terça-feira, 30 de setembro de 2014

163 - Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher: Hermenêutica e Religião



Schleiermacher nasceu em Breslau, 21 de novembro de 1768, morreu em Berlim, 12 de fevereiro de 1834. Foi pregador em Berlim na Igreja da Trindade e professor de Filosofia e Teologia em Halle. Traduziu as obras de Platão para o alemão. Foi influenciado por Kant e Fichte, mas não se tornou um idealista subjetivo. Schleiermacher foi contemporâneo de Johann Fichte, Friedrich Schelling, Friedrich Krause e Friedrich Hegel. Em 1797, em Berlim, conheceu Friedrich Schlegel e uniu-se ao círculo dos românticos. Posteriormente, ensinou Teologia em Halle e, a partir de 1810, em Berlim, é nomeado pregador da corte, depois professor de Teologia e Filosofia.
As obras que lhe deram maior notoriedade foram os “Discursos sobre Religião” (1799) e os “Monólogos” (1800). Em 1822, publicou a “Doutrina da fé”, que tem importância sobretudo em relação à teologia dogmática protestante. Entre 1804 e 1828, traduziu os diálogos de Platão. Postumamente, foram publicadas as aulas relativas à dialética, à ética e à estética, além de outros temas, dentre os quais revestem-se de particular importância a Hermenêutica, na qual se revela precursor.
As suas doutrinas exerceram grande influência na teologia protestante e foram estudadas, com a evolução do seu espírito, por Dilthey, que dividiu em quatro períodos a sua atividade literária: a juventude (manuscritos), período da intuição (1796-1802), época crítica (1802-1806), período sistemático (1806-1834). Ao contrário de Hegel, Schleiermacher não subordina a religião à Filosofia, porque o sentimento, como unidade originária de pensamento e querer, não é abolido pelo pensamento. O sentimento da imortalidade e da fé na imortalidade fundam-se na “imortalidade da união da essência de Deus com a natureza humana na pessoa de Cristo”.
A religião não aspira a conhecer e explicar o universo em sua natureza, como a metafísica, nem aspira a continuar o seu desenvolvimento e aperfeiçoá-lo através da liberdade e da vontade divina do homem, como a moral. A sua essência não está no pensamento nem na ação, e sim na intuição e no sentimento. Ela aspira a intuir o Universo; quer ficar contemplando-o piedosamente em suas manifestações e ações originais; quer fazer-se penetrar e preencher por suas influências imediatas, com passividade infantil.

A ação do infinito sobre o homem, portanto, é a intuição. E o sentimento é a resposta do sujeito: é o estado de espírito, ou seja, a reação da consciência. Este sentimento que acompanha a intuição do infinito é sentimento de total dependência do sujeito em relação ao infinito. O sentimento religioso, portanto, é sentimento de total dependência do homem (finito) em relação à Totalidade (infinita).
Essa ideia básica vale, como diz Schleiermacher, para todas as formas de religião. Mas, com o passar dos anos, ele também acabou por privilegiar o cristianismo. Cristo passou a aparecer-lhe sempre mais como o Mediador e o Redentor e, portanto, acabou por assumir aos seus olhos aquelas características divinas que ele negara inicialmente.
Na sua “A fé Cristã” (1821-1822), Schleiermacher faz uma formulação sistemática da cristologia, segundo a qual Jesus é a imagem originária do que o homem é antes da queda. Dessa forma, por ser todo o seu pensamento profundamente cristocêntrico, Schleiermacher afirma que o cristão tem consciência de depender de algo superior, sobrenatural, derivando-se daí sua consciência ética, uma vez que tudo está subordinado àquela sensação religiosa, que, enfraquecendo-se, gera o pecado, fortalecendo-se, gera a graça. Para ele o cristão pergunta a si mesmo continuamente: o que deve ser, à luz da consciência cristã? Assim, ele harmonizou as concepções do protestantismo com as convicções da burguesia culta e liberal. Foi considerado radical pelos ortodoxos e visionário pelos racionalistas, mas influenciou, mais do que qualquer outro teólogo, o pensamento protestante do século XIX.
Schleiermacher, dentre outros, concebe Deus, para além do naturalismo e do sobrenaturalismo, como o “ser-em-se”, como “o fundamento criador de tudo que existe”, como “a potência incondicionada e infinita do ser”. Entretanto, para o naturalismo Deus está no mundo e, por outro lado, para o sobrenaturalismo Deus está acima do mundo.

