terça-feira, 25 de abril de 2017

383 - O Imaginário do Além-Mundo na Apocalíptica e na Literatura Visionária Medieval. Paulo Augusto de Souza Nogueira.


Resumo

Esse livro está organizado em três partes. A primeira, intitulada narrativas e enredos apocalípticos sobre o além-mundo e o além-morte, nos oferece um marco histórico-religioso em que essas ideias do imaginário cristão sobre o além-mundo se formaram. Ainda que muitas sociedades na Antiguidade tenham narrativas sofisticadas sobre o além-mundo, buscamos mostrar suas origens e estrutura na literatura bíblica, desde os textos da Bíblia Hebraica, até a apocalíptica judaica e os Manuscritos do Mar Morto. Também apresentamos o desenvolvimento do tema nos primeiros escritos do Cristianismo Primitivo. O fato dessa sessão se iniciar com um capítulo sobre o Apocalipse de Paulo, uma fonte relativamente tardia em relação aos textos bíblicos, pretende sugerir que ele representa um primeiro estágio em que a narrativa sobre o mundo do além está formada: ele representa o elo entre a tradição bíblica, apócrifa e os relatos visionários medievais sobre o além-mundo. Ele ajudará a perceber como os distintos textos e tradições analisados colaborarão em sua formação, mas, além disso, também permitirá ver como as tradições antigas foram integradas nessa nova narrativa pelo leitor da antiguidade tardia. Na segunda parte do livro, intitulada Visionários e visões medievais do além-mundo, apresentamos capítulos que exploram os textos dos visionários medievais e suas descrições do mundo do além. Nossa perspectiva é explorar esse estrato intermediário da sociedade medieval, suas práticas religiosas, seu universo de crenças por meio de sua mitologia, que cremos estar representada nesses relatos. Veremos como elementos de um cristianismo oral, e depois letrado sem ser erudito, são assimilados em diferentes culturas europeias, promovendo recepção e transformação criativa dos elementos bíblicos antigos. Por fim, na terceira parte do livro, Apropriações e recriações do além-mundo na literatura, oferecemos ao leitor pontes como o nosso mundo por meio da análise de como essa estrutura mítica sobrevive na literatura. Seja na literatura alegórica cristã, seja na literatura Latino-Americana, os temas e enredos dos relatos sobre o além-mundo se mostram quadros apropriados para falar sobre o presente, sobre as tensões sociais, e nos permite compreender como o mundo dos mortos lança luz sobre o mundo dos vivos em todas as suas tensões e ambiguidades.
fonte: Fapesp

p. 407

Fapesp / Editora Umesp

domingo, 23 de abril de 2017

382 - Lançamento Teologia 2017. De Jesus ao cristianismo. Mauro Pesce


De que modo se pode realizar uma pesquisa histórica sobre Jesus? Esta obra procura responder a essa pergunta crucial, em confronto crítico com os estudos de J. Dupont, E. Käsemann, D. C. Allison e com a mais criteriosa pesquisa contemporânea. Daí os dois binários sobre os quais se articula o livro: de um lado, reconstruir a face histórica de Jesus de outro, identificar quais formas religiosas emergem depois dele nos diferentes grupos de seus seguidores. O problema, e o enfoque de interesse histórico, é a ligação entre a figura de Jesus e o nascimento do cristianismo como religião distinta do judaísmo.
É prioritária uma observação de método sobre como focar a questão Jesus/cristianismo: assumir essa ligação em sua continuidade é uma posição apologética, orientada a justificar uma fé. A visão distanciada do historiador, porém, precisa analisar todos os elementos disponíveis a fim de reconstruir o indivíduo Jesus e o seu papel antes de formular uma hipótese. Aqui, especificamente, enfrenta-se a transmissão de suas palavras e a sua judaicidade, ou seja, sua diferença em relação ao cristianismo primitivo. Destaca-se também a necessidade de uma pesquisa antropológica sobre Jesus: analisar o tipo de vida de um líder imerso no meio do povo. Entretanto, quando nos perguntamos como nasceu o cristianismo, é necessário levar em conta a sua pluralidade: de qual cristianismo se fala? Chega-se, então, ao delicado problema da relação entre pesquisa histórica e pressupostos da fé: como conciliar a autonomia do historiador e a tradição da Igreja?
Questões bastante atuais, porque atingem interiormente a profissão do historiador e a identidade da história do cristianismo. No entanto, se a investigação sobre Jesus consta de vários modelos de pesquisa - a historiografia divide em Old, New e Third Quest -, não pode ser considerada completa nem arquivada. Cada peça tem a função de fazer progredir o debate científico sobre aquela história e, em si, precisa tanto do passado - da exegese do século XVI até hoje - quanto de novas pistas futuras.

