Introdução
Os
livros históricos têm por tema principal as relações de Israel com Yhaveh, sua
fidelidade ou infidelidade, os portadores da Palavra de Deus são os profetas.
Os profetas intervêm com freqüência:
-
Samuel
- Natã
- Elias
-
Eliseu
-
Isaías
-
Jeremias
Estes
livros, por seu conteúdo, constituem a sequência do Pentateuco; no fim do
Deuteronômio, Josué é designado como o sucessor de Moisés, e o livro de Josué
começa no dia seguinte ao da morte de Moisés. Alguns supõem que há uma unidade
literária entre os dois conjuntos, formando-se um Hexateuco;[1] alguns incluem até os livros dos
Reis. Mas esforços para se reencontrar documentos do Pentateuco em Juízes,
Samuel e Reis não deram nenhum resultado satisfatório. Contudo, a influência do
Deuteronômio e de sua doutrina é clara nos livros de Josué, Juízes, Samuel e
Reis. Surgiu então a hipótese de que o Deuteronômio seriá o começo de uma
grande história religiosa que se prolonga até o fim de Reis.
Em
1943, na Alemanha, Martin Noth propôs pela primeira vez, que os livros de
Josué, Juízes, Samuel e Reis foram uma coletânea de tradições, que deverá ser
chamada de historiografia deuteronomista.[2] Nome que lhe
é atribuído por sua grande semelhança com as leis e os discursos exortativos do
Deuteronômio. Livro este, que por sua vez, em seus discursos iniciais, cumpre a
função de introdução à coletânea. Para Noth, a OHDtr teria sido redigida por um
só autor, possivelmente na Palestina do século VI a.C. com o objetivo de
explicar o fim do reino de Judá e o exílio babilônio então em curso como fruto
da apostasia do povo.[3]
A
relação deuteronomista se exerceu sobre tradições orais ou documentos escritos,
que diferem pela idade e pelo caráter e que, já estavam agrupados em coleções;
e a redação retocou de modo desigual os materiais que usava. Isso explica
porque os livros, ou grandes seções deles, conservam sua individualidade. Esta
relação deutenonomista não foi feita de uma só vez, cada livro passou por
várias edições.
Estes
livros são obra de uma escola de homens piedosos, imbuídos das idéias do
Deuteronômio.
1 Conflito e pacto na
terra de Canaã
De
Vaux, fala de um processo de assentamento gradual, lento, de caráter pacífico e
em muitos casos feito com alianças, justamente com momentos de conquistas, mas
que, em nenhum caso, seria concluída com Josué.[4]
2 Das alianças tribais à monarquia
Durante
o século XI a.C., a necessidade das alianças é incrementada pela necessidade de
responder aos conflitos com outros povos em disputa pelo pequeno território, ou
área de controle.
Dentre
os inimigos externos o primeiro lugar é ocupado pelos filisteus, um dos “povos
do mar”, que invadiam desde meados do século XII a costa do mediterrâneo
oriental. Os filisteus possuíam uma superioridade militar em razão da qualidade
de seu armamento.[5]
Na
Transjordânia, encontramos três grupos em contínuo relacionamento com Israel:
os amonitas, os moabitas e os edomitas.
No
período dos juízes, o sistema de federação era democrático ocasional, quando a
necessidade, representada pelo conflito exterior o exigese.
3 Rumo a monarquia e
ao primeiro estado de Israel
Questões
que contribuíram para o surgimento da monarquia:
· Pressão externa crescente.
· Conquista e ocupação.
· Assentamentos urbanos.
· Evolução e notável unificação de
tradições literárias comuns.
· Desenvolvimento legal e cultual do
Javismo.
· Crescimento de santuários locais.
· Necessidades econômicas de uma
sociedade em acelerado processo evolutivo.
4 Surgimento da
monarquia
Tendência
antimonárquica (1Sm 8.10,17-27; 13,7-15; 28). A monarquia foi rejeitada por
alguns grupos sociais, com base em experiências negativas das gerações
posteriores, as quais viveram o fracasso e o próprio exílio.
