quinta-feira, 23 de julho de 2015

230 - Bultmann: a relação entre o Jesus histórico e a pregação da igreja




Para Bultmann, a questão sobre Jesus e Paulo é representativa de um assunto teológico mais amplo, a saber, a relação entre o Jesus histórico e a pregação da igreja. Em 1892, em seu protesto contra as explicações liberais da vida de Jesus – em que se procurava substituir o Cristo da fé da igreja por um Jesus fraco, historicamente incerto e teologicamente irrelevante –, M. Kähler insistiu vigorosamente nesse assunto. Bultmann tinha a mesma convicção que Kähler, segundo a qual se deve aplicar ao método teológico o princípio reformado da justificação pela fé: verdades teológicas jamais podem ser validadas pelos resultados limitados e inseguros da pesquisa histórica; elas são alcançadas apenas pela fé. Por isso, a teologia cristã jamais poderá ser confinada às reconstruções provisórias do Jesus histórico elaboradas pelos estudiosos ou mesmo tomá-las como seu ponto de partida. O ponto de partida é sempre o querigma – o Cristo crucificado foi ressuscitado dos mortos e deve ser reconhecido como Senhor.
Bultmann acreditava que, por não haver em Paulo referências à vida e ao ensino de Jesus, a única coisa acerca do Jesus histórico significativa para a pregação e a fé da igreja era que Jesus, o crucificado, foi um fato histórico. Tudo o mais que fosse teologicamente importante a seu respeito foi estabelecido pela ressurreição e pela pregação da igreja, não pelos fatos e acontecimentos da vida histórica de Jesus. A importância do Jesus histórico para a fé foi simplesmente que ele viveu, não como ele viveu.

Na teologia de Paulo, “não se obtém conhecimento acerca do Messias: ou a pessoa o reconhece ou o rejeita” (Bultmann, 1929, p. 236). Se Jesus é mestre ou exemplo, isso ocorre somente por já ser reconhecido como Senhor – “não é o caráter exemplar do Jesus histórico que o torna Senhor” (Bultmann, 1929, p. 239). Dessa forma, Bultmann considera teologicamente suspeito o clamor radical: “Deixar Paulo para trás e voltar-se para Jesus”. “Tudo que se pode fazer é ir a Jesus por meio de Paulo, ou seja, Paulo indaga à pessoa se ela está desejosa de entender o ato de Deus em Cristo como o acontecimento que resolveu e resolve a questão acerca do mundo e de nós” (Bultmann, 1936, p. 201).

Nenhum comentário:

Postar um comentário


Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.