p. 280
Editora Loyola


quarta-feira, 19 de abril de 2017

380 - A Vida de Jesus Cristo: O Homem que mudou o Mundo Mauro Pesce, Corrado Augias .


   
Quem era o homem que mudou o mundo há dois mil anos lançando uma mensagem de esperança a todos os povos do mundo? No passado meio século a análise filológica e novas descobertas arqueológicas ampliaram a possibilidade de descobrir a verdadeira personalidade do homem chamado Jesus. Onde e quando nasceu? Nasceu de uma virgem? Tinha irmãos? Porque foi condenado? Ressuscitou? Pretendeu fundar uma religião? Estas e outras questões são analisadas numa entrevista feita por um jornalista a um biblista tendo por base os Evangelhos canónicos e apócrifos. O resultado é um trabalho sério, bem documentado, sem preconceitos teológicos e que pretende oferecer uma síntese das últimas investigações sobre a vida e a mensagem do Homem que mudou o mundo. Um verdadeiro sucesso em Itália, encabeçando durante semanas consecutivas as tabelas de vendas do jornal La Stampa, esta obra já conheceu 21 edições e alcançou as 650 mil cópias vendidas.


Mauro Pesce, biblista e historiador, é professor titular de História do cristianismo na Universidade de Bolonha.

Editorial Presença

p. 220

segunda-feira, 10 de abril de 2017

378 - Lançamento Teologia 2017. Jesus, Paulo e os evangelhos. James D. G. Dunn.


O livro nasceu das preleções de Dunn nos meses de abril e maio de 2009, na verdade Dunn afirma que as preleções surgiram graças ao Papa Bento XVI que decidiu celebrar o ano de 2008-2009 como Ano Bimilear de Paulo.
Dunn já é bastante conhecido no Brasil, a obra é muito bem escrita e com certeza será acolhida com entusiasmo pelos leitores interessados no assunto.
 Parabenizo a editora Vozes pela iniciativa.  

Sumário
I - O que são os Evangelhos?
II – De Jesus a Paulo
III – O Paulo bimilenar

p. 256
Vozes

2017

domingo, 2 de abril de 2017

377 - Livro O Deus Crucificado de Jürgen Moltmann com o Sangue do Padre Juan Ramón Moreno, 1989.



O que mais profundamente me vincula com teólogos da libertação latino-americanos é um acontecimento providencial surpreendente: no dia 16 de novembro de 1989, foram assassinados na universidade de San Salvador seis jesuítas e duas mulheres, para fazer calar a voz corajosa de Ignacio Ellacuría. O corpo do padre Juan Ramón Moreno foi arrastado pelos soldados para dentro do quarto de Jon Sobrino que não estava presente no local. No seu sangue, foi encontrado um livro caído. Tratava-se de O Deus Crucificado. Ele está agora exposto ali sob o vidro como interpretação simbólica do martírio dos irmãos e das irmãs. Em 1994, fiz minha peregrinação a esse local.



