Leituras no Antigo Testamento: Origem do Povo de Deus
Introdução
A maioria dos
acontecimentos conservados na Bíblia são histórias contadas pelo povo e que
foram passando de geração em geração. E sem a preocupação de que alguém um dia
dissesse: “Isso não é histórico, porque não dá para provar que aconteceu assim
mesmo”. As partes mais difíceis de guardar e entender são justamente aquelas
que foram retiradas, não da história do povo, mas dos relatórios dos reis e
conservadas em arquivos oficiais.
Tem outro dado importante
para entender como a Bíblia conta a história: a certeza de que Deus está no meio
de tudo isso, presente para conduzir o seu povo através dos tempos e lugares.
Assim, uma chuva de pedra que ajuda a se safar do inimigo, é ação de Deus que
protege; se a chuva de pedra estraga a plantação, é Deus que adverte sobre
alguma coisa errada que está acontecendo no país.
A Bíblia, portanto,
lembra o passado de maneira popular e, ao mesmo tempo, vê os acontecimentos
como instrução de Deus, que liberta e corrige.
SALMOS 78.1-8
Escutai a minha lei, povo meu; inclinai os vossos ouvidos
às palavras da minha boca.
Abrirei a minha boca numa parábola; falarei enigmas da
antiguidade.
Os quais temos ouvido e sabido, e nossos pais no-los têm
contado.
Não os encobriremos aos seus filhos, mostrando à geração
futura os louvores do Senhor, assim como a sua força e as maravilhas que fez.
Porque ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e pôs uma lei
em Israel, a qual deu aos nossos pais para que a fizessem conhecer a seus
filhos;
Para que a geração vindoura a soubesse, os filhos que nascessem, os quais se levantassem e a contassem a seus filhos; Para que pusessem em Deus a sua esperança, e se não esquecessem das obras de Deus, mas guardassem os seus mandamentos.
Para que a geração vindoura a soubesse, os filhos que nascessem, os quais se levantassem e a contassem a seus filhos; Para que pusessem em Deus a sua esperança, e se não esquecessem das obras de Deus, mas guardassem os seus mandamentos.
E não fossem como seus pais, geração contumaz e rebelde,
geração que não regeu o seu coração, e cujo espírito não foi fiel a Deus.
1 Tudo começa com gente inconformada
A história do povo de
Deus se inicia com grupos que não suportam qualquer tipo de opressão. Deixam a
segurança da qual poderiam gozar dentro ou ao redor das cidades, chamadas de
cidades-estado, onde trabalhavam como agricultores ou em outra profissão, e se
tornam pastores. Preferem a vida de liberdade em regiões menos seguras, pois
sabem que se ficassem dependentes dos mandões da cidade, teriam que aceitar um
jogo de cartas marcadas, e que sempre perderiam e seriam oprimidos. Saem,
deslocando-se de um lugar para outro, estabelecendo-se provisoriamente ao largo
das cidades atrativas, mas opressoras, contra as quais procuram se defender
mutuamente (cf. Gn 14.1-16). Ficam de fora, só se servindo das cidades quando
conseguem tirar algum proveito, sem se submeter.
2 Quando aconteceu tudo isso?
É difícil dizer com
clareza a época em que esses grupos rebeldes e avessos a sistemas opressores,
isto é, quando Abraão, Isaque e Jacó começaram a se movimentar, até chegar na
terra de Canaã. Provavelmente foram levas que se deslocaram em períodos
diferentes. O povo da Bíblia não se preocupou em marcar datas, talvez nem mesmo
soubesse direito. Os historiadores tentam achar uma data varia entre 1950 até
1300 a.C.! o povo simplesmente conta histórias sobre as famílias de Abraão,
Isaque e Jacó...
3 O que era uma cidade-estado?
Era uma cidade governada
por um rei. Era independente, como se fosse um pequeno país, cercada de
muralhas, para evitar as invasões dos inimigos. Tinha uma parte alta, chamada
acrópole, onde ficava o palácio do rei, o templo, e onde morava a classe
dominante, gente da elite. Na parte baixa ficava o mercado e o casario de gente
mais pobre, como pequenos comerciantes, artesãos e pessoal de segundo escalão.
Ao redor da cidade havia
terras cultivadas por camponeses, que aí moravam em casas pequenas,
desprotegidas, pois estavam fora das muralhas. O rei dava certa proteção com
soldados, mas exigia em troca completa submissão. Com seu trabalho e lavoura
esses camponeses sustentavam os grandes, que viviam na parte alta, pagando a
eles tributo. Na maioria das vezes, sobrava para eles muito pouco da colheita
e, por isso, viviam como escravos e numa situação miserável. Em Canaã, essas
cidades-estado faziam parte do império do Egito, e pagavam tributo ao Faraó. E
os camponeses tinham também que arcar com parte desse tributo.
4 Até Deus é diferente
Os deuses das cidades
ficavam nos templos, e eram adorados porque mantinham a ordem, deixavam as
coisas como estavam, sem mudança nenhuma. Quem quisesse adorá-los, deveria
aceitar o sistema. Os grupos rebeldes de Abraão, Isaque e Jacó tinham seu
próprio Deus. Para mostrar como era diferente dos ídolos das cidades, o povo
passou a chamá-lo de “Deus de nossos pais”, ou “Deus de Abraão, Isaque e Jacó”.
Não era um Deus preso num templo; ele estava sempre junto, por toda parte onde
iam. Um Deus livre como eles: fora da cidade e sem compromisso com nenhum sistema
estabelecido.
5 Estar unidos para se defender da exploração
Esses grupos, quando
entram na terra de Canaã, procuram pastagens, uns ao sul, outros ao norte. As
“famílias” de Abraão-Isaque escolheram o sul, e a de Jacó ficou mais ao norte.
O povo se lembra desses grupos já unidos, mantendo laços de família. Mesmo que,
muitas vezes, não fossem do mesmo sangue, tinham o mesmo objetivo, e isso fazia
com que se considerassem irmãos.
É interessante notar
também que, mesmo entre esses grupos, havia separações e brigas. Elas
aconteciam quando um grupo queria ficar sob a dependência da cidade (leia a
história de Abraão e Ló, em Gn 13); ou quando um grupo queria explorar o outro;
então o explorado reagia, aproveitava o que podia e se afastava (cf. a história
de Labão e Jacó, em Gn 29-31).
O mesmo território, onde se formou
e se estabeleceu o povo de Deus, recebeu, em épocas diferentes, três nomes:
CANAÃ: antes que o povo de Israel
se formasse. O território estava nas mãos dos reis das cidades-estados, e fazia
parte do império do Egito.
ISRAEL: quando os diversos grupos
se uniram e se estabeleceram de maneira estável.
PALESTINA: quando outras grandes
potências passaram a dominar a região.
Conclusão
O povo reconheceu que a
conquista da terra de Canaã foi um dom de Deus. Eles repetiam, diante do
sacerdote, como verdade de fé: “Meu pai era um arameu errante...” (Dt 26.4-5).
Depois, contavam uns aos outros as histórias de Abraão, Isaque e Jacó...
Para saber mais:
BALANCIN, Euclides Martins. Historia do Povo de Deus. São Paulo:
Paulus, 1989.
GASS, Ildo Bohn (org.). Uma Introdução à Bíblia: Formação do Povo
de Deus. São Paulo: Paulus; Cebi, 2002.
RUBENS, David. Estudos Bíblicos. São Paulo: Kerygma, 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário