Definição[1]
O termo
“narratologia” é uma tradução do termo francês “narratologie”, introduzido por
Tzvetan Todorov, linguista búlgaro radicado em Paris. Narratologia tem sua
origem na tradição do formalismo russo e do estruturalismo francês.
Método narratológico
examina o que as narrativas têm em comum, o que as diferenciam umas das outras
enquanto narrativas e, estuda os sistemas específicos de regras que presidem a produção
e o processamento narrativo.
Elementos da narrativa
A narrativa pode ser
explícita ou implícita:
Explícita como ocorre no caso
de um repórter que escreve e apresenta a sua matéria.
Implícita como ocorre na
grande maioria dos livros de literatura, onde o narrador é o autor da história,
assumindo ou não sua identidade.
Formas de narração: Narrador
Clássico
Onisciente: possui o
conhecimento completo da narrativa, personagens e situação.
Incluso: também chamado de
participante, quando o narrador participa como um dos personagens. Narra em
primeira pessoa ou apenas como observador.
Oculto: conhecido também
como ausente, ocorre quando o narrador não se mostra.
Formas de Focalização
Focalização Zero: Lucas 7.11. Viúva de
Naim. O narrador dispõe de informações que faltaria a um simples espectador.
Leitor recebe mais informações do que as testemunhas da cena.
Focalização interna: Lucas 7.11. Viúva de
Naim. O Senhor teve grande compaixão dela. O narrador oferece ao leitor a
interioridade oculta dos personagens.
Focalização externa: Lucas 7.11. Viúva de
Naim. O narrador transmite menos do que o personagem pode saber. Jesus tocou o
esquife.
Narrativas e Personagens
Protagonista: personagem principal, geralmente
personifica o “bem”. Defende valores morais de seu narrador.
Antagonista: pode ser um
personagem tão importante quanto o protagonista. De um modo geral personifica
o “mal” e vai contra os valores morais defendidos pelo narrador.
Personagens de
“efeito”:
De um modo geral são amigos ou ajudantes do protagonista ou antagonista.
Análise Narrativa: Ângulos
Em uma narrativa, os
eventos da história narrada não são apresentados em uma perspectiva neutra, mas
em ângulo particular.
Sinóticos e Variantes de Ponto de Vista
A História da Vida,
Morte e Ressurreição de Jesus. Estratégia narrativa de Marcos, Mateus e Lucas.
Atividade: Comparar relatos da
ressureição. As mulheres encontraram o
túmulo vazio.
Ponto de Vista: Relação do Autor com a História Narrada
Posicionamento cognitivo:
Marcos – Menos
crítico em relação aos judeus.
Mateus – Mais hostil
em relação aos fariseus.
Relação do Autor com a História Narrada
João: Judeus uma
entidade uniformemente agressiva em relação a Jesus.
O ponto de vista é um
posicionamento do narrador aplicado a todos os elementos da narrativa:
Pessoas;
Objetos;
Valores.
Ponto de Vida: O Ponto de Vista, Cinco
Dimensões
Espacial
Temporal
Psicológica
Fraseológica
Ideológica
Espacial: O narrador
pode assumir várias posições quando descreve a ação
Pode aproximar-se do
personagem e descrever a casa quando ele entra em uma casa.
Criar empatia com
detalhes:
distância; ação; multidão; estrada etc.
Então mandou à
multidão que se assentasse no chão, Mateus 15:35.
E, descendo ele do
monte, seguiu-o uma grande multidão, Mateus 8:1.
E tornou a sair para
o mar, e toda a multidão ia ter com ele, e ele os ensinava, Marcos 2:13.
E em casa tornaram os
discípulos a interrogá-lo acerca disto mesmo, Marcos 10:10.
Temporal: O narrador
pode passar do passado ao presente e propor sincronia
Elipse: Tempo da narração ao tempo da anunciação da narrativa.
E eles, recebendo o
dinheiro, fizeram como estavam instruídos. E foi divulgado este dito entre os
judeus, até ao dia de hoje. Mateus 28:15.
Psicológica: Verbos
de percepção
Ele pensou...
Perguntava-se...
Teve medo...
Teve compaixão...
Pareceu-lhe.
E os discípulos,
ouvindo isto, caíram sobre os seus rostos, e tiveram grande medo. Mateus 17:6.
E, de manhã, voltando
para a cidade, teve fome, Mateus 21:18.
Fraseológico: A percepção do personagem que o narrador quer criar no
leitor
O ponto de vista do
narrador impregna o discurso feito pelo personagem.
Quando um doutor da
Lei em Lucas pergunta a Jesus: “Mestre, que devo fazer para herdar a vida
eterna?” Lc 10.25, o narrador exprime uma atitude de respeito da parte do
doutor da Lei.
O ponto de vista do
narrador constrói a imagem para o leitor.
