O outro Jesus. Entrevista com
Reza Aslan
Reza Aslan, 41
anos, leciona na Universidade da Califórnia. Escritor e jornalista nascido
no Irã, chegou aos Estados Unidos com a família depois
da revolução de Khomeini. O livro no banco dos réus foi publicado na Itália
agora com o título Gesù il ribelle (Rizzoli) e nos EUA ele
domina as listas dos mais vendidos há meses, começando pela do New York
Times, que se levantou em defesa do autor.
A ideia é
de contar a figura de Cristo, separando a verdade histórica do mito
posterior. Uma operação amplamente explorada por outros no passado, mas
convincente, com uma narrativa fluida, sem nunca ferir a sensibilidade do
leitor, mesmo o mais religioso. Não há provocação, não há sarcasmo, mas apenas
a vontade de entender.
Entrevista.
Por que,
como estudioso, você optou por se ocupar de Jesus Cristo, sobre o qual já há uma
vasta produção literária?
É a
pessoa mais importante dos últimos 2 mil anos, está na base da civilização
ocidental. Eu queria separar a sua realidade histórica do mito religioso, que é
posterior. Eu queria explicar como um agricultor pobre e analfabeto conseguiu
fundar um movimento revolucionário em defesa dos deserdados e dos
marginalizados, chegando a desafiar de maneira direta o poder romano e das
hierarquias judaicas. Interessava-me imergir Cristo na sua
época, ver as suas ações relacionadas com os eventos daquele período: ações e
reações. Porque, se pensarmos na sua dimensão religiosa, é óbvio que não existe
o tempo, as suas palavras e as suas ações são eternas, valem sempre e para
sempre. Eu queria contar o homem, não Deus.
Como você
trabalhou?
Eu comecei
as pesquisas há 20 anos: primeiro como estudante e depois como professor. Usei
as fontes diretas da época, traduzi as versões originais do Novo
Testamento: me movimentei segundo os critérios científicos que geralmente
usamos na universidade para qualquer pesquisa. Depois, coloquei tudo o que eu
encontrei no relato, tentando fascinar o leitor, levá-lo para dentro da
fantástica vida de Jesus. Mas cada linha que eu escrevi está
documentada.
Que
relação você tem com a religião?
Eu a
estudo desde sempre, é a minha vida. Eu acredito em Deus, o propósito das
religiões é fornecer uma linguagem para ajudar as pessoas a definir a própria
fé. Depois de ter sido educado no cristianismo, agora me sinto mais próximo de
Islã. Eu não acho que seja mais justo ou que anuncie verdades mais fortes,
simplesmente sinto os seus mitos e as suas metáforas mais em concordância com o
meu mundo.
Você
acompanha a ação do Papa Francisco?
Certamente,
sou um entusiasta. Fui formado pelos jesuítas, e o método que eles me ensinaram
me levou a me apaixonar pelo Jesus histórico, antes ainda do que o religioso. O
meu livro está alinhado com a sua formação: ele relata um Cristo atento
principalmente aos pobres, à sua libertação, à sua salvação. Se o papa
conseguir, como está conseguindo, se manter fiel às suas origens, ele trará à
Igreja uma transformação nunca antes vista. É o retorno a uma vida sob o sinal
da vocação, longe da burocracia do poder: o seu exemplo será revolucionário. Eu
tenho certeza disso.
Você já
está trabalhando em um novo livro?
Eu
gostaria de escrever sobre as origens de Deus, sobre como evoluiu a sua figura
ao longo da história da humanidade, como mudou a concepção que os homens têm
dele.
Você gostaria de responder a uma pergunta nunca
feita?
A minha
mãe é cristã, assim como minha esposa e o meu irmão. Aos 15 anos, depois de ter
me deparado com Jesus ouvindo a sua história em um acampamento
de férias, eu fiquei tão extasiado saí pelas ruas parando os desconhecidos,
narrando-lhes a boa notícia: tipo um jovem pregador. Achavam que eu era louco.
Os meus pais se preocupavam. Eu nunca poderia escrever um livro contra os meus
valores, contra as pessoas que eu amo e nas quais eu acredito. Eu só queria
entender. Só entender.
Fonte: ihu.unisinos
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