terça-feira, 29 de outubro de 2024

579 - Morre Gustavo Gutiérrez, pai da Teologia da Libertação

 


O sacerdote e teólogo peruano Gustavo Gutiérrez Merino, fundador da teologia da libertação, morreu nesta terça-feira (22/10/2024) aos 96 anos, informou a Ordem dos Dominicanos no Peru, congregação à qual ele pertencia.

Gutiérrez era considerado uma das figuras teológicas mais importantes da América Latina. Nascido em Lima, em 1928, dedicou sua vida ao estudo e ao sacerdócio, sendo ordenado aos 31 anos. Seu enfoque teológico, que vinculava a fé cristã à luta contra a pobreza, o transformou em uma figura influente na América Latina.

Em sua obra mais conhecida, Teologia da Libertação. Perspectivas (1971), Gutiérrez convocou à ação a partir da fé e ofereceu uma crítica profunda à ordem social e econômica da época. Seu enfoque colocou a experiência dos oprimidos no centro da práxis cristã, gerando tanto apoio quanto controvérsia dentro e fora da Igreja Católica.

“A pobreza é, para a Bíblia, um estado escandaloso que atenta contra a dignidade humana e, por consequência, é contrária à vontade de Deus”, afirmou Gutiérrez em seu livro.

Em 2018, o Papa Francisco reconheceu sua contribuição à Igreja e à humanidade, enviando-lhe uma carta por seu aniversário, na qual agradeceu por seu serviço teológico.

Gutiérrez foi reconhecido com mais de 30 doutorados honoris causa por universidades e instituições de todo o mundo.






sábado, 31 de agosto de 2024

578 - Cuneiforme: a escrita mais antiga do mundo.


TABULETA DE ARGILA. ENCONTRADA: Babilônia, Iraque. CULTURA: Babilônia tardia. DATA: ca. 350–50 a.C. IDIOMA: Acadiano.

 

    Desenvolvida pela primeira vez por volta de 3200 a.C. por escribas sumérios na antiga cidade-estado de Uruk, no atual Iraque, como um meio de registrar transações, a escrita cuneiforme foi criada usando um estilete de junco para fazer entalhes em forma de cunha em tábuas de argila. Escribas posteriores também cinzelariam a escrita cuneiforme em uma variedade de objetos de pedra. Diferentes combinações dessas marcas representavam sílabas, que por sua vez podiam ser colocadas juntas para formar palavras. A escrita cuneiforme como uma tradição de escrita robusta durou 3.000 anos. A escrita — não uma língua em si — foi usada por escribas de várias culturas ao longo desse tempo para escrever uma série de línguas além do sumério, mais notavelmente o acadiano, uma língua semítica que era a língua franca dos impérios assírio e babilônico.

   Depois que a escrita cuneiforme foi substituída pela escrita alfabética algum tempo depois do primeiro século d.C., as centenas de milhares de tábuas de argila e outros objetos inscritos ficaram sem leitura por quase 2.000 anos. Foi somente no início do século XIX, quando os arqueólogos começaram a escavar as tábuas, que os estudiosos puderam começar a tentar entender esses textos. Uma importante chave inicial para decifrar a escrita provou ser a descoberta de um tipo de Pedra de Roseta cuneiforme, uma inscrição trilíngue de cerca de 500 a.C. no local do Passo Bisitun no Irã. Escrita em persa, acadiano e uma língua iraniana conhecida como elamita, ela registrava os feitos do rei aquemênida Dario, o Grande (r. 521–486 a.C.). Ao decifrar palavras repetitivas como "Dário" e "rei" em persa, os estudiosos conseguiram lentamente juntar as peças de como a escrita cuneiforme funcionava. Chamados de assiriólogos, esses especialistas conseguiram traduzir diferentes idiomas escritos em escrita cuneiforme ao longo de muitas épocas, embora algumas versões iniciais da escrita permaneçam indecifradas.

   Hoje, a capacidade de ler cuneiforme é a chave para entender todos os tipos de atividades culturais no antigo Oriente Próximo — desde determinar o que era conhecido sobre o cosmos e seu funcionamento, até as vidas augustas dos reis assírios, até os segredos de fazer um ensopado babilônico. Dos estimados meio milhão de objetos cuneiformes que foram escavados, muitos ainda precisam ser catalogados e traduzidos.


ESTÁTUA DE ESCRIBA. ENCONTRADA: Lagash, Iraque. CULTURA: Suméria. DATA: ca. 2400 a.C. IDIOMA: Sumério.


 Uma inscrição trilíngue descoberta na Passagem de Bisitun, no Irã, foi uma das primeiras chaves para decifrar a escrita cuneiforme.


quinta-feira, 29 de agosto de 2024

577 - Léxico do Antigo Testamento Interlinear – Hebraico-Português: Volume 5. Edson de Faria Francisco.

