Arqueologia
das terras da Bíblia
Na história da pesquisa
bíblica, a arqueologia sempre tem tido papel determinante. Nas últimas décadas,
com o desenvolvimento de novas técnicas, novos métodos e a inclusão de novas
ciências, esse papel tem aumentado. As novas descobertas arqueológicas exigem
dos estudiosos uma revisão ampla da compreensão dos textos bíblicos,
particularmente no que diz respeito ao contexto histórico e literário. O livro
trata dos principais sítios arqueológicos de Israel e alguns da Jordânia, sendo
de excelente ajuda para estudantes, professores e também para peregrinos às
terras santas terem uma informação prévia e concisa dos lugares a visitar.
Pg. 96
A
Bíblia, a arqueologia e a história de Israel e Judá
Nas duas últimas
décadas, a arqueologia e as pesquisas literárias da Bíblia têm mudado a
compreensão da história de Israel. Tanto que, em nossos dias, não é mais
apropriado pensar Israel e sua história como única grande entidade nacional sob
um único governo, mas como duas entidades distintas: Israel Norte e Judá. O
marco é 722 a.C., quando a Assíria invade a capital Samaria. Só então Judá se
torna independente do domínio do norte, se desenvolve e começa a escrever a
história, incorporando e assumindo as tradições do norte como suas. Portanto,
“desenterrar” a memória de Israel Norte é ainda uma tarefa longa, mas que este
livro se propõe a iniciar: a história vista a partir de Israel Norte.
Pg. 112
A
importância da arqueologia
José
Ademar Kaefer
Quando se trata da
exegese histórico-crítica, desempenha um papel cada vez mais relevante a
arqueologia. Pois, quando o texto bíblico fala, por exemplo, de uma cidade ou
de uma aldeia, nem sempre traz informações suficientes para sabermos como era a
vida ali: sua economia, as relações sociais, festas, crenças, geografia etc.
Temos que nos reportar, então, a informações que, graças às escavações
arqueológicas, nos permitem saber de coisas que o texto bíblico não revela,
coisas que por muito tempo estavam ocultas sob as pedras. Obviamente, não
obtemos todas as informações, pois muitas ainda permanecem enterradas, à espera
de serem encontradas.
Certamente a
arqueologia tem mais facilidade para encontrar sinais que relatam a estrutura e
a organização das cidades e de suas construções – palácios, templos, muralhas,
portões, monumentos –, que falam da vida dos reis, do exército e dos ricos. Em
contrapartida, é mais difícil encontrar artigos, objetos que falam do cotidiano
do povo pobre, das aldeias, das vilas, das casas, das tendas, da vida do povo
nômade. Esses sinais são facilmente destruídos pelo tempo. Eles existem, mas exigem
maior atenção e, obviamente, interesse.
Há que se tomar
cuidado, no entanto, para não sobrepor as descobertas arqueológicas ao texto
bíblico. Elas devem ser um auxiliar para uma melhor compreensão deste. A Bíblia
vê e narra a realidade com a preocupação de mostrar a ação de Deus na história,
coisa que a arqueologia não tem como escavar. Sua função é a de fazer a leitura
preliminar da sociedade, da maneira mais neutra possível. A partir 9 dessa
leitura preliminar, os exegetas devem adentrar o texto bíblico. O que não se
pode fazer, para uma boa exegese, é cometer o disparate de ignorar as
descobertas arqueológicas. Portanto, a melhor atitude do exegeta ou do
estudioso da Bíblia é quando ele é capaz de estabelecer um diálogo franco entre
o texto bíblico e a arqueologia. É a partir desses pressupostos que queremos
apresentar a história da monarquia em Israel e Judá.
As descobertas
arqueológicas podem causar em nós certo mal- -estar, devido a incertezas diante
da Palavra de Deus. Isso é normal, pois temos a Bíblia como referência para a
nossa fé e, consequentemente, para o nosso agir. Pode ser que alguém se sinta
como se tivesse sido enganado durante toda a sua vida, uma vez que durante os
últimos cem anos a interpretação bíblica ensinava outra coisa. Devemos ter em
mente que ninguém tem a última palavra quando se trata de pesquisa e
interpretação bíblica. Seguramente, outras pesquisas e respostas estão por vir,
e, provavelmente, ainda mais questionadoras que as que iremos apresentar em
nossa obra. A pesquisa bíblica é assim: mexe conosco porque somos pessoas de
fé, idealistas que sonham com um mundo mais fraterno e justo, e que têm a
Bíblia como uma das grandes referências. Imaginemos o impacto que teve há cem
anos, quando os primeiros estudiosos da Bíblia começaram a utilizar a
arqueologia e concluíram, por exemplo, que os relatos da criação e do dilúvio
narrados no livro do Gênesis foram influenciados pelos mitos do Antigo Oriente,
e que Adão e Eva, como tal, nunca existiram. Ou que Moisés não escreveu o Pentateuco,
como se presumia até então. São coisas que para nós, hoje, são facilmente
aceitas. Presumo que, daqui a alguns anos, aquilo que expomos aqui também o
será.
José
Ademar Kaefer
Possui Licenciatura em
Filosofia pela Universidade Católica do Paraná (PUCPR) (1985), graduação em
Teologia pelo Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP) (1992),
mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo
(UMESP) (1999) e doutorado em Teologia Bíblica pela Universidade de Münster,
Alemanha (Westfälischen Wilhelms-Universität Münster) (2004). Lecionou no
Instituto Teológico São Paulo de Estudos Superiores (ITESP), nas Faculdades
Integradas Claretianas (UNICLAR) e foi assessor do Centro Bíblico Verbo. Desde
2012 é professor titular permanente do Programa de Pós-graduação em Ciências da
Religião na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Coordena o grupo de
pesquisa Arqueologia do Antigo Oriente Próximo, onde privilegia o estudo dos
sítios arqueológicos em vista da análise exegética das Escrituras Judaicas e
sua contribuição para o diálogo ecumênico e inter-religioso no mundo atual.
David Rubens
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