sábado, 21 de julho de 2018

422 - José Comblin. Vida e Teologia.



Vida


José Comblin nasce em 1923, em Bruxelas. Primeiro dos cinco filhos de uma família simples, realiza sua formação básica em humanidades clássicas e, aos 17 anos, entra no Seminário Léon XIII (que havia sido criado pelo Cardeal Mercier para acolher de diferentes dioceses belgas os estudantes que mais se destacaram intelectualmente), concluindo aí os estudos de Filosofia.
Em 1944, começa seus estudos de Teologia em Malines, entre o Seminário Saint-Joseph e o Grande Seminário. Posteriormente realiza os estudos de doutorado em Teologia Bíblica na cidade de Louvain. Ordenado em 1947, é nomeado vigário em Bruxelas, na paróquia Sacré-Coeur, onde trabalha especialmente com os jovens. No período de 1950 a 1957, trabalha como professor de Escrituras Sagradas no CIBE (Centre d’instruction pour brancardiers ecclésiastiques) em Alost, instituição para jovens seminaristas e religiosos belgas que faziam o serviço militar em conjunto com os estudos teológicos.
No entanto, novos planos já eram pensados por Comblin. Em 1955, após a publicação da Encíclica Fidei Donum, atendendo ao pedido – por parte do Cardeal Van Roye – de padres que pudessem trabalhar como missionários, conhecendo a experiência de seu irmão André que era religioso dos Padres Brancos na África, e com um sentimento pessoal de falta de futuro para a Igreja na Europa, Comblin envia a primeira solicitação de partida para a América Latina. Não obtendo resposta, envia uma segunda solicitação em 1957, que foi finalmente aceita. Diferentemente do objetivo de Pio XII, que era enviar padres europeus à América Latina para lutar contra o comunismo, ele desejava antes fazer parte de uma Igreja na qual via ainda um futuro. E Comblin cumpre seu objetivo.
Requisitado para a Igreja de Campinas (São Paulo), Comblin inicia no Brasil, em 1957, sua caminhada como padre e teólogo pelo continente latino-americano. Passados os primeiros cinco anos, em que inicia ao mesmo tempo seu trabalho como professor no Seminário Menor em Campinas e na Escola de Teologia dos Dominicanos (Studium Theologicum dos Dominicanos) em São Paulo, recebe o convite de Marcos McGrath em 1962 para ser professor na Faculdade de Teologia de Santiago do Chile por três anos. Ao final desse período, convidado por D. Hélder Câmara, volta ao Brasil e, em 1965, chega ao Recife, onde desenvolverá trabalhos pastorais e acadêmicos como professor e coordenador do ITER (Instituto Teológico do Recife) até 1972, quando é impedido pelos militares de entrar no país. Por essa razão, retorna ao Chile e lá permanece até 1980, sendo expulso pelo regime de Augusto Pinochet. Dessa vez, regressa ao Brasil, onde se instalará até sua morte em 27 de março de 2011, residindo inicialmente no Estado da Paraíba (ligado à Arquidiocese de João Pessoa) e finalmente no Estado da Bahia, na Diocese de Barra.


Teologia
O período vivido no continente latino-americano permitiu a Comblin entrar em contato de maneira mais profunda com a realidade e a teologia latino-americana, que se constituía naqueles anos como a teologia da libertação. Realiza inúmeras viagens por quase todos os países do continente, formando uma rede de contatos com bispos e teólogos latino-americanos ligados a essa linha teológica. Isso lhe deu a possibilidade de participar das mudanças na Igreja da América Latina, proporcionadas pelo Concílio Vaticano II, consolidadas pela Conferência de Medellín e confirmadas em Puebla.
O deslocamento geográfico, cultural, social e teológico realizado pelo nosso autor é convergente com a consolidação da teologia latino-americana, que se constitui fora da centralidade europeia. Esses dois fatos serão refletidos em sua obra teológica. De suas primeiras publicações, eminentemente ligadas ao contexto europeu, em que falava de revolução e paz, os temas foram cada vez mais deslocados para a realidade latino-americana.
A nosso ver, essa “nova etapa de produção”, marcada pela dinâmica da teologia latino-americana da libertação, permitiu a Comblin revelar três características que identificam seu fazer teológico. A primeira pode ser definida pela permanente busca inicial, ampla e profunda, de compreensão da realidade para, num segundo momento, emitir um discurso teológico. Se fizermos uma analogia com o método V-J-A (Ver-Julgar-Agir) e estabelecermos uma graduação entre as três vertentes, afirmaremos que o forte de Comblin se situa no Ver.
A segunda característica é a centralidade antropológica, que marca sua construção teológica. Comblin escreve e pensa sua teologia com um objetivo preciso: ajudar o homem a transformar-se e tornar-se aquilo para que fora chamado por Deus (ser cada vez mais humano).
A centralidade do humano em sua obra é essencial, o que o leva a afirmar: “A humanidade não é um tema entre os outros dentro da Teologia, mas é o tema que é central”. Na dinâmica da teologia latino-americana, Comblin assume a compreensão do humano a partir da opção preferencial pelos pobres. Daí em diante, abandona o projeto de oferecer um modelo de humanidade e trabalha considerando as necessidades e demandas humanas para, uma vez baseado em sua análise contextualizada, ter condições de oferecer alguma reflexão teológica que possa colaborar na restauração do respeito ao “não-homem”.
No giro epistemológico de sua abordagem antropológica, Comblin encontra o rosto do humano que sua teologia deve tocar: é o rosto do homem pobre latino-americano. Uma vez situado na América Latina, Comblin assume o pobre como o protagonista bíblico, que é definido em Puebla como “as grandes maiorias que não conseguem satisfazer suas necessidades básicas de alimentação, saúde, habitação, educação e emprego. A pobreza deve ser compreendida no sentido concreto e material. Não se trata de disposições psicológicas interiores”.
Levando-se em consideração sua história (contexto social e eclesiológico), podemos afirmar que Comblin se encontra em uma situação peculiar que podemos dizer “de fronteira”, ou seja, está situado entre dois contextos históricos: o europeu, em que se formou teologicamente, e o latino-americano, em que produz sua teologia de maneira contextualizada.
Daí decorre a terceira característica, que neste artigo é de essencial compreensão: a obra de Comblin é evolutiva. Sua base de formação teórica e a experiência pastoral e teológica latino-americana lhe permitem ressituar os temas de que trata ao longo dos anos. Ou seja, um mesmo tema pode ser retomado em períodos e épocas diferentes, e, por estar ligado à realidade, reflete em si mesmo sua transformação.


Livros

Coleção: Espiritualidade bíblica


Evangelizar

Evangelizar é o centro da missão da Igreja. Mas o que é evangelizar? É anunciar e publicar a mensagem dos evangelhos. Ora, a mensagem dos evangelhos consiste nisto: o anúncio de Jesus Cristo. E Jesus Cristo foi o evangelizador por excelência: anunciou o advento do reino do Pai, que é vida e liberdade para as criaturas humanas. A fonte última da evangelização é, portanto, o Evangelho que foi anunciado por Jesus, a mensagem que foi proclamada na Palestina por Jesus, Filho de Deus e homem verdadeiro. Compreender o Evangelho é vivê-lo de novo, reinventá-lo a cada situação que surge, recebê-lo como resposta a uma interrogação da vida presente.
p. 144



A fé no evangelho

A fé é bem diferente daquilo que se ensinava há poucos anos. Ensinava-se que a fé consiste em acreditar em toda a doutrina proposta pelo magistério eclesiástico. Insistia-se muito no caráter misterioso da fé. Os dogmas eram apresentados de tal maneira que pareciam puros mistérios incompreensíveis. A fé era justamente crer no inacreditável. Já faz tempo que os teólogos procuraram mudar essa longa prática catequética. A fé não é ato intelectual. A fé consiste em entregar a vida a Jesus. Ele proclama uma nova vida, um novo mundo e convida a trabalhar com ele nessa tarefa. A fé consiste em nos entregar a Jesus sem saber por onde passará o caminho pelo qual nos conduz. É ato de confiança e ato que compromete a vida toda. Pois a fé é entrar num caminho novo, desconhecido. A fé abre novos horizontes para a vida. Não é um sacrifício: é um imenso benefício. Doravante, os discípulos de Jesus sabem aonde vai a sua vida, qual será a sua tarefa.
p. 104


Jesus de Nazaré

Pretendemos meditar sobre a vida humana, simplesmente humana, de Jesus Cristo. Queremos abordar esse Jesus de Nazaré tal como os discípulos o conheceram e o compreenderam - ou não o compreenderam - quando caminhavam com ele pelas estradas da Galileia, percorrendo os povoados de Israel, quando ainda não o conheciam como Senhor e Filho de Deus. Desejamos ver esse Jesus tal como ele aparecia quando ainda não manifestava sua relação pessoal com Deus; quando, aos olhos dos discípulos, ele ainda era um homem, simplesmente homem.
P. 120




A liberdade cristã

A liberdade está no centro da mensagem cristã. Jesus é um homem livre e abre caminho para que todos se libertem. O evangelho é o anúncio do reino de Deus, e o reino de Deus é a liberdade dos seres humanos. A humanidade nova que Jesus anuncia é a humanidade em que todos se ajudam a viver mais e melhor. Nas nossas chamadas democracias se diz que a lei e a vontade dos cidadãos. Será assim na prática? Como funciona a lei na prática? Ela serve para justificar e defender a situação atual com todas as suas injustiças. O evangelho serve para refletir sobre a organização política. Mas serve também para fazer a reflexão sobre a organização eclesiástica. O direito da Igreja ajuda realmente a promover e libertar os pobres?
p. 136



A oração de Jesus

As orações de Jesus são o modelo perfeito para a oração dos discípulos. Não podemos garantir que as orações que se encontram nos evangelhos reproduzem literalmente a palavra de Jesus, já que foram escritas pelos evangelistas muito tempo depois de pronunciadas. Mas elas expressam a forma como a oração de Jesus foi transmitida e entendida pelas gerações sucessivas de discípulos. Foram escritas com a intenção de fornecer os modelos da aceitação de um desafio. Jesus deve aceitar o seu papel profético. A fidelidade à sua missão vai até o fim. A oração é de aceitação tanto no jardim como na cruz. É de fidelidade à sua missão de revelar Deus aos pobres e ignorantes. A oração consiste em aceitar com confiança algo humanamente incompreensível. É uma entrega ao Pai, para que ele realize o seu desígnio.
p. 104



Jesus, enviado do Pai

O tema Enviado do Pai é o eixo do evangelho segundo João. A missão de Jesus na terra foi revelar o Pai. João condensa toda a sua mensagem nisto: dar a conhecer o que é Deus. Deus quis mostrar o que ele é realmente. Ele tem uma palavra que tudo diz, e essa palavra é Jesus. A vida de Jesus na terra mostra o que é Deus: "Quem me vê, vê o Pai". Pois Jesus não lhe dá o nome de Deus, mas o nome de Pai, o que já anuncia a grande diferença em relação a todas as religiões do mundo. O Pai está com Jesus e em Jesus, e tudo o que Jesus fez mostra o que é o Pai. A verdadeira glória de Deus está na vida de Jesus, na cruz e na ressurreição. O leitor encontrará aqui algumas meditações sobre os diversos aspectos do Pai que a vida de Jesus mostrou. Com elas, poderemos corrigir nossos erros ou melhorar nosso conhecimento do verdadeiro Deus, e não do Deus inventado pela imaginação ou pela razão humana.
p. 112



Viver na esperança

A esperança cristã está fundada no anúncio do Reino de Deus por Jesus. O Reino de Deus já está presente, e a própria vida de Jesus mostra essa presença. Os discípulos foram encarregados de anunciar da mesma maneira o Reino de Deus. Não se trata de discursos, e sim de suas vidas. Com esses discípulos, um novo mundo aparece, uma nova humanidade. A esperança já tem uma existência neste mundo. Os pobres são os encarregados de anunciar o Reino de Deus, pela sua vida animada pelo Espírito. A prova da autenticidade da esperança exige que a pessoa faça realmente a experiência da realidade da vida. Viva plenamente a vida presente nesta terra.
p.112



O Espírito Santo no mundo

Estamos acostumados a pensar que tudo o que diz ou faz a Igreja é obra do Espírito Santo. Mas não é bem assim. Pensamos que entendemos os evangelhos e o que Jesus nos ensinou pela sua vida, pelos seus atos e pelas sua palavras. Mas não é bem assim, Precisamos que venha o Espírito para que possamos descobrir os nossos erros sobre Jesus e o projeto de Jesus, porque sempre nos desviamos desse projeto. O projeto de Jesus é a realização das promessas feitas a Abraão. Jesus veio para criar um povo novo, conforme à verdadeira humanidade. Jesus envia e acompanha os seus discípulos na construção desse povo. Para realizar essa missão, os discípulos não recebem nenhum poder terrestre, nem dinheiro, nem poder político, nem superioridade cultural. O poder que lhes confere o Espírito é somente a força do testemunho. O testemunho não é imposição, não é violência, não é conquista, mas apelo. Apelo para a liberdade. A conquista da liberdade é o sinal da chegada do Reino de Deus. 