 


O Léxico do Antigo Testamento Interlinear Hebraico-Português (LéxATI) é a mais nova obra lexicográfica, inédita em português, dedicada às línguas originais da Bíblia Hebraica. Normalmente, os dicionários e léxicos disponíveis atualmente no Brasil são traduções de outros idiomas como inglês e espanhol, sendo, portanto, obras de autores estrangeiros. Contudo, tais obras surgiram há muitos anos a até décadas atrás. O LéxATI é produto de pesquisa surgida no Brasil, sendo desenvolvida por autor brasileiro durante mais de dez anos. Todas as informações são recentes e refletem a moderna pesquisa relacionada à lexicografia do hebraico e aramaico bíblicos. O mais novo léxico possui vários destaques até então inéditos em uma obra devotada aos idiomas da Bíblia Hebraica: três seções principais: 1. hebraico bíblico; 2. aramaico bíblico e 3. apêndice: hebraico de Qumran e do Eclesiástico. Todas as grafias dos lexemas, mesmo as minoritárias, são registradas. Todos os lexemas possuem indicação gramatical, exemplos e referências bíblicas. São 11.732 lexemas do hebraico bíblico, 1.249 do aramaico bíblico e 2.008 do apêndice (Qumran e Eclesiástico), num total de 14.989 lexemas. O LéxATI foi concebido, primordialmente, para a utilização acadêmica, tendo como público-alvo professores, estudiosos e estudantes de Teologia e História Antiga. Recursos: Hebraico Bíblico; Aramaico bíblico São 14.989 lexemas, sendo: 11.732 lexemas do hebraico bíblico; 1.249 lexemas do aramaico bíblico; 2.008 lexema do apêndice.

Editora: SBB

ISBN: 7899938427361

Lançamento: 2024

Número de Páginas: 976

 

Autor:


Edson de Faria Francisco é linguista e professor do Departamento de Bíblia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), responsável pelas disciplinas Hebraico Bíblico e Grego Bíblico, com pós-doutorado na área de Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas pela Universidade de São Paulo (USP). Possui graduação em Hebraico (2003), em Armênio (1997) e Português (1997) pela Universidade de São Paulo (USP). Possui mestrado (2002), doutorado (2008) e pós-doutorado (2011) em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas pela Universidade de São Paulo (USP). Título do trabalho de pós-doutorado: Lexicon Masoreticum: Léxico de Terminologia Massorética Tiberiense. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas. Autor das seguintes obras: 1. Manual da Bíblia Hebraica: Introdução ao Texto Massorético - Guia Introdutório para a Biblia Hebraica Stuttgartensia (São Paulo: Vida Nova, 1. ed. 2003; 2. ed. 2005 e 3. ed. 2008) e 2. Tetragrama, Teônimos e Nomina Sacra: Os Nomes de Deus na Bíblia (Santo André: Kapenke, 2018). É tradutor das seguintes obras: 1. Antigo Testamento Interlinear Hebraico-Português, vol. 1: Pentateuco; vol. 2: Profetas Anteriores; vol. 3: Profetas Posteriores e vol. 4: Escritos (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012, 2014, 2017 e 2020); 2. Crítica Textual da Bíblia Hebraica, de Emanuel Tov (Niteroi: BV Books, 2017) e 3. A Bíblia Grega e Hebraica: Ensaios Reunidos sobre a Septuaginta, de Emanuel Tov (Niteroi: BV Books, 2019). No momento, o autor está preparando mais algumas obras, tais como as seguintes: Léxico do Antigo Testamento Interlinear Hebraico-Português (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, futura publicação), Tetragrama, Teônimos e Nomina Sacra: Os Nomes de Deus na Bíblia, 2. ed. (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, futura publicação), Lexicon Masoreticum: Léxico de Terminologia Massorética Tiberiense de acordo com o Códice de Leningrado B19a (futura publicação), Lexicon of Tiberian Masoretic Terminology according to the Leningrad Codex B19a (futura publicação) e revisão da segunda edição do Antigo Testamento Interlinear Hebraico-Português (futura publicação). O autor tem participado como palestrante principalmente dos congressos da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB) e do International Organization for Masoretic Studies (IOMS), este último realizado conjuntamente com o International Organization for the Study of the Old Testament (IOSOT) e com o World Congress of Jewish Studies (WCJS).




quinta-feira, 22 de agosto de 2024

575 - Monoteísmo e poder: A construção de Deus na Bíblia Hebraica. Thomas Römer.


Compreender o fenômeno monoteísta envolve necessariamente compreender suas origens. Este profundo exercício de elucidação destas origens realizado pelo prof. Thomas Römer tem o mérito de mostrar o monoteísmo, com clareza, como um fenómeno de síntese religiosa de diversos pensamentos de vários povos, fora dos estreitos limites da Terra Santa. Não em vão, expresso nas designações atuais, Abraão era iraquiano, Moisés egípcio, Esdras iraniano e São Paulo turco. Precária é, portanto, a reivindicação de sua paternidade com reivindicações de exclusividade. A experiência religiosa, está provado mais uma vez, é um cadinho humano. Diversas culturas convergem e está presente, sem que se possa medir o grau de presença, o valioso contributo de uma experiência humana acumulada que capta, num património comum, algumas das intuições filosóficas e arquétipos culturais mais relevantes da história da humanidade.

  


Dr. Thomas Römer é um dos exegetas mais proeminentes em todo o mundo por sua contribuição à pesquisa histórica do Antigo Testamento. Ele ocupa a Cátedra Milieux Bibliques no College de France, Paris, bem como o cargo de professor titular de Bíblia Hebraica na Faculté de Théologie et Sciences des Religions, da Universidade de Lausanne, Suíça.

 

Editora‏: ‎ Sebila (8 agosto 2018)

Idioma: ‎ Espanhol

Capa comum: ‎ 216 páginas


sábado, 22 de junho de 2024

574 - Docetismo em João.

 


O capítulo 17 do Evangelho de João é dominado pela palavra-chave “glorificação”. Com esta palavra-chave oferece não somente a mensagem central do cap.17, mas do evangelho todo; digamos, a angulatura própria, bastante diferente da tradição comum, a ponto de tornar-se enigmática a recepção do quarto evangelho no cânon. O tema da glória, e daí o evangelho todo, já é expresso em 1.14. Mas o centro deste versículo não é: “O Logos se fez carne” e sim: “Nós vimos a sua glória”. O interesse não é a encarnação, que também não precisa ser concebida como paradoxo. O interesse está na “Glória” que preexiste e permanece presente e imutável também na encarnação. A carne é, no fundo, somente o invólucro. O mundo terreno no qual era necessário o Logos se inserir para se mostrar a nós é o teatro da presença da manifestação da glória, mas de toda maneira nada mais que um lugar que lhe permanece estranho e substancialmente indiferente. Esta ótica acompanha e dirige inteiramente o modo como João concebe a história do Logos. Tomemos a Paixão: Cristo continua livre diante da Paixão, ele arreda os seus inimigos; tal não é a reação de uma pessoa normal. Conforme João, a paixão não seria aquilo que merece a glorificação, como em Paulo. Para João, a glória já está presente durante a Paixão; a paixão é a manifestação da glória. É o modo como a glória se manifesta numa situação de contradição, numa situação que não lhe é própria, que é estranha ao divino. Do mesmo modo concebe-se a obediência de Cristo: não recebeu a glória porque obedeceu, mas obedeceu porque tinha a glória.


terça-feira, 4 de junho de 2024

573 - Morreu Jürgen Moltmann (1926-2024).

 

Morre aos 98 anos o último grande teólogo do séc. XX.


Jürgen Moltmann (8 de abril de 1926 - 3 de junho de 2024), importante teólogo reformado alemão, foi professor emérito de teologia sistemática na Universidade de Tübingen, ficou conhecido mundialmente por seus livros Teologia da Esperança; O Deus Crucificado.

 Moltmann descreveu sua própria teologia como uma extensão das obras teológicas de Karl Barth, especialmente a Dogmática da Igreja, e descreveu seu próprio trabalho como Pós-Barthiano. Recebeu doutorados honorários em diversas Universidades.

 Tive a honra de apresentar um trabalho sobre Moltmann com a presença do próprio Moltmann no evento.


Momento inesquecível, está ao lado de Jürgen Moltmann, um dos maiores teólogos de todos os tempos, o último da famosa safra de teólogos alemães do século XX, conhecidos como teólogos dialéticos: Karl Barth; Rudolf Bultmann; Emil Brunner; Friedrich Gogarten; Oscar Cullmann; Wolfhart Pannenberg.




 

Vitória-ES, 20 de setembro de 2016


sábado, 27 de janeiro de 2024

572 - O que é fundamentalismo cristão?

 


O fundamentalismo é a imposição sobre a Bíblia de determinada tradição religiosa humana, e a utilização da Bíblia como instrumento de poder para garantir o sucesso e influência dessa religião. Os fundamentalistas discordam violentamente entre si sobre a correta interpretação de certas passagens das escrituras. A maior parte das seitas cristãs existentes hoje se autodeclaram fundamentalista.

Os fundamentalistas não são literalistas bíblicos. Só tomam a Bíblia ao pé da letra quando lhes convém. Em outras palavras, olham para a Bíblia através de seus óculos particulares e eliminam da visão o que não desejam ver.

O fundamentalismo alimenta a intolerância ao levar as pessoas a pensar que conhecem absolutamente a mente e a vontade de Deus sobre qualquer coisa que lhes interesse.

O que os fundamentalistas têm em comum não é um conjunto de crenças específicas, mas a atitude de mente. É a convicção de que possuem o conhecimento absoluto da verdade da qual se tornam guardiões divinamente ordenados.

O fundamentalismo apodera-se das mentes humanas e as cega, aprisiona as pessoas em sistemas de crenças tão rígidos que elas não conseguem mais se libertar.    



Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.