sábado, 7 de novembro de 2015

285 - Mudanças ambientais podem explicar o surgimento do povo israelita, Israel Finkelstein. Jornal Folha de S.Paulo.




Amostras de pólen obtidas no leito do mar da Galileia e do mar Morto podem ser a pista que faltava para explicar como surgiu o povo israelita, cuja religião deu origem ao judaísmo e ao cristianismo.
Segundo pesquisadores israelenses, os dados sugerem que, a partir de 1250 a.C., várias ondas prolongadas de seca devastaram a Terra Santa ao longo de um século e meio, fazendo com que bandos de refugiados fundassem novas comunidades na zona montanhosa da região. Esses novos vilarejos acabariam levando à formação dos antigos reinos de Israel e Judá.
Um dos que propõem essa tese é o arqueólogo Israel Finkelstein, da Universidade de Tel Aviv. O trabalho dele tem ajudado a repensar a relação entre os relatos da Bíblia, de um lado, e os dados históricos e arqueológicos, de outro.
Finkelstein conversou com a Folha durante sua visita ao Brasil na primeira semana de outubro, quando participou de conferências organizadas pela Universidade Metodista de São Paulo e pela Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica.

RESOLUÇÃO
"O grande diferencial desse nosso novo trabalho é a resolução", explica o arqueólogo. "Normalmente as amostras possuem uma resolução de uns 200 anos por camada. Nós conseguimos obter dados detalhados que se referem apenas à transição entre a Idade do Bronze e a Idade do Ferro [grosso modo, entre 1300 a.C. e 1000 a.C.], com resolução de 25 anos a 40 anos."
São dados, portanto, que funcionam como uma espécie de cápsula do tempo. Conforme o pólen ia sendo depositado no fundo do mar da Galileia e do mar Morto, numa ordem que vai do mais antigo ao mais recente, ele passou a formar um registro das mudanças ambientais pelas quais o Oriente Médio estava passando ao longo das décadas.
A análise do pólen permite determinar tanto o tipo quanto a quantidade de vegetação que existia no entorno desses corpos d'água (apesar do apelido de "mar", eles não passam de grandes lagos). E foi assim que Finkelstein e seus colegas arqueobotânicos (que estudam as plantas do passado) acharam indícios de secas prolongadas numa região que já não é célebre pela abundância de água. Uma palavra resume as consequências das ondas de secura: caos.
Como os arqueólogos já sabiam, entre 1250 a.C. e 1100 a.C. os grandes impérios do Mediterrâneo na Idade do Bronze entram em colapso. Deixam de existir o Império Hitita, na atual Turquia, os reinos micênicos, na atual Grécia, e até o poderoso Egito mal consegue escapar.
Antes da catástrofe, os faraós dominavam todo o atual território israelense, palestino e libanês, além de vastas áreas da Síria e da Jordânia modernas.
Tudo indica que as alterações climáticas geraram tanto rebeliões internas (muito provavelmente ligadas às colheitas que não estavam vingando) quanto estimularam o ataque de tribos bárbaras (e famintas) às cidades do Oriente Médio.
"A ideia é que isso desestabilizou totalmente tanto as populações que viviam em áreas de estepe, a leste do rio Jordão, quanto muitos dos moradores das cidades-Estado do litoral", conta Finkelstein. De quebra, algumas dessas cidades estavam sendo atacadas e destruídas por invasores, como os filisteus.
A região montanhosa no centro da Terra Santa, hoje correspondente, grosso modo, à Cisjordânia, era o lugar ideal para fugir do caos e da fome porque era uma área pouco povoada na época, além de relativamente fértil e não tão seca quanto outras áreas da vizinhança.
De fato, nas fases finais do colapso dos impérios da Idade do Bronze, é ali que começam a pipocar centenas de vilarejos rurais, com localizações associadas ao que seria, segundo a Bíblia, o território original das tribos israelitas.
Segundo esse cenário, hoje aceito pela maioria dos arqueólogos, o povo de Israel teria surgido dentro da própria Terra Santa (ou Canaã, como era conhecida na Antiguidade), como uma espécie de dissidência dos moradores originais da região, os cananeus.
Argumentos em favor dessa ideia são o fato de que os artefatos dos primeiros vilarejos da região montanhosa são quase idênticos aos dos cananeus que viveram antes ali, além do detalhe de que o hebraico é um dialeto cananeu, muito próximo do fenício (que era falado no atual Líbano).
Ou seja, tanto o êxodo liderado por Moisés quanto a conquista de Canaã liderada por Josué seriam quase totalmente lendários.