Lembro que os olhos de Moltmann encheram de lágrimas ao contar esta história.



sábado, 1 de abril de 2017

376 - A CENTRALIDADE DA MORTE DE CRISTO NA MENSAGEM DE PAULO. David Rubens de Souza



Introdução
A morte de Cristo,[1] frequentemente mencionada em conjunto com sua ressurreição, ocupa o centro da imagem paulina do evangelho. Paulo conhece, utiliza e desenvolve seu significado redentor por meio da fé. Ele estava familiarizado com o relato da morte de Cristo, lembra aos leitores a narrativa do sofrimento e da morte de Jesus; e desenvolve a importância da paixão de Cristo em contextos relacionados com todos os aspectos de sua mensagem apostólica, em especial sua soteriologia, sua cristologia, sua escatologia e sua ética. Paulo atribui um significado reparador ao sofrimento e à morte de Cristo.

1. A Cruz de Cristo na Mensagem de Paulo
Segundo Paulo, a cruz de Cristo era essencial para a reflexão, em especial como o meio pelo qual Deus planeja a salvação e como o instrumento para a construção da vida nova em Cristo.[2]
Cerca de 25 anos depois da crucifixão de Jesus, Paulo escreve a respeito do escândalo e da loucura significantes da cruz (1Cor 1.18.23: Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus).
Historicamente, a execução de Jesus em uma cruz incentivou o entendimento de sua morte como a de um criminoso comum, humilhado entre seu povo, na verdade, até amaldiçoado por Deus (Dt 21.22-23: Quando também em alguém houver pecado, digno do juízo de morte, e for morto, e o pendurares num madeiro. O seu cadáver não permanecerá no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto o pendurado é maldito de Deus; assim não contaminarás a tua terra, que o Senhor teu Deus te dá em herança). Como este Jesus também era o “Ungido” (Messias)? Apesar desse problema, Paulo assegura que entre os coríntios ele resolveu “nada saber a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado” (1Cor 2.2).
Como teólogo da cruz, Paulo desempenhou um papel essencial no estudo do significado do Cristo crucificado. É evidente que Paulo apropriou-se da tradição cristã preexistente a respeito da paixão de Jesus e que esses materiais tradicionais foram incorporados em sua correspondência (1Cor 11.23-25;[3] 15.3-5[4]).
Na perspectiva paulina, a fraqueza apostólica encontrava seu significado à luz do sofrimento de Cristo. Assim, depois de lembrar aos coríntios que, entre eles, procurou só apresentar Cristo, e Cristo crucificado, Paulo continua para chamar-lhes a atenção para seu modo de vida enquanto está com eles: “Estive diante de vós fraco, receoso e todo trêmulo” (1Cor 2,3;[5] Cl 1,24[6]). Outra inspiração para a constante tradução paulina do sentido da cruz era a vida dele próprio e da Igreja em Cristo, vida que não desconhecia a fraqueza, a oposição e o sofrimento.
A importância da cruz para Paulo baseia-se, portanto, em seu encontro com o Senhor ressuscitado e nas exigências de seu ministério apostólico.

2 A Cruz e a Mensagem de Paulo
Como a centralidade da cruz se manifesta para Paulo?[7] Em 1Coríntios 1.18, “a linguagem da cruz” é praticamente sinônimo de “Evangelho”; em 2Coríntios 5.19,[8] ele emprega similarmente “a palavras de reconciliação” em um contexto no qual apresenta o evento salvífico: “E ele morreu por todos, a fim de que os vivos não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles” (Fl 2.16: “palavra da vida”; At 13.26: “palavra de salvação”).
A leitura das cartas paulinas revelam duas expressões para o significado reparador da cruz:
Ø     A primeira apresenta a “entrega” de Jesus pela salvação da humanidade, como ato divino (Rm 4.25: “entregue por nossas faltas”; Rm 8.32: “que não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por nós todos”) ou como entrega de si mesmo (Gl 1.4: “que se entregou por nossos pecados”; G1 2.20: “se entregou por mim”).
Ø     A segunda expressão, a “fórmula de morrer”, representada em 1 Coríntios 15,3: “Cristo morreu por nossos pecados” (Rm 5.6,8;[9] 14,9; 1Cor 8.11; 2Cor 5.14,15; G12,21; lTs 5.10). A frase paulina “Cristo morreu por nós” é a confissão mais frequente e mais importante das epístolas paulinas.

