segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

287 - Profeta Jonas: O Perdão de Deus Acima da Vontade Humana


Introdução                                                                                   
O livro de Jonas, o motivo da narração é o fato de um homem ter sido engolido por um peixe enorme, o qual, depois de três dias, o vomitou em terra permitindo-lhe continuar vivendo. Do ponto de vista literário e etnológico, a narração de Jonas se inscreve entre os mitos de deglutição.
O peixe que engole simboliza o poder da morte; a sua garganta corresponde às fauces da morte, que traga todo vivente; o seu estômago é símbolo do reino dos mortos onde o homem experimenta a ira de Deus. O grande peixe é a expressão imaginaria da monstruosidade de tal experiência. O vômito simboliza o renascimento para a vida.

1  O Mundo da Narrativa de Jonas
O mundo da narração de Jonas é vasto e múltiplo. O horizonte se estende do antigo porto fenício de Jope a Társis, na Cilícia, que para os israelitas daquele tempo eram as extremidades do mundo, que se estendia na direção oposta até a maior potência do tempo, a cidade de Nínive, que, na narração simboliza os poderes inimigos de Deus.

2  Quem é o Personagem
Há uma questão que permanece aberta: como pode o profeta “Jonas, filho de Amitai”, mencionado em 2Reis 14.25, vir a ser o protagonista do livro? Ligar o profeta Jonas à descrição de uma viagem a Nínive não tem base em fatos históricos. De fato, no tempo em que viveu o profeta Jonas (2RS 14.25), sob Jeroboão II (782-753 a.C.), “Nínive não era a residência dos reis assírios e nem se poderia dizer que fosse uma metrópole”.[1]
Pode-se representa do modo seguinte a formação da narração bíblica: uma saga, surgida na cidade de Jope ou nas vizinhanças, se infiltrou nas tradições dos gregos e dos hebreus. Em Israel esta história se prende ao nome do profeta Jonas, mencionado em 2Reis 14.25.

3  A Intenção do Livro
O que surpreende no livro é a crítica explícita de uma mentalidade estreita que excluía os pagãos da salvação.
A narração nos apresenta o profeta Jonas como um homem que pertence ao povo que serve ao único Deus verdadeiro. Mas ela chega a uma situação trágica: Jonas foge de Deus pelo mesmo motivo que Israel usa há muito tempo para honrá-lo: “Sois um Deus benigno e clemente, longânime e rico em misericórdia, e que desiste facilmente do mal ameaçado” (Jn 4.2). Por saber de tudo isso, Jonas foge. Para ele “os pagãos não deveriam ter possibilidade de conversão, mas deveriam permanecer expostos ao castigo divino”.[2]
Apesar da oposição humana, Deus mostra que dá o seu perdão a quem quer que se converta do seu mau caminho.
Jonas que desejaria excluir os pagãos da misericórdia de Deus, está errado: o Deus de Israel é o Senhor da vida e da morte de todos os homens, e não quer a punição mas a conversão dos pecadores. O perdão de Deus está acima de todo o cálculo e da vontade humana.

4  Período da Narração
Tudo nos leva a crer que esta narração se trata de uma obra pós-exílica. Tanto a linguagem como o estilo são claramente posteriores à época clássica da língua hebraica. O estilo faz pensar que se trata de uma espécie de panfleto dirigido à corrente judaica da época de Esdras.

Conclusão
O Deus de Israel rejeita tanto o pecado dos pagãos quanto o exclusivismo nacionalista do hebreu, que subentende a eleição de Israel como condenação para os outros povos. “Com o símbolo do peixe, da deglutição e do vômito, a narração proclama que é somente renascendo que o homem pode abrir os olhos para reconhecer o Deus de Israel e o seu desejo de perdoar”.[3]            

Bibliografia
SHREINER, Josef. Palavras e Mensagens do Antigo Testamento. São Paulo: Teológica; Paulus, 2004.
WOLFF, Hans Walter. A Bíblia Antigo Testamento: introdução aos escritos e aos métodos de estudo. São Paulo: Teológica; Paulus, 2003.


David Rubens de Souza
Pindamonhangaba-SP







[1] LORETZ, Oswald. Romance e Novela em Israel: Palavras e Mensagens do Antigo Testamento. São Paulo: Teológica; Paulus, 2004. p. 375.
[2] WOLFF, Hans Walter. A Bíblia Antigo Testamento: introdução aos escritos e aos métodos de estudo. São Paulo: Teológica; Paulus, 2003. p. 142.
[3] LORETZ, Oswald. Romance e Novela em Israel: Palavras e Mensagens do Antigo Testamento. São Paulo: Teológica; Paulus, 2004. p. 376.


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Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.