De que modo se pode
realizar uma pesquisa histórica sobre Jesus? Esta obra procura responder a essa
pergunta crucial, em confronto crítico com os estudos de J. Dupont, E.
Käsemann, D. C. Allison e com a mais criteriosa pesquisa contemporânea. Daí os
dois binários sobre os quais se articula o livro: de um lado, reconstruir a
face histórica de Jesus de outro, identificar quais formas religiosas emergem
depois dele nos diferentes grupos de seus seguidores. O problema, e o enfoque
de interesse histórico, é a ligação entre a figura de Jesus e o nascimento do
cristianismo como religião distinta do judaísmo.
É prioritária uma
observação de método sobre como focar a questão Jesus/cristianismo: assumir
essa ligação em sua continuidade é uma posição apologética, orientada a
justificar uma fé. A visão distanciada do historiador, porém, precisa analisar
todos os elementos disponíveis a fim de reconstruir o indivíduo Jesus e o seu
papel antes de formular uma hipótese. Aqui, especificamente, enfrenta-se a
transmissão de suas palavras e a sua judaicidade, ou seja, sua diferença em
relação ao cristianismo primitivo. Destaca-se também a necessidade de uma
pesquisa antropológica sobre Jesus: analisar o tipo de vida de um líder imerso
no meio do povo. Entretanto, quando nos perguntamos como nasceu o cristianismo,
é necessário levar em conta a sua pluralidade: de qual cristianismo se fala?
Chega-se, então, ao delicado problema da relação entre pesquisa histórica e
pressupostos da fé: como conciliar a autonomia do historiador e a tradição da
Igreja?
Questões bastante atuais,
porque atingem interiormente a profissão do historiador e a identidade da
história do cristianismo. No entanto, se a investigação sobre Jesus consta de
vários modelos de pesquisa - a historiografia divide em Old, New e Third Quest
-, não pode ser considerada completa nem arquivada. Cada peça tem a função de
fazer progredir o debate científico sobre aquela história e, em si, precisa
tanto do passado - da exegese do século XVI até hoje - quanto de novas pistas futuras.
p. 280
Editora Loyola
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