Introdução
O Evangelho de Mateus,
junto com o de Lucas tem quase o dobro da extensão do Evangelho de Marcos, tem
um plano mais vasto, graças ao acréscimo da pré-história (caps. 1-2) e de um
extenso apêndice (28.9-20). Estas duas observações se aplicam também a Lucas.[1] O
gênero “evangelho”, criado por Marcos serviu depois para a composição,
independente entre si, destes dois grandes evangelhos. Desde os tempos mais
antigos até hoje Mateus ocupa na Igreja um lugar de proeminência, com o qual somente
João pode se comparar.
1. Contexto da Tradição de Mateus
O clima sociorreligioso
da comunidade de Mateus é tenso. Um conflito sério opõe cristãos e judeus. O
Evangelho de Mateus nasceu para manter a coerência doutrinária de sua
comunidade e responder ao adversário. Em Mateus, Jesus é descrito como aquele
no qual se cumpre as profecias messiânicas. Com inspiração e autoridade, esse
Rei davítico assume os traços de um novo Moisés que, sem por fim à Lei judaica,
justapõe a ela intransigentes princípios morais baseados no Amor.
Ao longo de todo
Evangelho, Jesus ensina e cura:
Ao serviço da mensagem, os milagres atestam que a
libertação esperada com a vinda do Messias se realiza em Jesus. Assim,
libertado, aquele que crê no Mestre supremo recebe seu ensinamento, segue-o
passo a passo na fé, torna-se eventualmente seu discípulo e procura praticar
perfeitamente a lei do Reino.[2]
É isso que Mateus
demonstra, de um lado, aos judeus que se contrapõem à sua comunidade porque,
dizem eles, ela rejeita a Lei de Moisés em proveito de uma outra crença, e, de
outro, aos cristãos que fraquejam diante da perseguição.
2. Uma Comunidade Dividida
Além da disputa com os
judeus, uma crise interna atingiu a comunidade de MT.
Se, em Mateus, Jesus
insiste tanto sobre a Lei, é porque na comunidade mateana a Lei, se encontra
numa corrente hostil a toda norma moral. Voluntariamente laxista, à qual é
necessário mostrar a exigente dimensão ética da adesão ao Evangelho. Colocando
na boca de Jesus a afirmação: “não penseis que vim revogar a Lei e os profetas”
(Mt 5.17), “Mateus corrige uma nociva compreensão da relação entre o cristão e
a Lei, que divide a comunidade.”[3]
Conclusão
Atrás do Evangelho de
Mateus encontra-se uma Igreja local, cuja “doutrina” pode ser discernida com precisão.
As suas características principais são: a discussão histórico-salvífica com o
judaísmo farisaico-rabínico, o desenvolvimento da autocompreensão como o
“verdadeiro Israel”, uma cristologia geralmente sinótica, mas com traços
próprios, e, finalmente, um ensinamento sobre o verdadeiro discípulo, de acordo
com as exigências de Jesus, com fundamento no “cumprimento da Lei”, que deve
superar com as obras o juízo ameaçador.
David Rubens
Pindamonhangaba-SP
[1]
TRILLING, Wolfgang. Mateus, O Evangelho
Eclesiástico: Forma e Exigências do Novo Testamento. 2. Ed. São Paulo: Teológica,
2004. p. 235.
[2]
BONNEAU, Guy. Profetismo e Instituição no
Cristianismo Primitivo. São Paulo: Paulinas, 2003. p. 222.
[3]
BONNEAU, Guy. Profetismo e Instituição no
Cristianismo Primitivo. São Paulo: Paulinas, 2003. p. 190.
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