p. 136


Coleção: Temas de Atualidade


O povo de Deus

Muitos acham que a tarefa mais significativa de um novo pontificado seria restaurar a eclesiologia do Vaticano II ressuscitando o conceito de povo de Deus. Paradoxalmente, o maior adversário do conceito de povo de Deus foi aquela pessoa que acabava de publicar um livro sobre "O novo povo de Deus". Os defensores mostraram-se menos rigorosos do que os opositores. Evidentemente, ninguém podia rejeitar abertamente um Concílio Ecumênico, mas as críticas tendiam a relativizar o valor dos documentos, pôr em evidência as insuficiências ou as contradições. Depressa espalhou-se o rumor de que o Vaticano II estava superado, que fora influenciado por circunstâncias históricas que já pertenciam ao passado, que os bispos se tinham deixado levar por emoções sem olhar criticamente o mundo com o qual queriam caminhar. Bem depressa também a oposição concentrou os seus ataques contra a ideia de 'o povo de Deus'. Na realidade, muitos estavam espantados pela perspectiva de mudar alguma coisa nas estruturas ou nas condutas tradicionais da Igreja, e temiam que o conceito de povo de Deus fosse usado para pedir reformas. Aceitavam ideias, com a condição de que não se tirassem delas consequências práticas. Ou então esperavam resultados imediatos permitindo um novo triunfalismo e, quando viram que os triunfos não chegavam, voltaram para trás.
p. 416



A vida: Em busca da liberdade

O ensaio de pneumatologia de José Comblin, que se completa com este livro, procura sondar o que faz o Espírito Santo no mundo a partir de cinco temas bíblicos fundamentais relacionados a ele e nos quais se concentra o seu agir no mundo: o agir ou a ação, a palavra, a liberdade, o povo de Deus e a vida. Se nos perguntamos: "o que faz o Espírito Santo?", a resposta é: ele dá vida, liberdade, dom da palavra, força para agir e cria o povo de Deus.
p. 184







Vocação para a liberdade

Este livro parte de uma encruzilhada em que convergem quatro preocupações. Em primeiro lugar, na América Latina, os movimentos de libertação descobriram a liberdade. Acabou o conflito ideológico entre liberdade de libertação descobriram a liberdade. Acabou o conflito ideológico entre liberdade e libertação. A teologia cristã da liberdade pode iluminar e orientar a busca de uma nova teoria da libertação. Em segundo lugar, desde a década de 80, a Igreja latino - americana anda buscando uma identidade perdida. Teve identidade clara nos tempos de Medellín e de Puebla. Logo em seguida, essa identidade dói diluindo - se e, na atualidade, parece ter -se perdido. Consciente ou conscientemente, muitos trabalham como se quisessem refazer a cristandade, procurando apagar trinta anos de história. Em terceiro lugar, durante, durante séculos, o evangelho permaneceu muitas vezes recoberto por revestimentos culturais que ocultavam aspectos importantes. No segundo milênio, sobretudo a partir do século XIV, o evangelho da liberdade ficou quase esquecido diante do triufo de um catolicismo clerical, patriarcal, verticalista e de inspiração imperial. Esse tipo de catolicismo foi enfrentado pelo Vaticano II, que não pôde vencê-lo. Em quarto lugar, muitos católicos estão cada vez mais coscientes de que não se pode anunciar o evangelho da liberdade, isto é, o evangelho que proclama a vocação humana para a liberdade.
p. 319



O Caminho: Ensaios sobre o seguimento de Jesus

Neste ensaio, Comblin trata não da religião, mas do caminho de Jesus. Este é um dos mais belos livros de já li.












Comentário Bíblico Latinoamericano

José Comblin, um dos principais idealizadores do projeto. Comentário sobretudo prático, pastoral, e que reforça a caminhada dos pobres.



Atos dos Apóstolos.














Epístola aos Colossenses e Epístola a Filêmon.













Epístola aos Efésios.













Epístola aos Filipenses.














Segunda Epístola aos Coríntios.












Livros em Homenagem a José Comblin.





























Padre José Comblin. Uma vida guiada pelo Espírito

Monica Maria Muggler

A vida do profeta José Comblin narrada por Monica Maria Muggler que compilou e organizou em livro a história viva e provocante. Ela também missionária que se tornou nordestina e disponível para o que fosse julgado mais necessário para o processo de evangelização estilo Vaticano II.

Dom José Maria Pires 

Título: Padre José Comblin. Uma vida guiada pelo Espíritoítulo: 
Assunto: Biografia, teologia da Libertação, projeto de Jesus 
Autora: Monica Maria Muggler
Formato: 17x24
Número de páginas: 256
Editora: Nhanduti Edito


   















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Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.