As
criticas proviam dos que se sentiam afetados pela mudança, eram feitas também
por um grupo que sonhavam com uma sociedade representada pelos valores do
Javismo: o profetismo de Israel. O profeta, símbolo da critica à realeza foi
Samuel.[6]
5 As primeiras
tentativas em direção à monarquia
-
Abímeleque em Siquém: Jz 9. Três anos durou a tentativa de
Abímeleque constituir uma monarquia a partir de Siquém. Não expandiu
territorialmente, o território de Abímeleque não passou de uma cidade estado. O
próprio Abímeleque destruiu Siquém que contra ele se rebelara.[7]
-
Jefté em Gileade:[8] Jz 10-12. Jefté atuou como um
libertador carismático (Jz 11.290. Jefté, com o título de “cabeça” e de
“chefe”, permite perceber como a monarquia vai brotando de dentro das
necessidades clânico-tribais. Os anciões detêm a representação. Mas o
tribalismo apresenta aspectos de desintegração social. No entanto, Jefté
conseguiu apenas 6 anos de “juiz menor” (Jz 12.7).
6 Saul em Gibeá
Antes
de tornar “rei”, Saul é “libertador”.[9] Situa-se, nas proximidades de Jefté
ou de Gideão-Abimeleque.
O cenário do reino de Saul – está
limitado ao território de Efraim e Benjamim, onde se situam todas as
localidades que nas histórias de Saul são dotadas de papéis institucionais ou,
de qualquer modo, significativos. Os locais cerimôniais estão no território de
Efraim, de onde vem o profeta Samuel: Shilo (onde está a arca de Yahweh
Seba’ot), Bet-El (o maior santuário da região), Gilgal (onde Saul é proclamado rei). Os locais políticos estão em Benjamim,
de onde vem o rei Saul: Mispa (onde se reúne a assembléia popular), Gibe’a
(onde reside Saul), Rama (onde habita o profeta Samuel), Mikmas (lugar de
batalha).[10]
A base
do poder de Saul são os parentes e a vontade coletiva dos “homens livres”[11] aqueles que tinham acesso a terra.
Mas estes camponeses, que eram bastante eficientes em guerras, não estavam
dispostos a estar continuamente à disposição do rei Saul, saído rei de dentro
do tribalismo, esta em choque frontal com essa sua própria origem.[12]
A pedra
de tropeço para Saul veio a ser Samuel. Este vivia o tribalismo em todo o seu
vigor, Samuel era profeta, sacerdote e líder carismático. Ungiu-o e,
simultaneamente, o destituiu.
Saul,
oriundo da aldeia de Gibeá, segmento social novo, baseado na economia do boi.
Saul defende cidade de Jabes. Há interesses comuns entre criadores de gado e
cidades um necessita do outro.
A base
real da monarquia de Saul situa-se entre os criadores de gado de Gibeá e as
potencialidades comerciais de uma cidade como Jabes, nas proximidades da rota
comercial da transjordania.
Saul é
rei em Gilgal, as tradições cúlticas de Gilgal remonta ao passado tribal.
Em Saul aparece a grandeza do estado
territorial:
·
De
Gibeá, vai socorrer Jabes, em Gileade.
·
Reúne
seu exército a lesta da Planície de Jezreel.
·
Torna-se
rei longe de Jabes e de Gibeá, em pleno vale do Jordão, em Gilgal.
·
Luta
contra os amalequitas, no sul palestinense.
·
Suncumbe
lá no norte na luta contra os filisteus.
O
Estado de Saul é territorial, substitui a prática das cidades-estados. Nem
Abimeleque e nem Jefté haviam alcançado este nível político.
