Jean-Marie Guyau (Laval, 28
de Outubro de 1854 - Menton, 31 de Março de 1888)
foi um filósofo e poeta francês, por vezes considerado como
o Nietzsche francês.
Apaixonado pela poesia e
pela filosofia, Guyau estudou os grandes clássicos, com uma preferência marcada
pela obra de Victor Hugo, Pierre Corneille, Alfred de Musset, Epicteto, Platão e Emmanuel
Kant. Licenciado em letras aos 17 anos de idade, traduziu o Manual de
Epicteto.
Rendeu-se ao estoicismo,
que inspiraria a sua resistência sorridente à tísica (tuberculose) doença que
lhe seria fatal aos 32 anos de idade. Também se deixou seduzir pelos escritos
de Herbert Spencer, cujas linhas de força retomaria na sua obra La
Morale anglaise contemporaine. Professor no Lycée Condorcet, publicou
obras pedagógicas. Quando a doença que o vitimaria se declarou, instalou-se no
Midi francês procurando que a ajuda da amenidade do clima, redigindo então
numerosas obras de filosofia e de poesia.
A sua principal obra, Esquisse
d'une morale sans obligation ni sanction, profundamente inovadora, aparenta ter
impressionado, e sem dúvida influenciado, Friedrich Nietzsche, que cobriria o
seu exemplar da obra de Guyau com abundantes notas marginais durante a sua
estadia em Nice. Nietzsche comentou e citou abundantemente aquela obra,
bem como A Irreligião do Futuro, outra importante obra de Guyau, no seu Ecce
homo. Da mesma maneira, Henri Bergson, ao ler Vladimir Jankélévitch,
retomou em parte as intuições de Guyau no que respeita à ideia de vida. Piotr
Kropotkin refere igualmente Guyau na sua obra A Moral Anarquista,
indo ao ponto de se referir a Guyau como o jovem fundador da ética
anarquista, ética que define como a ciência da moral das
sociedades.
A sua esposa publicou,
sob o pseudónimo de Pierre Ulric, curtos romances destinado ao público
infanto-juvenil. Jean-Marie Guyau foi o pai do filósofo Augustin Guyau.
Livro de muitas paginas mas vale a pena ler, a leitura é extremamente prazerosa, recomendo.
A IRRELIGIÃO DO FUTURO
Neste livro, Jean-Marie
Guyau discute o futuro das religiões como uma paulatina dissolução de
seus dogmas em nome da construção de 'uma moral cósmica panteísta'. Para ele,
um mundo em contínuo progresso material e científico tenderia a substituir os
fanatismos e as intolerâncias que geram as dissensões e as guerras religiosas.
A irreligião do futuro não afirma o fim das religiões, mas dos
dogmatismos, abrindo a perspectiva de uma relação real entre o homem e o mundo,
já que, livre dos preconceitos nascidos da ignorância, o homem se daria conta
de que é parte de um todo maior, parte da natureza, parte da vida - essa mesma
vida que, tal como Nietzsche, Guyau não parou de afirmar e de exaltar, mesmo
quando, ainda jovem, descobriu-se perto da morte.
P. 872
Martins Fontes
Comecei a ler e não consegui parar, belíssimo livro.
GÊNESE DA IDEIA DE
TEMPO E OUTROS ESCRITOS
Dizer que o tempo em si não existe, que ele é uma ideia que se forma em nós a partir dos movimentos do
mundo, pode parecer algo absolutamente inusitado. Afinal, estamos realmente
acostumados a pensá-lo como uma realidade dada. Mas, apesar do caráter polêmico
dessa concepção de Jean-Marie Guyau, a verdade é que não temos do tempo uma percepção real, mas apenas sinais materiais
que julgamos ser a prova de sua passagem. Que tudo passa, é uma verdade que não
está em jogo. O que está em jogo é: existe mesmo um tempo que passa como um relógio abstrato? Esta é uma
das muitas questões que Guyau trata em sua reflexão sobre o tempo. E quanto aos temas dos outros escritos, que completam este livro (tais como a
origem antropológica das religiões, as hipóteses da imortalidade da alma na
teoria da evolução e as críticas de Cícero à filosofia epicurista), pode-se
dizer que encontramos neles o mesmo espírito sutil e ao mesmo tempo intenso do homem, do filósofo e do poeta Guyau,
que busca, para além de tudo, a beleza e a eternidade da vida no único lugar
onde é possível encontrá-las: no instante da própria existência.
P. 288
Martins Fontes
Dir-se-á para um professor de música que o tempo é abstrato?
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