domingo, 21 de dezembro de 2014

170 - A impossibilidade de reconstruir a personalidade de Jesus


Rudolf Bultmann publicou em 1926 um livro sobre Jesus. O livro é uma interpretação brilhante e singular da proclamação de Jesus. A proposta de Bultmann em seu livro não consistia em examinar a história de Jesus, mas sim, ir ao encontro dela.
No prefácio para a 3ª edição Walter Schmithals afirma: “O livro de Bultmann sobre Jesus é um documento histórico, uma obra que foi escrita por ele em uma determinada época, e que nessa época só poderia ter sido escrita por ele e que só poderia ter sido escrita por ele dessa maneira nessa época”.
A interpretação de Bultmann sobre a proclamação de Jesus ocorreu na situação concreta de uma pessoa que vive no seu tempo, porque só dentro da história pode chegar a ocorrer um diálogo com o passado histórico.

A situação histórica em que o livro de Bultmann foi escrito:
Desde meados do século 19 havia surgido uma vasta literatura sobre a vida de Jesus. A torrente dessa literatura fora desencadeada pela tentativa do teólogo David Friedrich Strauss[1], de fundar as verdades da fé não em uma pessoa, ou seja, em Jesus Cristo, mas diretamente na “idéia real”, no “espírito eterno”, no qual, de acordo com a filosofia de Hegel, Deus e humanidade são uma coisa só. De acordo com Strauss, aquilo que a tradição eclesial diz de Jesus Cristo na verdade deveria ser válido para a humanidade toda.
Contra essa negação radical do significado salvífico de Jesus Cristo, voltou-se mais tarde a assim chamada teologia da vida de Jesus de cunho liberal. Jesus foi recolocado no centro da teologia e da fé. Todavia com os meios liberais, para a qual a importância da pessoa residia em ser uma personalidade. Segundo a convicção dessa época, somente as personalidades atuam de modo efetivo na história. Para o teólogo liberal Adolf von Harnack[2] Jesus era a personalidade por excelência, e em Jesus tudo está em função da personalidade do indivíduo. A tarefa da teologia liberal era captar a personalidade de Jesus.
Duas gerações de teólogos liberais se empenharam em obter, mediante um trabalho crítico, uma imagem historicamente assegurada da personalidade de Jesus. A literatura volumosa do trabalho dos liberais mostrou a imagem de Jesus em todos os matizes imagináveis.
Em 1906 Albert Schweitzer publicou a História da pesquisa sobre a vida de Jesus, Schweitzer afirmou que não era mais possível fecha os olhos para o fato de que havia tantas diferentes vidas de Jesus quantos eram os teólogos, historiadores e psicólogos que se propuseram a escrever uma tal vida de Jesus. Cada uma das imagens do Jesus histórico, por eles esboçadas, refletia exatamente a personalidade moderna que para o próprio autor se afigurava como a ideal.
Rudolf Bultmann, através do método da história das formas literárias, descobriu que a tradição dos evangelhos se compõe de trechos  isolados, que tomaram formas de acordo com determinadas leis, mas que originalmente circulavam independentemente na comunidade. Os trechos isolados da tradição são mais antigos do que a moldura cronológica do evangelho que posteriormente foi criada. Com isso, caiu definitivamente por terra a possibilidade de escrever uma vida de Jesus e reconstruir um desenvolvimento da personalidade de Jesus.

Conclusão
Bultmann não disse que não podemos saber mais nada de Jesus. Ele jamais duvidou de que podemos obter uma imagem suficientemente clara do ensino e, portanto, das intenções e da obra de Jesus. O que Bultmann contesta é que se possa reconstruir a vida de Jesus e uma imagem de sua personalidade, nos moldes tentados pela teologia liberal. Porque, como afirma Bultmann, nem o próprio Jesus nem os seus primeiros adeptos pensaram que a salvação reside na personalidade; por essa razão, a tradição cristã não se interessou pela personalidade “Jesus”. Seu interesse estava voltado para a obra de Jesus, que atuava por meio de sua palavra, e esse é justamente o interesse que orienta o próprio Bultmann em seu livro sobre Jesus.


David Rubens
21 de dezembro de 2014

Estilo de Normalizar Citação De Acordo com as Normas da ABNT para Trabalhos Acadêmicos.
RUBENS, David. A impossibilidade de reconstruir a personalidade de Jesus. http://biblicoteologico.blogspot.com.br/2014/12/a-impossibilidade-de-reconstruir.html. Acesso em: _____________.




[1] David Friedrich Strauss (Ludwigsburg, Alemanha, 27 de Janeiro de 1808 - 8 de Fevereiro de 1874) foi um teólogo e exegeta alemão. Em Setembro de 1825 iniciou os seus estudos de teologia no seminário protestante de Tübingen, sendo depois professor no seminário de Maulbroon. Discípulo de Hegel, tornou-se muito conhecido após a publicação, em 1835, da obra Vida de Jesus, que causou escândalo nos meios religiosos da Alemanha. Para Strauss, o sucesso do cristianismo explicava-se por um "mito de Jesus", que teria sido forjado pela mentalidade judaica dos tempos apostólicos, e que não poderia ser sustentada pela ciência moderna - perspectiva depois adaptada por Ernest Renan na sua Vida de Jesus.
[2] Adolf von Harnack (Dorpat, Estónia, 7 de maio de 1851  Heidelberg, 10 de junho de 1930) foi um teólogo alemão, além de historiador do cristianismo. Suas duas obras mais conhecidas são o Manual de história do dogma, em três volumes e a série de palestras A essência do cristianismo, texto clássico da teologia liberal.

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Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.