“Apesar de tudo, até
muitos dos principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos
fariseus, para não serem expulsos da sinagoga”, João 12:42.
Ideologia: Sistema de valores que o narrador apresenta ao longo
do seu relato
Marcos associa os
discípulos a posições hostis a Jesus.
“Ele, porém,
respondendo, lhes disse: Dai-lhes vós de comer. E eles disseram-lhe: Iremos
nós, e compraremos duzentos dinheiros de pão para lhes darmos de comer?” Marcos
6:37-39.
“E arrazoavam entre
si, dizendo: É porque não temos pão.
E Jesus, conhecendo isto, disse-lhes: Para que arrazoais, que não tendes pão? não considerastes, nem compreendestes ainda? tendes ainda o vosso coração endurecido? Tendo olhos, não vedes? e tendo ouvidos, não ouvis? e não vos lembrais”, Marcos 8:16-18.
E Jesus, conhecendo isto, disse-lhes: Para que arrazoais, que não tendes pão? não considerastes, nem compreendestes ainda? tendes ainda o vosso coração endurecido? Tendo olhos, não vedes? e tendo ouvidos, não ouvis? e não vos lembrais”, Marcos 8:16-18.
Prática: Análise Narrativa
Caminhada
de Jesus sobre o mar:
Mateus
14.22-33
João
6.16-21
Narrativa mateana: Ponto de vista adotado é o de Jesus
Jesus obriga os
discípulos a embarcar para a travessia, 14.22.
Ele está sozinho
quando anoitece.
O narrador não fala
de medo dos discípulos.
Jesus vai até eles e
os exorta à confiança.
O medo de Pedro.
Focalização centrada
em Jesus.
O narrador não
apresenta a interioridade de Jesus.
Dimensão psicológica:
medo e adoração.
O que Jesus está
pensando?
O medo dos discípulos é provocado não pela tempestade,
mas pelo aparecimento de Jesus, que eles consideram um fantasma, v. 26.
Narrativa joanina: Ponto de vista adotado é o dos discípulos
São os discípulos que
embarcam para Cafarnaum: 6.17.
O relato dramatiza a
situação de perigo, v. 8.
Jesus é convidado a
entrar no barco.
Formar Opinião
A escolha do ponto de
vista, está a serviço da reação à leitura do relato que o narrador quer
provocar nos seus leitores. O ponto de vista do narrador é constituído por uma
temporalidade escolhida, por uma descrição da interioridade dos personagens,
por uma escolha da linguagem e por um sistema de valores.
Processo de Análise: Narratologia
1 – Quais são os
elementos que indicam o começo e o fim
2 – Quando; Tempo
3 – Onde; Lugares
4 – Personagens
4.1 Individuais e
coletivos
5 – Identificar focalizações:
Zero; Interna e Externa
6 – Tema
7 – Gênero literário
8 – Contexto
Anterior
9 – Contexto
Posterior
10 – Tabela de
Verificação; Harmonia de narrativas
11 – O que é que o
narrador comunica ao leitor
12 – Que sentimentos
desperta a narrativa no leitor
Referências
ALETTI, Jean-Noël; GILBERT, Maurice; SKA,
Jean-Louis; VULPILLIÈRES, Sylvie de. Vocabulário
ponderado da exegese bíblica. São
Paulo: Loyola, 2011.
EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo Testamento: Introdução aos métodos linguísticos e
histórico-críticos. São Paulo: Loyola, 2015.
GORMAN, Michael J. Introdução à exegese bíblica.
Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017.
LIMA; Maria de Lourdes Corrêa. Exegese Bíblica: Teoria e Prática. São
Paulo: Paulinas, 2014.
MARGUERAT, Daniel. O Ponto de Vista: Olhares e Perspectivas nos Relatos dos Evangelhos. São
Paulo: Loyola, 2018.
PARMENTIER, Elisabeth. A Escritura viva: interpretações cristãs da Bíblia. São Paulo:
Loyola, 2009.
YOFRE-SIMIAN, Horácio; GARGANO, Innocenzo;
SKA, Jean Louis; PISANO, Stephen. Metodologia
do Antigo Testamento. São Paulo:
Loyola, 2015.
WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento: Manual de Metodologia. São Leopoldo/RS:
EST; Sinodal, 2016.
Exegese
do Antigo e Novo Testamento
Prof.
David Rubens de Souza
drubenssouza@hotmail.com
Pindamonhangaba-SP
FABAD
- 2019
[1] Material didático preparado para
Disciplina de Exegese do Antigo e Novo Testamento. Curso: Bacharel em Teologia
– FABAD, 1º Semestre de 2019. SOUZA, David Rubens. Narratologia: Exegese de Narrativas Bíblicas. Pindamonhangaba-SP:
FABAD, 2019.
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