sábado, 20 de setembro de 2014

155 - Søren Aabye Kierkegaard: Deus absolutamente real e absolutamente incompreensível



Kierkegaard (1813-1855) foi educado por seu pai ancião numa severa religiosidade. Depois de uma infância triste e isolada, inscreveu-se na faculdade de teologia de Copenhague, onde primava a inspiração hegeliana. Dominado sempre por uma “autocompaixão”, nunca pode arrancar de seu corpo a melancolia e a angústia que lhe invadiram toda a vida. Graduou-se em teologia em 1840, mas não se decidira estudar e escrever até praticamente seus últimos anos. Seu Diário no-lo apresenta sumamente angustiado. Ele próprio viveu totalmente a figura que tão bem descreve nas páginas finais do Conceito da angústia: “O que eu sou é um nada; isto dá a mim e a meu caráter a satisfação de conservar minha existência no ponto zero, entre o frio e o calor, entre a sabedoria e a necessidade ou entre o algo e a nada, como um simples talvez”. O ponto zero é a indecisão permanente, o equilíbrio instável entre as alternativas opostas que se abrem diante de qualquer possibilidade.
O ponto de partida da filosofia de Kierkegaard deriva da crítica de Hegel. Este, segundo Kierkegaard, ignorou os traços passionais da subjetividade humana. A verdade não é o “puro pensamento”, como acreditava o filósofo alemão; a falácia. Para Kierkegaard, a verdade fica vinculada e limitada ao sujeito existente, concreto e particular, não a seu objeto. Isto torna impossível, em última instância, que a verdade possa comunicar-se com outros indivíduos. A existência é, pois, opção e paradoxo. Esta concepção da verdade e da existência de cada sujeito permitiu ver nele o pai do existencialismo tanto cristão quanto secular.

Kierkegaard levou essas conclusões ao campo religioso, e mais concretamente ao cristianismo. Se a filosofia não é uma especulação, mas um modo de ser do indivíduo, também não se deve falar de uma teologia sistemática: conjunto ou sistema objetivo de verdades doutrinais. Ser cristão é viver a fé desde a própria existência paradoxal no Deus homem, não num conjunto de verdades.
Kierkegaard acentua o abismo entre o tempo e a eternidade, entre o finito e o infinito, entre o homem e Deus. “Deus é o absolutamente desconhecido.” Existe também um abismo entre o pecado do homem e a santidade de Deus. “Sem pecado, não há cristianismo... Tirar a consciência pecadora seria como fechar as igrejas e transformá-las em salões de baile. Isto é o que torna paradoxal a fé do cristão: que Deus é absolutamente real e absolutamente incompreensível. Por isso mesmo, não se pode falar de Deus nem muito menos formular uma teologia.”
Somente Deus pode salvar o homem do abismo entre ambos. E isto Deus o fez na pessoa de Cristo. Deus revelou-se a si mesmo em Jesus Cristo, mas é uma revelação sob véus. Deus se manifestou em Jesus Cristo, mas isto não é patente para o observador casual. Somente aos olhos da fé, Deus é visto em Jesus Cristo. Somente os que têm fé o reconhecem e o encontram. A fé não é racional. É a aceitação do absurdo, do paradoxal.

Kierkegaard aceita a expressão de Tertuliano: “Credo quia absurdum”. A fé é uma decisão pessoal, um ato de afirmação, um salto na escuridão. Pressupõe risco e compromisso pessoal e, através deste, chegamos a conhecer Deus.
Como era natural, Kierkegaard não oferece um sistema completo de doutrina. Ele próprio descreveu sua obra como “um pouco de pimenta”, como um revulsivo ou corretivo. Suas obras devem ser encaradas como uma “espécie provocativa e profética”, mais que como uma dieta regular e completa. Se levadas muito a sério, podem causar grandes desarranjos gástricos. Mencionamos as mais importantes: O conceito de ironia (1841); Diário de um sedutor (1843); Migalhas filosóficas (1844); O conceito de angústia (1844); A enfermidade mortal (1846-47); Discursos religiosos etc. Toda a sua obra e a sua vida foram dedicadas a por em destaque o “escândalo” e o “paradoxo” da fé cristã, o caráter mundano da Igreja dinamarquesa, alvo de seus ataques, e a corrupção do cristianismo por parte da filosofia de Hegel. O seu é a “existência cristã” ou o religioso paradoxal. Seu individualismo exerceu uma influência decisiva na teologia dialética e no existencialismo. Unamuno foi um dos seus admiradores e seguidores mais fervorosos.


Estilo de Normalizar Citação De Acordo com as Normas da ABNT para Trabalhos Acadêmicos.
RUBENS, David. Søren Aabye Kierkegaard: Deus absolutamente real e absolutamente incompreensível. http://biblicoteologico.blogspot.com.br/2014/09/sren-aabye-kierkegaard-deus.html: Acesso em: _____________.
 

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Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.