3 A História de Jesus
O entendimento que Paulo tem do “caminho da cruz” não é diferente do que encontramos no Evangelho de Marcos. Por último, 1Timóteo 6.13 alude ao julgamento de Jesus diante de Pôncio Pilatos de uma forma que pressupõe ao menos um conhecimento rudimentar do relato da paixão. Nesses e em outros textos, reconhecemos que a teologia paulina tem uma qualidade narrativa, isto é, ele entende a experiência cristã dentro da atividade divina, que vai da criação do povo de Deus à parusia e, dentro dessa narrativa maior, como seu assunto principal, está a narrativa da crucifixão de Jesus. Embora Paulo não demonstre interesse nos detalhes históricos da paixão de Jesus como dados históricos, ele estava a par deles e se preocupava com a importância que tinham para a fé e a vida cristãs.

4 Vida na Morte e Ressurreição de Jesus
A referência paulina à tradição da Última Ceia está colocada a fim de atacar o problema de divisões em Corinto (1Cor 11.17-34; 1Cor 1.10-17); aqui, um lembrete da entrega sacrifical que Jesus fez de si mesmo é a base para a exortação paulina a uma vida modelada na paixão de Jesus, de orientação diaconal e com a forma da cruz.
Em Corinto, como em Colossas, Paulo reflete sobre o sentido do Cristo crucificado, em grande parte para contradizer ideias dos adversários.
O apóstolo propõe a escandalosa cruz de Cristo como o “poder de Deus” “para os que estão sendo salvos, para nós”.[10] A comunidade deve ser orientada em torno do Cristo crucificado (1Cor 1.18-31).
Para os colossenses, Paulo apresenta o Cristo reconciliou, na vida e morte de Jesus de carne e sangue: “aprouve a Deus, tudo reconciliar por meio dele e para ele, tendo estabelecido a paz pelo sangue de sua cruz” (Cl 1.19-20; 1.14; 2.13-14; 3.13). Desse modo, Paulo se opõe a um estilo de vida voltado para uma espiritualização como que gnóstica. Paulo afirma com ardor a importância do comportamento ético neste mundo material
Em Filipenses 2.6-11, Paulo escreve um hino a Cristo. A vida de Jesus como obediente Filho de Deus ocupa a posição central, e essa obediência é vista mais profundamente em sua disposição de aceitar a rejeição, o sofrimento humano e a morte de cruz. Dessa forma, Paulo afirma que a morte de Cristo é a expressão mais completa de sua vida e estabelece para nós o modelo de uma vida de amor e obediência. Dessa maneira e de muitas outras, Paulo mostra como o pensamento e a vida dos cristãos se baseiam no evento fundamental da cruz de Cristo.

5 Os Benefícios da Morte de Cristo
A Paulo se preocupa muito mais em explicar o significado da morte de Cristo que com suas circunstâncias históricas, ele comunica esse significado acima de tudo em termos de seus benefícios para a humanidade.[11]
Em Gálatas 3.10-14, Paulo expõe o caráter salvífico da cruz de Cristo. Gálatas 3.1-14, afirma que a experiência que os gálatas tinham de receber o Espírito pela fé significava o cumprimento da promessa divina de abençoar os gentios por intermédio de Abraão e que a morte de Cristo possibilitou esse cumprimento.[12]
Os benefícios da morte de Cristo são apresentados em 3,10-14 por meio de uma combinação de imagens: Cristo é o representante de Israel e em sua morte a Aliança chega ao auge; justificação (G1 3.11); redenção (Gl 3.13); a promessa do Espírito (Gl 3.14); e o triunfo sobre os poderes.
Em Efésios 2.14-15, onde a lei surge como barreira que separa o judeu e o gentio; ali a morte de Cristo destrói esse “muro de separação”.[13]
No entanto, em Gálatas a lei caracteriza-se mais como força deste mundo que escravizam o povo judeu (G1 4.1,3). Em um contexto específico, então, Paulo insiste que a morte de Cristo triunfou não contestando a lei, mas demonstrando sua validade e efetuando a bênção da Aliança.
A mensagem da cruz em 2Coríntios e Gálatas formula duas questões: o significado apocalíptico da cruz, “nova criação”. Em 2Coríntios 5.17 e Gálatas 6.15, esses textos precisam ser entendidos como símbolos do papel da morte de Jesus no término da época antiga e na apresentação da nova.
No entendimento paulino da cruz, vemos a inclusão dos fiéis gentios no “Israel de Deus” (G1 6.16). Para Paulo, os fiéis, graças a sua inclusão na obra salvífica de Cristo, participam dos benefícios da nova criação e, assim, em sua identidade como povo de Deus. Paulo reconhece: “Com Cristo eu sou um crucificado; vivo, mas não sou mais eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2.19-20).