Livros traduzidos:




Hermenêutica e Crítica - Vol I
Hermenêutica e Crítica... reúne as principais discussões do projeto hermenêutico de Friedrich Schleiermacher, reconhecido como clássico da Filosofia Alemã, que inaugura uma tradição hermenêutica que, ao longo da história, recebe diversos desdobramentos e, particularmente hoje, ocupa lugar importante no cenário filosófico.




Sobre a Religião











Introdução aos Diálogos de Platão









Hermenêutica










Estilo de Normalizar Citação De Acordo com as Normas da ABNT para Trabalhos Acadêmicos.
RUBENS, David.Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher: Hermenêutica e Religião. http://biblicoteologico.blogspot.com.br/2014/09/friedrich-daniel-ernst-schleiermacher.html. Acesso em: _____________.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

162 - Ernst Käsemann: analise de textos paulinos a respeito da teologia da cruz



Introdução
A influência de Ernst Käsemann, em especial seu ensaio “The Saving Significance of the Death of Jesus in Paul”, domina os estudos modernos da centralidade da cruz no pensamento paulino. Käsemann defende com veemência a necessidade de reapropriar-se dos grandes discernimentos da Reforma a respeito da teologia paulina; mais exatamente, os de Lutero. Firmemente posicionado na tradição luterana de interpretação paulina, Käsemann declara que qualquer outra abordagem da teologia paulina abrange, na melhor das hipóteses, apenas alguns de seus muitos aspectos; é a abordagem de Lutero que compreende a teologia paulina em sua totalidade. Assim, quais são os aspectos básicos da teologia paulina da cruz, segundo Käsemann?
Em sua análise dos textos paulinos, Käsemann traça uma distinção exata entre textos que Paulo herda e que refletem a tradição litúrgica e doxológica de uma tradição pré-paulina e textos de que é possível afirmar serem originários diretamente de Paulo. Estes últimos, afirma Käsemann, são mais autenticamente paulinos. Para começar vamos examinar os que são considerados originários de uma tradição mais primitiva.

Importância salvífica da morte de Cristo
Segundo Käsemann, as passagens que afirmam a importância salvífica da morte de Cristo derivam, em grande parte, dessa tradição mais primitiva. Entretanto, ele percebe a existência de um processo de reinterpretação, pelo qual Paulo introduz nesse material tradicional novos elementos radicais. Em parte, essa reinterpretação consiste em redirecionar a atenção do “ainda não” da ressurreição para o “aqui e agora” da crucifixão – elemento muito importante de sua controvérsia com os entusiastas coríntios. Além disso, elementos judeu-cristãos (em Rm 3,24-26) são adotados, mas passam por uma revisão para adquirir um sentido mais rico. Porém essa reinterpretação deve ser considerada principalmente na ênfase que Paulo dá à justificação dos ímpios. A cruz demonstra a completa seriedade do pecado, declara a impotência da humanidade caída para alcançar a salvação e expõe erros humanos de hipocrisia.

