quinta-feira, 23 de julho de 2015

225 - William Wrede: Paulo e a teologia do supra-humano


Em 1904 W. Wrede publicou o livro Paulo, uma obra popular, escrita de maneira brilhante, que expunha uma opinião radical e constituía uma provocação vigorosa. Wrede alegava que a teologia de Paulo representava uma religião de redenção cujo cerne é o conceito de um ser supra-humano (o Filho de Deus) que entrou no mundo para derrotar os poderes que o mantinham em escravidão. Paulo fundiu essa estrutura teológica, um sistema de idéias pré-formadas que herdou do judaísmo apocalíptico, com a história da morte e ressurreição de Jesus. O mais significativo na experiência religiosa de Paulo e em seu sistema de pensamento não foi a vida ou o ensino de Jesus, mas apenas o fato de que Jesus foi um homem, que morreu e ressuscitou. Desse modo, como representante da humanidade. Cristo operou uma salvação objetiva, agora mediada para os que crêem nesses dogmas e participam dos sacramentos.
Wrede insistia em que essa estrutura de idéias era estranha às ênfases teológicas correntes na piedade individual e fazia parte de um mundo diferente do estilo profético simples de Jesus e das verdades morais puras que ele proclamara de modo tão memorável. A conversão de Paulo se dera por meio de um encontro com o Cristo ressuscitado, não com o Jesus terreno, e ele só pôde descrever Jesus como um personagem divino porque não havia conhecido o Jesus humano. Apesar de todos os pontos em que Paulo e Jesus pudessem concordar e por mais que Paulo conhecesse os ensinos de Jesus, o apóstolo não foi influenciado profundamente pela personalidade de Jesus nem pelo seu modo de pensar. Em todos os aspectos importantes, o sistema teológico básico paulino estava a anos-luz de distância do pensamento de Jesus.
Assim, Wrede chegou à famosa conclusão de que “Paulo deve ser considerado o segundo fundador do cristianismo”. Embora tenha resgatado a fé cristã, impedindo-a de “definhar como uma seita judaica”, Paulo só o fez ao transformá-la. Segundo Wrede: “Sem dúvida, comparado com o primeiro. o segundo fundador do cristianismo exerceu a influência maior, não a melhor”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário


Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.