Introdução
A história do movimento
cristão mundial tem sido maior do que aquilo que qualquer dos seus
participantes jamais imaginou que fosse. É também maior do que qualquer um que
tenta escrever sobre ele consegue expressar. Como todas as histórias escritas,
esta é incompleta, pois nunca podemos esgotar quer os dados quer as nossas interpretações
dos dados. No tocante à história, há sempre mais a pesquisar, mais a estudar e
mais a escrever, assim como há sempre mais a fazer. Reconhecer que existe esse
excedente tanto na história que é vivida como na história que é pesquisada e
escrita serve como uma advertência e também como um incentivo para manter
abertos o projeto histórico e os ricos diálogos em andamento. Mas chega a hora
em que a elaboração deve ser encerrada, ainda que por um tempo, para que o
projeto seja visto. Após mais de uma década de trabalho, que incluiu a
colaboração de bom número de especialistas e estudiosos do mundo inteiro, você
agora tem em mãos o produto dos esforços deles como o segundo volume da
História do movimento cristão mundial.
Os dois autores deste volume oferecem-no
como uma contribuição ao diálogo que, esperamos, não termine tão cedo. Ele não
é, de modo algum, a última palavra na história do movimento cristão mundial do
século XV ao século XVIII. Ao invés, nós o oferecemos como uma contribuição a
mais destinada a ampliar a compreensão coletiva da história do Cristianismo no
mundo. Permeando os primeiros dois volumes da História do movimento cristão
mundial está a concepção subjacente de que o Cristianismo não foi uma religião
europeia que se espalhou por outras partes do mundo pela primeira vez após o
ano 1500, como muitas vezes tem sido apresentado.
O Cristianismo nasceu na
juntura de três continentes e, cem anos depois, já estava solidamente
estabelecido em cada um deles. No ano 1500, já era algo como uma religião
mundial. Tinha se tornado também a religião dominante e estabelecida na Europa
Ocidental, como continuou sendo no Império Romano Oriental (ou Bizantino), que
tinha como capital Constantinopla. O volume primeiro terminou com a derrota de
Constantinopla, em 1453, pelas forças otomanas, e o correspondente fim do Império
Romano Oriental (ou Bizantino). Apenas algumas décadas antes as naus
portuguesas começaram a se aventurar no sul do oceano Atlântico, ao longo da
costa da África, abrindo uma nova era na história mundial. Essa nova era foi
logo caracterizada por um desequilíbrio global de poder que permitiu aos
europeus dominar muitas outras regiões do globo. O subsequente movimento de
pessoas, de bens e ideias que essas viagens facilitaram, também espalhou
rapidamente o Cristianismo através do globo terrestre, para mais longe do que
tinha estado antes. Comunidades cristãs começaram a se desenvolver em regiões
da terra onde anteriormente não existiam, mais notavelmente no hemisfério que
passou a ser chamado de América do Sul e do Norte. Embora na maioria dos casos
essas comunidades de fé nas novas localidades continuassem a estar relacionadas
quanto ao caráter e à expressão com as Igrejas da Europa Ocidental, elas nunca
foram simples cópias delas. Em alguns lugares da Ásia e da África, os cristãos
da Europa Ocidental encontraram também comunidades cristãs indígenas de várias
tradições ortodoxas que já viviam nesses lugares por mais de um milênio. Os
resultados desses encontros foram significativos para ambas as partes. Enquanto
isso, as Igrejas da própria Europa Ocidental começaram a experimentar, em torno
do ano 1500, novas tentativas de reforma que, em alguns casos, levaram a
mudanças significativas, mesmo quando procuraram manter a continuidade com o
passado histórico cristão, ou pelo menos com aquela porção do passado cristão
que elas consideravam determinante para a sua identidade. Assim, o movimento
cristão em todo o mundo se viu, após 1453, às voltas com forças irresistíveis
de mudança e continuidade em modos novos e contextualmente específicos.
Paulus
2015
P. 620
Dale
T. Irvin é
Presidente e Professor do departamento de Cristianismo Mundial no Seminário
Teológico de Nova York. Filiado a Igrejas
Batistas, EUA.
Scott W. Sunquist.
Reitor da Escola de estudos interculturais e
professor de cristianismo na escola de estudos interculturais
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