A
monarquia, o estado, era realidade social nos vales. Daí o povo havia fugido
para as montanhas. Mas, a monarquia por fim, também alcançou as montanhas,
vencem o tribalismo. Isto se passou entre 1050 a.C. e 926 a.C.[13]
A
monarquia se impõe, mas o tribalismo jamais deixou de existir. Os profetas
continuam sendo a voz das tribos. Fonte de sua resistência contra reis e
impérios.[14]
O
Estado de Saul é bem episódico. Há textos que dão a entender que durou 20 anos,
talvez só tenha sido 2! Não formou um exercito profissional (1Sm 31). Não
organizou uma capital. Não exigiu tributo. Sua família e alguns amigos era sua
corte.
O
suporte do estado de Saul eram os “homens”, os camponeses livres e mais
abastados, os donos de gado (1 Sm 11). Estes só queriam um rei quando os
inimigos estavam próximos.[15]
Saul
ficou sozinho com sua família e seu estado foi destruído pelos filisteus. Quem
sepultou Saul foram os de Jabes (1Sm 2.4). De chefe carismático, Saul foi
transformado em louco e ímpio. Saul sacrifica pessoalmente e não por meio do
sacerdote Samuel (1Sm 13.7-15), não pune as infrações aos votos (1Sm 14.24-35),
não se atém as normas do herem (1Sm 15.7-9), consulta uma necromante (1Sm 28).
Esta difamção é posta em prática logo depois dos eventos, em beneficio de
Davi.
7 Davi no deserto
Davi
foge de Saul para o deserto. Junta-se com 400 homens, habiru (1Sm 22.2).
Torna-se seu líder e comandante. Este grupo torna-se defensores do gado dos
ricos.[16]
-
A caminhada de Davi em direção ao
trono:
·
Toma
Hebrom, o centro da grande Judá.
·
Os
de Judá o tornam seu rei na cidade ocupada por seu exercito.
·
Israel
o aclama seu rei para ver-se livre dos filisteus.
·
Derrota
os filisteus e põe sob seu controle a rota comercial.
-
A liderança de Davi em pontos
estratégicos:
ü Unção em Belém por Samuel: 1Sm 16.4
ü Aclamado rei de Judá em Hebrom: 2Sm
2.4
ü Ungido rei sobre Israel em Hebrom por
todas as tribos: 2Sm 5.3
Quem
fosse contra Davi era morto.[18] No final da vida de Davi existiram
muitas lutas pela sucessão. Haviam grupos mais ligados ao campo, a Judá, contra
outros mais ligados à cidade.[19]
8 O reino de Salomão
A
figura de Salomão (que sucedeu a Davi no final de sangrentas lutas de corte)[20] está ligada a um cenário de
expanção, que chegou a compreender todo o território tribal, do Negev à Alta
Galiléia.
Salomão
organiza o tributo interno, em forma de arrecadação de alimentos e de trabalho
forçado. Quem mantinha a corte de Davi eram os povos vizinhos.[21]
O
exercito de Salomão não fez guerra com os vizinhos. O inimigo desse exército
era interno, eram os camponeses.
Salomão
dividiu seu reino em províncias responsáveis pela comida na corte, no estado. A
construção do templo esta em função da tributação. O templo é dedicado a Javé,
Deus do camponês, de outra forma os camponeses não pagariam seus tributos.[22]
9 Os dois reinos: Judá
e Israel
Com a
morte de Salomão termina o reino unido 926 a.C. Começa a história dos dois reinos:[23] Judá e Israel. Esse período termina
para Israel em 722 a.C., quando Samaria é anexada ao sistema de províncias
assírias. Para Judá, termina em 701 a.C., quando Jerusalém é cercada pelos
assírios e quase conquistada.[24]
“A
união surgirá por pressão externa dos filisteus, a divisão pertence ao âmbito
da autonomia do povo da montanha”.[25] A divisão em dois reinos é obra do
tribalismo do Norte, que não queria continuar submetendo-se a Jerusalém (1Rs
11.26-40).
No Sul continua dinastia de Davi até 587
a.C., até a destruição de Jerusalém pelos babilônios.
-
O
Sul/Judá era dinástico: tradicional.
-
O
norte/Israel era monárquico: Golpista.
