Eclesiastes na Contramão
da Sabedoria Tradicional
Introdução
Coélet representa o lado
cético da sabedoria israelita. Ele não rejeita o movimento da sabedoria, mas desafia
algumas de suas mais estimadas crenças. Ele acredita em Deus e no temor de Deus
(3.14; 5.6) e em um código ético e no julgamento divino do comportamento humano
(11.9); e, tal qual seus contemporâneos, não aborda a questão da vida após a
morte (9.10).
Ele compartilha com os
sábios algumas crenças: Deus concede tudo no tempo oportuno (3.1-11); Deus
concede a habilidade de desfrutar (2.25-26, etc.); o que Deus decretou não se
pode mudar (1.13; 3.14-15; 6.10; 7.13; 11.3); a insensatez de muitas palavras 4.17-5,6;
6.11; 10.12-15); e, se eles não são sua criação, ele endossa um número de
provérbios tradicionais (1,18; 4,5-6,9-12; 5,7-11; 6,9; 7,7-12; 9,17-10,1;
10,8-11,4; 11,7).
Experiências
de “Tenda”
A luta de Coélet é com
qualquer teologia que ignore a experiência de vida, “tenda”, desse modo, a se tornar
irreal. Assim ele ataca as declarações simplistas da tradicional teologia da
retribuição (3.16-18; 7.15; 8.12-14; 9.1-3) porque a mesma não se ajusta à
experiência; Deus julga, mas como isto funciona é um mistério.
Ele ataca declarações verbais
sem fundamentos sólidos sobre as vantagens da sabedoria, porque a experiência mostra
que a mesma sorte vem sobre o sábio tanto quanto sobre o tolo (2.13-16; 9.1-3.11),
porque o sábio não pode predizer o futuro (3.22; 6.12; 8.7; 9.1-11,6)
especialmente a época de infortúnio (9.12), e porque a sabedoria é vulnerável a
uma pequena dose de insensatez (9.13-10). Tampouco ele é otimista sobre o
sucesso da busca humana pela sabedoria (1.13-18; 3.11; 7.13; 8.17; 11.5). Ele rejeita
os conselhos que recomendam focar-se na morte e na adversidade (7.1-14), evitar
extremos éticos (7.15-24), e conselho que recomenda obediência simplista à
autoridade (8.1-14), porque a experiência indica que estas não são posturas
louváveis.
Coélet rejeita a ênfase
da tradição da sabedoria na diligência, se isto significar total absorção no
trabalho, visto que, tal trabalho febril rouba a alegria das pessoas (2.22-23; 4.7-8;
5.11,16), porque as perspectivas do êxito do trabalho são duvidosas (3.1-11),
porque o destino da riqueza acumulada é incerto (2.18-21; 4.7-8; 5.12-16), e
porque a labuta não traz nem o lucro, nem o progresso, nem a novidade, nem
tampouco a lembrança (1.3-11). Coélet não acredita na preguiça, mas acredita
que uma mão repleta de trabalho árduo e uma outra cheia de descanso são melhores
do que duas mãos tomadas de labuta (4.5-6).
Natureza
Transitória da Vida
Tremendamente
impressionado pela natureza transitória (vaidade) de todas as coisas, ele
acredita que o pleno regozijo é, na vida, o item a ser focado, e não uma desenfreada
perseguição pelo luxo, porque não vale a pena o trabalho envolvido nisso (2.1-11),
mas uma aceitação das alegrias normais que Deus considera apropriadas para nos
dar (afirmado sete vezes no livro, 2.24; 3.12, 22; 5.17; 8.15; 9.7-9; 11.9-10).
Aprecie o dia bom e aceite o dia mau como Deus dando variedade, de modo que não
se pode encontrar culpa nele (7.14). Aprecie o que está à mão e não anseie pelo
que é inalcançável (6.9). Participe da vida com vivacidade (9.10); providencie para
o futuro (11.1); mantenha várias opções em face da incerteza (11.2); não seja demasiadamente
cauteloso (11.4); e aproveite enquanto puder, porque a idade avançada e a morte
estão chegando (11.7-12.8).
O
Trabalho Árduo é Arriscado (3,1-4,6)
Coélet afirma que tudo
tem um tempo estabelecido (1-8). Ele imediatamente aplica o poema ao contínuo
tópico da labuta (v. 9). Não há nenhum lucro na labuta porque Deus reservou um
momento para todas as coisas, mas não equipou seres humanos com a habilidade de
determinar os tempos apropriados para sincronizar com eles. A labuta é então
arriscada, porque pode não resultar em nada (vv. 10-11). Ele conclui mais uma vez
em favor da felicidade, recordando uma vez mais que esta é um presente (12-13)
e que o que é, é, e que não há nada que se possa fazer para mudá-lo (14-15).
Conclusão
Ideias de temor, de mandamentos
e de julgamento não é o foco de Coélet, ele discute o problema concreto de como
especificamente deve-se conduzir a vida.
Bibliografia
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David Rubens de Souza
https://biblicoteologico.blogspot.com.br/
Novembro 2016
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