6 A Morte de Cristo e o Propósito de Deus
Para Paulo, a questão do sentido da cruz é primeiro uma questão a respeito de Deus e só depois uma questão de salvação para o ser humano. Sua teologia da cruz origina-se de seu entendimento do propósito divino e de Deus como ator principal no drama da salvação. Embora afirme que Cristo “se entregou por nossos pecados, a fim de nos arrancar deste mundo mal”, ele em seguida afirma que Cristo fez isso “de acordo com a vontade de Deus, que é nosso Pai” (G1 1.4). Isto é, a entrega que Cristo fez de si mesmo significa sua identificação e sua solidariedade com o propósito salvífico de Deus.
Contudo, na posição central está a iniciativa de Deus (“Deus que em Cristo reconciliava o mundo consigo”, 2Cor 5.19; “Deus enviou o seu próprio Filho”, Rm 8.3).[14]
A justiça de Deus manifesta-se em sua intervenção para trazer a salvação para uma humanidade mergulhada no pecado. E manifesta-se precisamente na revelação de Deus na cruz como alguém que cumpre suas promessas, que não faz vista grossa ao pecado, mas pela obediência fiel e morte sacrifical de Jesus Cristo redime todos os que crêem, sejam eles judeus ou gentios e, assim, que não introduz um meio de salvação que anula a lei, mas que realmente a confirma (Rm 3.31).[15] Paulo afirma que a justiça de Deus se revela em Cristo, não apenas como descrição de Deus em seu papel de juiz, mas também e até mais como a atividade de Deus voltada para fazer alianças e mantê-las; na morte de Cristo, a justiça de Deus se revela no fato de Deus libertar as pessoas do pecado.

7 O amor de Deus. Segundo Romanos 5.6-8
A morte de Cristo é a expressão definitiva do ilimitado amor de Deus: “Mas nisto Deus prova o seu amor para conosco: Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores” (Rm 5.8). Essa afirmação segue de perto a alegação de que a experiência humana do amor divino garante que a tribulação leva a uma esperança que não decepciona (Rm 5,3-5). Aqui há algumas declarações decisivas:
Ø Primeiro, não é possível medir o amor de Deus pela humanidade; dificilmente alguém se disporia a morrer por um justo (Rm 5.7), mas Cristo morreu em prol dos “ímpios” (Rm 5.6), pelos “pecadores” (Rm 5.8), pelos “inimigos de Deus” (Rm 5.10).[16]
Ø Segundo, os leitores de Paulo podem estar seguros de que seu sofrimento tem significado, porque o sofrimento de Cristo comprovou ser significativo. Por sua morte, “estamos justificados”, “salvos da cólera de Deus”, “reconciliados com Deus” (Rm 5.9-11).