Textos de tradição pré-paulina
As cartas paulinas incluem alguns casos de tradição pré-paulina que Paulo interpretou ou revisou. Dois desses casos têm importância especial. Romanos 3,24-26 ilustra a observação geral de que falta à tradição pré-paulina a ênfase radical na cruz aparentemente tão característica de Paulo. E, o que é mais significativo, Paulo parece acrescentar a Filipenses 2,6-11 uma ênfase na cruz geralmente considerada na tradição prépaulina. A frase “e morte numa cruz” desintegra a escansão do texto, o que sugere ter sido acrescentada por Paulo. A modificação significativa deste texto, que agora inclui uma referência explícita e importante à cruz, esclarece a preocupação de Paulo em concentrar sua teologia no Cristo crucificado.
E aquelas passagens que devem ser consideradas originárias diretas de Paulo, sua criação pessoal, não herança da tradição pré-paulina? Nelas se encontra, em plenitude e nitidez, a mensagem do escândalo da cruz com todas as suas implicações teológicas. Talvez a mais significativa dessas passagens seja 1 Coríntios 1,1831. Aqui encontramos a ênfase caracteristicamente paulina no fato de Deus querer justificar os ímpios pela crucifixão escandalosa de Jesus como criminoso amaldiçoado publicamente por Deus. Käsemann chama a atenção em especial para dois aspectos distintos desta teologia: seu caráter polêmico e sua predisposição para a rejeição pelo mundo.
A teologia paulina da cruz é polêmica não por ser dirigida contra falsos entendimentos da natureza de Deus fora da Igreja, mas porque se opõe a interpretações errôneas do evangelho dentro da própria Igreja – tais como a devoção legalista de círculos cristãos judaizantes ou as perspectivas falsas a respeito da ressurreição comuns em Corinto.
A teologia paulina da cruz “era sempre um ataque crítico à interpretação tradicional dominante da mensagem cristã, e não foi por acaso que caracterizou os inícios protestantes”.
E essa teologia se volta para a rejeição pelo mundo. Käsemann ressalta que o ministério pessoal de Paulo pode ser considerado uma apresentação autobiográfica do impacto da cruz porque evoca angústia, sofrimento, rejeição e perseguição. Onde quer que a Igreja leve a sério a cruz de Cristo, ela espera encontrar hostilidade.
Quase no fim de seu ensaio, Käsemann apresenta uma importante discussão da relação entre a teologia da cruz e a pregação, aparentemente dirigida contra os que enfatizam a historicidade e a objetividade da crucifixão. Não podemos deixar que a fé se tome dependente de meras lembranças históricas de um acontecimento passado. A morte de Cristo é significativa não apenas como acontecimento histórico, mas pela proclamação da Palavra (Rm 10,14) e a subsequente evocação da fé.

Conclusão
A abordagem de Käsemann à teologia paulina da cruz é brilhante e original, e ele continua a ser um parceiro muito importante em qualquer discussão da teologia paulina da cruz. Notamos alguns pontos óbvios de critica do ensaio que se concentram em sua distinção entre os componentes pré-paulinos e paulinos do corpus.
- Primeiro, por que devemos presumir que o material pré-paulino é, de alguma forma, menos importante que as passagens paulinas? O próprio fato de Paulo recorrer a uma tradição mais primitiva pode muito bem indicar que ele pretendia que ela fosse tratada com grande seriedade e que essas passagens se destinavam a ser investidas de peso interpretativo especial. Exemplo óbvio é 1 Coríntios 11,23-25, onde Paulo deseja claramente que sua citação de uma tradição mais primitiva possua autoridade suficiente para confirmar seu argumento (ver também ICor 15,1-4).
- Segundo, como Käsemann pode ter tanta certeza de que Paulo modificou radicalmente o material mais primitivo? Do ponto de vista metodológico, essa pergunta se relaciona com a pergunta de como é possível traçar uma distinção entre material tradicional e redacional, o que não é necessariamente tão simples como Käsemann quer que acreditemos. Até onde percebemos, Paulo nem sempre modifica o material mais primitivo; sempre deve haver um grau de dúvida quanto à natureza, à extensão e à importância da reelaboração paulina da tradição mais primitiva. Contudo, podemos dizer que o ensaio de Käsemann, completado por uma série notável de escritos posteriores, estimulou um novo interesse pela teologia paulina da cruz, em especial nos estudos de língua alemã e, cada vez mais, nos escritos norte-americanos.

Referência
KÄSEMANN, Ernst. Perspectivas paulinas. São Paulo: Teológica; Paulus, 2003.
KÄSEMANN, Ernst. Os inícios da teologia cristã: Apocalipsismo. São Leopoldo/RS: Sinodal, 1983.
RUBENS, David. Estudos Teológicos. Vl. 2. Pindamonhangaba/SP: Kerygma, 2014. 

Estilo de Normalizar Citação De Acordo com as Normas da ABNT para Trabalhos Acadêmicos.
RUBENS, David. Ernst Käsemann: analise de textos paulinos a respeito da teologia da cruz. http://biblicoteologico.blogspot.com.br/2014/09/ernst-kasemann-analise-de-textos.html. Acesso em: _____________.


domingo, 28 de setembro de 2014

161 - Barth, Bultmann, Brunner, Schweitzer, Gogarten, Tillich, Cullmann, Moltmann, Pannenberg