CADÊ O SALOMÃO?
Finkelstein também defendeu outra de suas ideias polêmicas que tem ganhado cada vez mais aceitação entre os pesquisadores: a de que as narrativas sobre um glorioso "Reino Unido" israelita, governado inicialmente por David e depois por seu filho Salomão, também é lendária.
O arqueólogo diz que David e Salomão provavelmente são personagens reais, mas que seus feitos foram muito exagerados por seus descendentes como forma de fortalecer os interesses políticos da monarquia de Jerusalém.
"Certamente havia um pequeno núcleo urbano em Jerusalém na época deles [entre 1000 a.C. e 930 a.C.], mas os dois não passavam de chefes militares tribais", argumenta o pesquisador.
Os críticos do trabalho do pesquisador afirmam que ele ignora dados que indicariam a presença de um Estado centralizado na antiga capital de Judá durante a era salomônica.
"O problema de Jerusalém, na minha opinião, é que o núcleo mais antigo da cidade não está na chamada Cidade de David, onde as pessoas conseguem escavar hoje, mas na região do Templo, hoje ocupada pelo Domo da Rocha", diz Finkelstein.
Como se trata de uma das áreas mais sagradas do islamismo, é improvável que os arqueólogos recebam permissão para escavar lá algum dia, afirma ele. 
















quinta-feira, 5 de novembro de 2015

284 - História do movimento cristão mundial, volume II: o Cristianismo moderno de 1454 a 1800. Dale T. Irvin e Scott W. Sunquist



Introdução
A história do movimento cristão mundial tem sido maior do que aquilo que qualquer dos seus participantes jamais imaginou que fosse. É também maior do que qualquer um que tenta escrever sobre ele consegue expressar. Como todas as histórias escritas, esta é incompleta, pois nunca podemos esgotar quer os dados quer as nossas interpretações dos dados. No tocante à história, há sempre mais a pesquisar, mais a estudar e mais a escrever, assim como há sempre mais a fazer. Reconhecer que existe esse excedente tanto na história que é vivida como na história que é pesquisada e escrita serve como uma advertência e também como um incentivo para manter abertos o projeto histórico e os ricos diálogos em andamento. Mas chega a hora em que a elaboração deve ser encerrada, ainda que por um tempo, para que o projeto seja visto. Após mais de uma década de trabalho, que incluiu a colaboração de bom número de especialistas e estudiosos do mundo inteiro, você agora tem em mãos o produto dos esforços deles como o segundo volume da História do movimento cristão mundial. 
Os dois autores deste volume oferecem-no como uma contribuição ao diálogo que, esperamos, não termine tão cedo. Ele não é, de modo algum, a última palavra na história do movimento cristão mundial do século XV ao século XVIII. Ao invés, nós o oferecemos como uma contribuição a mais destinada a ampliar a compreensão coletiva da história do Cristianismo no mundo. Permeando os primeiros dois volumes da História do movimento cristão mundial está a concepção subjacente de que o Cristianismo não foi uma religião europeia que se espalhou por outras partes do mundo pela primeira vez após o ano 1500, como muitas vezes tem sido apresentado. 
O Cristianismo nasceu na juntura de três continentes e, cem anos depois, já estava solidamente estabelecido em cada um deles. No ano 1500, já era algo como uma religião mundial. Tinha se tornado também a religião dominante e estabelecida na Europa Ocidental, como continuou sendo no Império Romano Oriental (ou Bizantino), que tinha como capital Constantinopla. O volume primeiro terminou com a derrota de Constantinopla, em 1453, pelas forças otomanas, e o correspondente fim do Império Romano Oriental (ou Bizantino). Apenas algumas décadas antes as naus portuguesas começaram a se aventurar no sul do oceano Atlântico, ao longo da costa da África, abrindo uma nova era na história mundial. Essa nova era foi logo caracterizada por um desequilíbrio global de poder que permitiu aos europeus dominar muitas outras regiões do globo. O subsequente movimento de pessoas, de bens e ideias que essas viagens facilitaram, também espalhou rapidamente o Cristianismo através do globo terrestre, para mais longe do que tinha estado antes. Comunidades cristãs começaram a se desenvolver em regiões da terra onde anteriormente não existiam, mais notavelmente no hemisfério que passou a ser chamado de América do Sul e do Norte. Embora na maioria dos casos essas comunidades de fé nas novas localidades continuassem a estar relacionadas quanto ao caráter e à expressão com as Igrejas da Europa Ocidental, elas nunca foram simples cópias delas. Em alguns lugares da Ásia e da África, os cristãos da Europa Ocidental encontraram também comunidades cristãs indígenas de várias tradições ortodoxas que já viviam nesses lugares por mais de um milênio. Os resultados desses encontros foram significativos para ambas as partes. Enquanto isso, as Igrejas da própria Europa Ocidental começaram a experimentar, em torno do ano 1500, novas tentativas de reforma que, em alguns casos, levaram a mudanças significativas, mesmo quando procuraram manter a continuidade com o passado histórico cristão, ou pelo menos com aquela porção do passado cristão que elas consideravam determinante para a sua identidade. Assim, o movimento cristão em todo o mundo se viu, após 1453, às voltas com forças irresistíveis de mudança e continuidade em modos novos e contextualmente específicos.