David Rubens de Souza
Pindamonhangaba-SP
[1]
RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo
Testamento. São Paulo: Aste, 2006.
[2]
RÖMER, Thomas. A Chamada História
Deuteronomista: Introdução Sociológica e Literária. Petropolis/RJ. Vozes, 2005. p. 21.
[3]
Gerhard von Rad concorda: “A obra surgiu na época do exílio babilônico. Por
pouco que saibamos a respeito do lugar em que foi redigida e da origem do
redator”. RAD, Gerhard von. Teologia do
Antigo Testamento. São Paulo: Aste, 2006. p. 327.
[4]
BLANC. Luis Fernando Girón. Israel Uma
terra em conflito. São Paulo: Paulinas, 2000, p. 17.
[5]
Ibidem, p. 19.
[6]
Ibidem, p. 30
[7]
SCHWANTES, Milton. As Monarquias no
Antigo Israel: um roteiro de pesquisa histórica e arqueológica. Paulinas:
São Paulo, 2006, p. 16.
[8]
Gileade: região fértil,é abundantemente alcançada pelas chuvas. Produz
excedentes. Suas heranças (Jz 11.2) podem ser significativas. Vizinhos
monarquia: edomitas, moabítas, amonitas. No norte haviam os estados
arameus.
[9]
Casa de Saul: 1Sm 10.26. Saul ajuda Jabes: 1Sm 11.5. Ungido rei em Gilgal: 1Sm
11.15.
[10]
LIVERANI, Mario. Para além da Bíblia:
História antiga de Israel. São Paulo: Paulus; Loyola, 2008, p. 124.
[11] O
exército (1Sm 13.1-2) é composto por 2 mil homens de Efraim e mil de Benjamim.
A corte tem caráter familiar (o primeiro Abner, o filho Jônatam) e função
militar; o próprio rei é belo e alto, forte e hábil combatente, e é designado
rei para guiar o povo na guerra. Não vestígio de um aparato fiscal ou
administrativo. LIVERANI, p. 124.
[12]
SCHWANTES, Milton. As Monarquias no
Antigo Israel: um roteiro de pesquisa histórica e arqueológica. São Paulo:
Paulinas, 2006, p. 21.
[13]
Idem. Breve história de Israel. São
Leopoldo/RS: Oikos. 2008, p. 18.
[14]
Ibidem, p. 18.
[15]
Ibidem, p. 23.
[16]
Davi põe em prática uma típica política de “chefe de bando”, exigindo tributos
em troca de proteção (1Sm 25.4-8). LIVERANI, p. 128.
[17]
Siquém, Gibeá, Hebrom e Jerusalém situam-se todas numa mesma rota comercial,
naquela que acompanha a divisa de águas, nas montanhas, na direção Sul-Norte:
SCHWANTES, Milton. As Monarquias no
Antigo Israel: um roteiro de pesquisa histórica e arqueológica. São Paulo:
Paulinas, 2006, p. 30.
[18]
Seba da tribo de Benjamim, é morto por propor retorno ao tribalismo (2Sm 20.1).
[19]
SCHWANTES, op. cit., p. 24.
[20] Salomão
representa a cidade de Jerusalém, a elite, o comercio. Adonias, o campo, Judá.
[21]
Um reino soldadesco (Davi) substituído por um reino administraivo (Salomão) com
ênfase na corvéia (1Rs 5.27-28; 9.22) e na taxação (1Rs 5.2-8). LIVERANI. p.
135.
[22]
SCHWANTES, Milton. As Monarquias no
Antigo Israel: um roteiro de pesquisa histórica e arqueológica. São Paulo:
Paulinas, 2006, p. 25.
[23]
Para Liverani os reinos de Judá e Israel jamais estiveram unidos, ambos muito
pequenos, o reino de Israel estava separado das tribos galiléias pela
permanência do corredor “cananeu” da baía de ‘Akko ao médio Jordão. LIVERANI.
p.139.
[24]
SCHWANTES, op. cit., p. 28
Ótimo texto. Parabéns.
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