Os apocalipses cristãos representam um gênero
literário de origem judaica. O cristianismo primitivo manifestou sua fé
escatológica em grande parte nas categorias e formas da apocalíptica
judaica.
Denominação e Conceito
Com a expressão “apocalíptica”, uma expressão criada
por F. Lücke (1791-1855), que designa duas coisas:
1 – O gênero literário dos apocalipses, isso é,
escritos revelacionistas, que manifestam mistérios futuros e transcendentes;
2 – A concepção de mundo da qual procede a
literatura.
A denominação desse gênero literário como
“apocalipses” remonta à antiguidade da Igreja. Ela é derivada das palavras
iniciais do apocalipse neotestamentário de João (apocalipses de Jesus Cristo
que Deus lhe deu, a fim de mostrar a seus servos o que deverá acontecer em
breve 1.1).
Não se pode demonstrar a ocorrência de “apocalipse”
como título de livro ou designação de gênero em época pré-cristã.
·As obras caracterizadas como
“apocalipses” não tem uma autodesignação uniforme em sua origem.
·Não existe nenhuma unanimidade
sobre como definir “apocalíptica” quanto ao conteúdo.
Essas obras literárias surgiram no decorrer de mais de
300 anos.
Os apocalipses judaicos mais
importantes
1 – Daniel (época dos Macabeus);
2 – Assunção de Moisés (início da era cristã);
3 – 4 Esdras (após a destruição de Jerusalém, 70
d.C.);
4 – Baruque sírio (132 d.C.);
5 – Enoque etíope, cujas partes mais antigas são mais
velhas que Daniel, as partes mais recentes são do séc. I a.C.).
Características literárias
Embora não se possa “determinar uma lei formal válida
para todos os apocalipses”, repetem-se na maioria dos apocalipses judaicos
determinadas peculiaridades formais, que devem ser consideradas como elementos
estilísticos desse gênero literário.
Ø Pseudônimo: O apocalíptico não escreve sob seu próprio nome, e, sim,
sob o nome de um dos grandes do passado (Daniel, Moisés, Esdras, Enoque, Adão,
etc.).
Ø Relato de Visões: O modelo pelo qual o apocalíptico recebe suas
revelações é, na maioria das vezes, a visão, mais raro a audição. Por isso os
apocalipses se apresentam como relato de visões. A visão pode ocorrer no êxtase
ou em sonho. Muitas vezes o visionário é arrebatado ao mundo celestial.
Ocasionalmente faz o relato sobre sua visão pouco antes de sua morte; nesse
caso, o apocalipse aparece na forma de um discurso de despedida.
Ø Linguagem figurada: O que é visto é figura: ou figura que representa
diretamente os próprios acontecimentos, ou figura que descreve os
acontecimentos indiretamente, na forma de símbolos e alegorias. As figuras
procedem do reino da natureza (animais ou plantas; nuvens e temporais), ou
também da arte (a estátua de Dn 2).
Ø Decodificação: Os apocalipses contêm muitas vezes reflexões sobre o
significado das figuras. Raras vezes a compreensão fica a cargo do próprio
visionário (visão de animais), na maioria das vezes ela lhe é proporcionada por
meio de um mediador da revelação, com frequência por meio de um ou vários
anjos-interpretes, ou pelo próprio Deus.
Ø Sistematização: Um traço característico dos apocalipses consiste na
tentativa de sistematizar a pluralidade dos fenômenos por sistemas ordenadores,
especialmente números. Com o conhecimento da secreta ordem do mundo demonstram
sua sabedoria dada por Deus.
Ø Panorama da História em forma de futuro: O interesse dos apocalípticos
volta-se, em primeiro lugar, para os iminentes acontecimentos escatológicos,
para os horrores do tempo final e a glória do novo mundo. Esse interesse,
porém, não levou apenas à predição dos acontecimentos futuros, e, sim – em
virtude da antecipação fictícia – produziu resumos da História em forma de
futuro.
Ø Descrição do além: Visão do mundo do além. Para isso se recorre a
descrição de arrebatamentos visionários. Em um êxtase, o visionário passa por
mudanças de lugar e perambula por regiões estranhas e misteriosas na terra e no
céu. Transmitem conhecimentos sobre a topografia do céu e do inferno, sobre
hierarquia dos anjos, astronomia, etc., conhecimentos não acessíveis de outro
modo.
Ø Orações: A relação dos apocalipses com os problemas existenciais da
vida se torna mais clara nas numerosas orações que se encontram em todas essas
obras. Às vezes a oração tem a função de pedir a interpretação do que foi
visto, tem a tarefa de desdobrar as perguntas que atribulam o visionário quando
contrasta a relação de promessa divina e realidade histórica, para isso visão e
interpretação dão a resposta. Ao lado de prece e lamento encontram-se também
orações de gratidão e louvor.
Ø Dualismo dos dois éones: O traço fundamental essencial da apocalíptica
é o dualismo que se manifesta do modo mais claro em sua versão da doutrina dos
dois éons: O velho mundo tem que desaparecer antes que se possa
manifestar o mundo de Deus. Deus promete ao homem piedoso parte no novo éon.
Concepção de mundo
Universalismo e individualismo: O presente éon
é considerado o éon mau. Apesar da soberania de Deus, ele é dominado por
Satanás e seus poderes do mal, e marcado por crescente degeneração física e
moral.
O visionário não sabe mencionar a data exata do fim;
mas tem a certeza de que o fim virá em breve. Ele aponta para os sinais do
tempo e conclama os leitores para estarem preparados para o fim, não porém,
para calcularem o fim.
Nos detalhes, encontra-se uma grande variedade. Na
concepção das pessoas salvíficas: a salvação pode ser efetuada por Deus e seus
anjos, mas também pode ser efetuada pelo Messias ou pelo Filho do Homem.
Origem
A pergunta histórico-religiosa pela origem de seus
elementos estruturais e motivos leva a todas as esferas do Oriente Próximo:
Ø O dualismo dos dois éons, o contraste de Deus e Satanás, a
doutrina dos anjos e dos demônios bem como a crença na ressurreição levam ao
Irã;
Ø A doutrina dos quatro reinos leva através de Hesíodo a Zaratustra e à
Índia;
Ø Resumos históricos na forma futura encontram-se no Irã e no Egito;
Ø A descrição do mundo inferior lembra a cultura grega, astrologia e
especulações com números são importados da Babilônia e o ano solar é importado
do Egito.
Ø Fenômeno sincretista: A apocalíptica é um produto importado do período
helenista, no qual várias influências culturais se cruzam na Palestina.
Relação de Jesus com a
apocalíptica
Johannes Weiss: Primeiro estudioso do Jesus Histórico
a entendê-lo como um profeta apocalíptico. Para ele, Jesus estava inserido
dentro da extensa tradição apocalíptica judaica.
Albert Schweitzer (1841-1965) A orientação
escatológica seria realmente um dos elementos centrais da mensagem de Jesus.
Para ele o dito paradgmático encontra-se em Mateus 10.23. Jesus instruiu seus
discípulos para avisar da urgência do arrependimento. A missão dos doze é o
início do fim.
Dentre os autores que acompanharam, de uma forma ou de
outra a proposta de Shweitzer e Wiss, pode-se mencionar Rudolf Bultmann,
Günther Bornkamm, W. G. Kümmel e Joachim Jeremias.
Cânon
Dos numerosos apocalipses cristãos somente o
Apocalipse de João foi admitido no cânon.
Referência
MESTERS, Carlos. OROFINO, Francisco. Apocalipse de João. São Paulo: Santuário/ Fonte Editorial, 2013.
PRIGENTE, Pierre. O Apocalipse.
São Paulo: Loyola, 2002.
CASTRO, Flávio Cavalca. Apocalipse
Hoje: Pequeno comentário ao livro do Apocalipse. Aparecida/SP: Santuário,
2018.
Resumo:
Aula sobre o Livro do Apocalipse. David Rubens de Souza. 07/02/2019. FABAD.
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