Introdução
O livro de Jonas, o motivo da narração é o fato de um
homem ter sido engolido por um peixe enorme, o qual, depois de três dias, o
vomitou em terra permitindo-lhe continuar vivendo. Do ponto de vista literário
e etnológico, a narração de Jonas se inscreve entre os mitos de deglutição.
O peixe que engole simboliza o poder da morte; a sua
garganta corresponde às fauces da morte, que traga todo vivente; o seu estômago
é símbolo do reino dos mortos onde o homem experimenta a ira de Deus. O grande
peixe é a expressão imaginaria da monstruosidade de tal experiência. O vômito
simboliza o renascimento para a vida.
1
O Mundo da Narrativa de Jonas
O mundo da narração de Jonas é vasto e múltiplo. O
horizonte se estende do antigo porto fenício de Jope a Társis, na Cilícia, que
para os israelitas daquele tempo eram as extremidades do mundo, que se estendia
na direção oposta até a maior potência do tempo, a cidade de Nínive, que, na
narração simboliza os poderes inimigos de Deus.
2
Quem é o Personagem
Há uma questão que permanece aberta: como pode o profeta
“Jonas, filho de Amitai”, mencionado em 2Reis 14.25, vir a ser o protagonista
do livro? Ligar o profeta Jonas à descrição de uma viagem a Nínive não tem base
em fatos históricos. De fato, no tempo em que viveu o profeta Jonas (2RS
14.25), sob Jeroboão II (782-753 a.C.), “Nínive não era a residência dos reis
assírios e nem se poderia dizer que fosse uma metrópole”.[1]
Pode-se representa do modo seguinte a formação da
narração bíblica: uma saga, surgida na cidade de Jope ou nas vizinhanças, se
infiltrou nas tradições dos gregos e dos hebreus. Em Israel esta história se
prende ao nome do profeta Jonas, mencionado em 2Reis 14.25.
3
A Intenção do Livro
O que surpreende no livro é a crítica explícita de uma
mentalidade estreita que excluía os pagãos da salvação.
A narração nos apresenta o profeta Jonas como um homem
que pertence ao povo que serve ao único Deus verdadeiro. Mas ela chega a uma
situação trágica: Jonas foge de Deus pelo mesmo motivo que Israel usa há muito
tempo para honrá-lo: “Sois um Deus benigno e clemente, longânime e rico em
misericórdia, e que desiste facilmente do mal ameaçado” (Jn 4.2). Por saber de
tudo isso, Jonas foge. Para ele “os pagãos não deveriam ter possibilidade de
conversão, mas deveriam permanecer expostos ao castigo divino”.[2]
Apesar da oposição humana, Deus mostra que dá o seu
perdão a quem quer que se converta do seu mau caminho.
Jonas que desejaria excluir os pagãos da misericórdia de
Deus, está errado: o Deus de Israel é o Senhor da vida e da morte de todos os
homens, e não quer a punição mas a conversão dos pecadores. O perdão de Deus
está acima de todo o cálculo e da vontade humana.
4
Período da Narração
Tudo nos leva a crer que esta narração se trata de uma
obra pós-exílica. Tanto a linguagem como o estilo são claramente posteriores à
época clássica da língua hebraica. O estilo faz pensar que se trata de uma
espécie de panfleto dirigido à corrente judaica da época de Esdras.
Conclusão
O Deus de Israel rejeita tanto o pecado dos pagãos quanto
o exclusivismo nacionalista do hebreu, que subentende a eleição de Israel como
condenação para os outros povos. “Com o símbolo do peixe, da deglutição e do
vômito, a narração proclama que é somente renascendo que o homem pode abrir os
olhos para reconhecer o Deus de Israel e o seu desejo de perdoar”.[3]
Bibliografia
SHREINER, Josef. Palavras e Mensagens do Antigo Testamento. São
Paulo: Teológica; Paulus, 2004.
WOLFF, Hans Walter. A Bíblia Antigo Testamento: introdução
aos escritos e aos métodos de estudo. São
Paulo: Teológica; Paulus, 2003.
David Rubens de Souza
Pindamonhangaba-SP
[1]
LORETZ, Oswald. Romance e Novela em
Israel: Palavras e Mensagens do Antigo Testamento. São Paulo: Teológica; Paulus, 2004. p. 375.
[2]
WOLFF, Hans Walter. A Bíblia Antigo
Testamento: introdução aos escritos e aos métodos de estudo. São Paulo:
Teológica; Paulus, 2003. p. 142.
[3]
LORETZ, Oswald. Romance e Novela em
Israel: Palavras e Mensagens do Antigo Testamento. São Paulo: Teológica;
Paulus, 2004. p. 376.
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