160 - Morre o teólogo alemão Wolfhart Pannenberg



Wolfhart Pannenberg (Estetino, Polónia, 2 de Outubro de 1928 - 5 de Setembro de 2014) foi um teólogo cristão alemão.
Pannenberg foi batizado como um bebê na Igreja Evangélica Luterana, mas não teve praticamente nenhum contato com a Igreja nos seus primeiros anos. Com cerca de dezasseis, no entanto, ele teve uma intensa experiência religiosa a qual ele chamou mais tarde de sua “experiência de iluminação”. Buscando a compreender esta experiência, ele começou a pesquisar através das obras de grandes filósofos e pensadores religiosos. O seu professor de literatura da Escola Secundária, que tinha sido uma parte da Igreja Confessante durante a Segunda Guerra Mundial, encorajou-o a considerar seriamente o cristianismo, o que resultou na “conversão intelectual” de Pannenberg, na qual se concluiu que o Cristianismo era a melhor opção religiosa disponível. E isto o implusionou em sua carreira como teólogo.
A parte central da carreira teólogica de Pannenberg foi sua defesa da teologia como uma rigorosa disciplina acadêmica, uma capacidade de interação com a filosofia crítica, a história e as ciências naturais.
Pannenberg é talvez mais conhecido pelo seu livro: Jesus: Deus e Homem, no qual ele constrói uma Cristologia “por baixo”, ou seja, a sua dogmática decorre de uma análise crítica da vida de Jesus de Nazaré. Ele, correspondentemente, rejeita a formulação tradicional da cristologia das “duas naturezas” pontualizada no Concílio de Calcedónia, preferindo ver a pessoa de Cristo à luz da vida de Jesus e de modo particular da sua ressurreição. Este foco sobre a ressurreição de Cristo como a chave da identidade levou Pannenberg a defender a sua historicidade.

Resumo da vida acadêmica:

Quando jovem, teve contato com as obras do filosofo Frideric Nietzsche. Após a influência de um professor de literatura, que havia sido membro da igreja confessante, decide estudar teologia e filosofia. O interesse teológico o leva para Berlin. Entende que nenhum sistema político humano jamais seria capaz de produzir a estrutura social humana perfeita. Para Pannnenberg, o ideal, era o dom divino do Reino futuro e glorioso de Deus.
Pannenberg é atraído pelo projeto de Karl Barth de consolidar a sabedoria de Deus e de reinvidicar toda realidade para o Deus da Bíblia.
Em 1950, foi para Basiléia estudar sob orientação de Karl Barth. Se opõe à distinção radical que Karl Barth fazia entre conhecimento natural e revelação divina em Cristo. Par Pannenberg, a obra de revelação divina consiste na finalização da criação, e não na forte oposição ao mundo. Pannenberg se interessou pelas implicações religiosas inerentes a toda experiência humana.
Em 1951, foi para Universidade de Heidelberg, estudou sob orientação dos principais eruditos da época. Formou um grupo de estudantes de diferentes disciplinas (“o círculo de Pannenberg”).
Concluiu os estudos em 1955. Deu inicio à sua carreira de professor: Seminário da Igreja Luterana de Mainz (1958-1961). Depois se tornou professor na Universidade de Mainz (1961-1968). Em 1968 foi convidado a lecionar na Universidade de Munique. Ali, lecionou até se aposentar em 1993.

Ideias:
Para Pannenberg, a teologia foi banida da esfera pública por obra do Iluminismo, cujos filósofos fizeram da razão humana universal o instrumento de superação das divisões da sociedade européia na esteira da polarização que tomou conta da igreja e criou duas facções rivais: católicos e protestantes. Essa mudança radical da cultura precipitou a crise da teologia.
Antes do Iluminismo, os teólogos tinham nos eventos salvíficos de Deus na história os alicerces da fé.
O Iluminismo pôs de lado a ideia de que os eventos históricos pudessem ter a chancela de um testemunho divino autêntico. Os filósofos submeteram a história sagrada aos ditames do método científico.
Baseando em Lutero, Pannenberg afirma: a fé depende de uma base histórica, especificamente, da atividade de Deus. Caso contrário a fé deixa de ser fé em Deus e passa a ser simplesmente fé na própria fé.

Livros em Português:

Teologia Sistemática, III Volumes
 A Pergunta sobre Deus
 Filosofia e Teologia

Fé e Realidade









David Rubens



Estilo de Normalizar Citação De Acordo com as Normas da ABNT para Trabalhos Acadêmicos.
RUBENS, David. Morre o teólogo alemão Wolfhart Pannenberg. http://biblicoteologico.blogspot.com.br/2014/09/morre-o-teologo-alemao-wolfhart.html. Acesso em: _____________.

Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.