terça-feira, 13 de outubro de 2015

273 - Bíblia e Arqueologia. José Ademar Kaefer

Arqueologia das terras da Bíblia
Na história da pesquisa bíblica, a arqueologia sempre tem tido papel determinante. Nas últimas décadas, com o desenvolvimento de novas técnicas, novos métodos e a inclusão de novas ciências, esse papel tem aumentado. As novas descobertas arqueológicas exigem dos estudiosos uma revisão ampla da compreensão dos textos bíblicos, particularmente no que diz respeito ao contexto histórico e literário. O livro trata dos principais sítios arqueológicos de Israel e alguns da Jordânia, sendo de excelente ajuda para estudantes, professores e também para peregrinos às terras santas terem uma informação prévia e concisa dos lugares a visitar.
Pg. 96



A Bíblia, a arqueologia e a história de Israel e Judá
Nas duas últimas décadas, a arqueologia e as pesquisas literárias da Bíblia têm mudado a compreensão da história de Israel. Tanto que, em nossos dias, não é mais apropriado pensar Israel e sua história como única grande entidade nacional sob um único governo, mas como duas entidades distintas: Israel Norte e Judá. O marco é 722 a.C., quando a Assíria invade a capital Samaria. Só então Judá se torna independente do domínio do norte, se desenvolve e começa a escrever a história, incorporando e assumindo as tradições do norte como suas. Portanto, “desenterrar” a memória de Israel Norte é ainda uma tarefa longa, mas que este livro se propõe a iniciar: a história vista a partir de Israel Norte.
Pg. 112




A importância da arqueologia
José Ademar Kaefer

Quando se trata da exegese histórico-crítica, desempenha um papel cada vez mais relevante a arqueologia. Pois, quando o texto bíblico fala, por exemplo, de uma cidade ou de uma aldeia, nem sempre traz informações suficientes para sabermos como era a vida ali: sua economia, as relações sociais, festas, crenças, geografia etc. Temos que nos reportar, então, a informações que, graças às escavações arqueológicas, nos permitem saber de coisas que o texto bíblico não revela, coisas que por muito tempo estavam ocultas sob as pedras. Obviamente, não obtemos todas as informações, pois muitas ainda permanecem enterradas, à espera de serem encontradas.
Certamente a arqueologia tem mais facilidade para encontrar sinais que relatam a estrutura e a organização das cidades e de suas construções – palácios, templos, muralhas, portões, monumentos –, que falam da vida dos reis, do exército e dos ricos. Em contrapartida, é mais difícil encontrar artigos, objetos que falam do cotidiano do povo pobre, das aldeias, das vilas, das casas, das tendas, da vida do povo nômade. Esses sinais são facilmente destruídos pelo tempo. Eles existem, mas exigem maior atenção e, obviamente, interesse.
Há que se tomar cuidado, no entanto, para não sobrepor as descobertas arqueológicas ao texto bíblico. Elas devem ser um auxiliar para uma melhor compreensão deste. A Bíblia vê e narra a realidade com a preocupação de mostrar a ação de Deus na história, coisa que a arqueologia não tem como escavar. Sua função é a de fazer a leitura preliminar da sociedade, da maneira mais neutra possível. A partir 9 dessa leitura preliminar, os exegetas devem adentrar o texto bíblico. O que não se pode fazer, para uma boa exegese, é cometer o disparate de ignorar as descobertas arqueológicas. Portanto, a melhor atitude do exegeta ou do estudioso da Bíblia é quando ele é capaz de estabelecer um diálogo franco entre o texto bíblico e a arqueologia. É a partir desses pressupostos que queremos apresentar a história da monarquia em Israel e Judá.
As descobertas arqueológicas podem causar em nós certo mal- -estar, devido a incertezas diante da Palavra de Deus. Isso é normal, pois temos a Bíblia como referência para a nossa fé e, consequentemente, para o nosso agir. Pode ser que alguém se sinta como se tivesse sido enganado durante toda a sua vida, uma vez que durante os últimos cem anos a interpretação bíblica ensinava outra coisa. Devemos ter em mente que ninguém tem a última palavra quando se trata de pesquisa e interpretação bíblica. Seguramente, outras pesquisas e respostas estão por vir, e, provavelmente, ainda mais questionadoras que as que iremos apresentar em nossa obra. A pesquisa bíblica é assim: mexe conosco porque somos pessoas de fé, idealistas que sonham com um mundo mais fraterno e justo, e que têm a Bíblia como uma das grandes referências. Imaginemos o impacto que teve há cem anos, quando os primeiros estudiosos da Bíblia começaram a utilizar a arqueologia e concluíram, por exemplo, que os relatos da criação e do dilúvio narrados no livro do Gênesis foram influenciados pelos mitos do Antigo Oriente, e que Adão e Eva, como tal, nunca existiram. Ou que Moisés não escreveu o Pentateuco, como se presumia até então. São coisas que para nós, hoje, são facilmente aceitas. Presumo que, daqui a alguns anos, aquilo que expomos aqui também o será.


José Ademar Kaefer
Possui Licenciatura em Filosofia pela Universidade Católica do Paraná (PUCPR) (1985), graduação em Teologia pelo Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP) (1992), mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) (1999) e doutorado em Teologia Bíblica pela Universidade de Münster, Alemanha (Westfälischen Wilhelms-Universität Münster) (2004). Lecionou no Instituto Teológico São Paulo de Estudos Superiores (ITESP), nas Faculdades Integradas Claretianas (UNICLAR) e foi assessor do Centro Bíblico Verbo. Desde 2012 é professor titular permanente do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Coordena o grupo de pesquisa Arqueologia do Antigo Oriente Próximo, onde privilegia o estudo dos sítios arqueológicos em vista da análise exegética das Escrituras Judaicas e sua contribuição para o diálogo ecumênico e inter-religioso no mundo atual.


David Rubens



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Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.