História tanto essa ressurreição quanto a revelação plena e final de Deus. A ressurreição estabelece a identidade de Jesus com Deus, permitindo que essa identidade com Deus seja vista em seu ministério pré-páscoa. Serve, por isso, de base para uma série de declarações cristológicas, incluindo a divindade de Cristo e sua encarnação.




Recensões:

SERAFIN, Béjar. Dios en Jesús: ensayo de cristología. Madrid: San pablo, 2008.

Este livro reflete sobre a cristologia conjunta do binômio Deus e Jesus, comparando as diferentes visões que temos de Deus com o retrato que emerge de olhar para o Filho do Pai. O verdadeiro rosto de Deus pode ser conhecido em Jesus de Nazaré, enquanto a profunda consciência do presente século judeu esgotado apenas se relacionar com Deus, que viveu e que serviu ao longo da existência terrena. Deus em Jesus e Jesus em Deus é o ponto de vista formal que ajuda o leitor ao longo dos vários capítulos, para evangelizar as suas imagens de Deus, conscientes de que a comunidade cristã deve ser definida de forma permanente a uma alternativa: para servir o Deus vivo adivinhado o verdadeiro rosto de Jesus, ou usar um Deus feito à imagem dos nossos desejos e projetos, um Deus humano, demasiado humano.

Serafin Bejar é formado na Pontifícia Universidade Gregoriana. É professor de Cristologia e Antropologia Teológica História Contemporânea na Faculdade de Teologia de Granada. É o autor de um estudo sobre a teologia de Bruno Forte e o Cardedal Gonzalez, bem como inúmeros artigos sobre pós-modernismo.







BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Teológica, 2004.
BARTH, Karl. Esboço de uma Dogmática. São Paulo: Fonte Editorial, 2006.
DUMAS, André; BOSC, Jean; CARREZ, Maurice. Novas Fronteiras da Teologia. São Paulo: Duas Cidades, 1969.
PANNENBERG, Wolfhart. Teologia Sistemática, Vl 1. São Paulo: Academia Cristã; Paulus, 2009.
PANNENBERG, Wolfhart. Pergunta sobre Deus, A. São Paulo: Fonte Editorial, 2002.
POLMAN, A. D. R. Barth: Pensadores Modernos. Recife: Cruzada de Literatura Evangélica do Brasil, 1969.

Estilo de Normalizar Citação De Acordo com as Normas da ABNT para Trabalhos Acadêmicos.
RUBENS, David. Ressurreição de Jesus: RUDOLF BULTMANN, KARL BARTH, WOLFHART PANNENBERG. http://biblicoteologico.blogspot.com.br/. Acesso em: _____________.



Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.