Paulus
2015
P. 620


Dale T. Irvin é Presidente e Professor do departamento de Cristianismo Mundial no Seminário Teológico de Nova York. Filiado a Igrejas Batistas, EUA.









Scott W. Sunquist. Reitor da Escola de estudos interculturais e professor de cristianismo na escola de estudos interculturais




terça-feira, 3 de novembro de 2015

283 - Arqueólogos encontram fortaleza bíblica em Jerusalém




Cidadela de Acra, construída há mais de 2 mil anos, foi um centro de poder e usada para conter a rebelião judaica registrada no livro bíblico dos Macabeus. Buscas já duravam mais de um século.
Depois de mais um século de buscas, arqueólogos afirmam ter encontrado as ruínas de uma antiga fortaleza grega mencionada na Bíblia e solucionado, assim, um dos maiores mistérios arqueológicos de Jerusalém. A cidadela de Acra estava enterrada em um estacionamento da cidade.
"Pesquisadores, juntamente com a Autoridade de Antiguidade de Israel, acreditam ter encontrado as ruínas da fortaleza nas escavações no estacionamento Givati, na cidade de David", anunciou o órgão nesta terça-feira (03/11).
A fortaleza foi um centro de poder e usada para conter a rebelião judaica registrada no livro bíblico dos Macabeus. Acra foi construída há mais de 2 mil anos por Antíoco Epifânio, rei do império selêucida helênico. Pesquisadores tentavam localizá-la há anos.
Muitos acreditavam que a cidadela ocupasse o lugar onde atualmente fica a Cidade Velha de Jerusalém, com vista para a Igreja do Santo Sepulcro ou próximo à colina que abriga o complexo de mesquitas de Al-Aqsa.
Mas as ruínas localizadas em um antigo estacionamento pavimentado ficam fora dos limites da Cidade Velha, com vista para um vale ao sul. Segundo arqueólogos, a região de Acra corresponde ao local onde a construção de Jerusalém se concentrou durante o reinado bíblico de David.
O líder da escavação, Doron Ben-Ami, afirmou que Antíoco, que viveu entre 215 e 164 a.C., escolheu o local para poder controlar a cidade e monitorar as atividades no templo judaico. A fortaleza foi soterrada por uma colina artificial composta por várias camadas de terra deixadas por diferentes culturas.
Entre as ruínas há uma parede maciça, a base de uma torre e de um aterro de defesa, além de artefatos como moedas e alças de jarras de vinho, que parecem ser do período de Antíoco. De acordo com Autoridade de Antiguidade, a torre possui "dimensões impressionantes".
Pedras de estilingues e pontas de flecha de bronze, da mesma época, também foram localizadas na escavação. As peças podem ser remanescentes da batalha entre forças gregas e rebeldes judeus que tentavam tomar a fortaleza.
"Esse é um exemplo raro de como rochas, moedas e terra podem se juntar em um episódio arqueológico único que aborda realidades históricas específicas da cidade de Jerusalém", afirmou Ben-Ami.
Arqueólogos afirmaram ainda que a descoberta permite reconstruir a composição de assentamento na cidade de mais de 2 mil atrás. Acra foi mencionada vagamente em dois textos antigos: o Livro dos Macabeus, que retrata a rebelião, e nos registros do historiador Flávio Josefo.
Na tradição judaica, Antíoco é lembrado com o vilão do feriado Hanukkah que tentou proibir ritos religiosos e provocou a revolta dos Macabeus.
Fonte: terra

CN/rtr/afp



Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.