Conclusão
Segundo Paulo, a morte e ressurreição de Cristo marca o início de uma nova época que se estende até a volta de Cristo. Isso muda fundamentalmente a maneira como entendemos a vida no presente. Primeiro, a percepção de que a morte e ressurreição de Cristo instituiu uma nova época permite-nos imaginar a vida nova em contraste com modos velhos de vida e acolher o poder de Deus necessário para a vida nova. Além disso, considerar o presente à luz do passado motiva os fiéis a ser gratos pela libertação da escravidão ao pecado.
Finalmente, o reconhecimento deste novo tempo incentiva os fiéis a reconhecer ainda mais que a cruz determina a vida no presente. Isso significa que um dos efeitos da cruz é tomar possível a restauração da humanidade, restaurada em seus relacionamentos com Deus, consigo mesma e com toda a criação.  A Igreja cuja teologia é formada pela mensagem da cruz precisa assumir ela mesma uma vida cruciforme, para que sua teologia tenha credibilidade. Isso significa que os fiéis devem adotar a forma de obediência a Deus representada na vida de Cristo, expressa, em última instância, em sua morte. Esse pensamento está por trás do hino a Cristo em Filipenses 2.6-11.
De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
6 Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus,
7 Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;
8 E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.
9 Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome;
10 Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra,
11 E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
Para Paulo, os fiéis manifestam a obediência a Cristo aqui e agora proclamando sua morte até que ele venha.

Bibliografia

BECKER, Jürgen. Apóstolo Paulo: Vida, Obra e Teologia. São Paulo: Academia Cristã, 2007.
BORNKAMM, Günther. Paulo: Vida e Obra. São Paulo: Academia Cristã, 2009.
CERFAUX, Lucien. Cristo na Teologia de Paulo. São Paulo: Teológica, 2003.
CONNOR, Jerome Murphy O. Paulo de Tarso: História de um Apóstolo. São Paulo: Paulus; Loyola, 2007.
DETTWILER, Andreas; KAESTLI, Jean-Daniel; MARGUERAT, Daniel. Paulo, uma teologia em construção. São Paulo: Loyola, 2011.
DUNN, James D. G. A nova perspectiva sobre Paulo. São Paulo: Academia Cristã, 2011.
HAWTHORNE, Gerald F; Martin, Ralph P; REID, Daniel G. Dicionário de Paulo e Suas Cartas. São Paulo: Loyola; Vida Nova; Paulus, 2008.
KÄSEMANN, Ernst. Perspectivas Paulinas. São Paulo: Teológica; Paulus, 2003.
SCHNELLE, Udo. Paulo: Vida e Pensamento. São Paulo: Academia Cristã; Paulus, 2010.







[1] O assunto aqui abordado é tratado com riqueza de detalhes na maravilhosa obra: HAWTHORNE, Gerald F; Martin, Ralph P; REID, Daniel G. Dicionário de Paulo e Suas Cartas. São Paulo: Loyola; Vida Nova; Paulus, 2008 p. 852.
[2] BORNKAMM, Günther. Paulo: Vida e Obra. São Paulo: Academia Cristã, 2009. p. 188.
[3] 1Cor 11.23-25: Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.
[4] 15.3-5: Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze
[5] E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor.
[6] Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja.
[7] DETTWILER, Andreas; KAESTLI, Jean-Daniel; MARGUERAT, Daniel. Paulo, uma teologia em construção. São Paulo: Loyola, 2011. p. 321.
[8] Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.
Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.

CERFAUX, Lucien. Cristo na Teologia de Paulo. São Paulo: Teológica, 2003. p. 90.
[11] A morte e a ressurreição de Jesus que como evento salvífico, leia: SCHNELLE, Udo. Paulo: Vida e Pensamento. São Paulo: Academia Cristã; Paulus, 2010. p. 562.
[12] DUNN, James D. G. A nova perspectiva sobre Paulo. São Paulo: Academia Cristã, 2011 .p 289.
[13] Leia mais em: BORNKAMM, Günther. Paulo: Vida e Obra. São Paulo: Academia Cristã, 2009. p. 234.
[14] Para entender o contexto de Romanos 8, leia a belíssima obra: KÄSEMANN, Ernst. Perspectivas Paulinas. São Paulo: Teológica; Paulus, 2003. p. 199.
[15] CONNOR, Jerome Murphy O. Paulo de Tarso: História de um Apóstolo. São Paulo: Paulus; Loyola, 2007.
[16] Leia mais em: BECKER, Jürgen. Apóstolo Paulo: Vida, Obra e Teologia. São Paulo: Academia Cristã, 2007. 

Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.