quinta-feira, 23 de julho de 2015

228 - Rudolf Bultmann: Jesus e Paulo pregadores apocalípticos




Rudolf Bultmann partilhava da opinião de Schweitzer, segundo a qual Jesus fora um pregador apocalíptico que proclamava a chegada iminente do reino de Deus. Em sua obra de crítica da forma dos Evangelhos, Bultmann lança dúvida sobre a historicidade de boa parte do material, alegando que os relatos dos Evangelhos haviam sido fortemente influenciados pela fé da igreja durante o período de transmissão oral e pelos interesses dos autores de cada Evangelho. No entender de Bultmann, isso tornou impossível a reconstrução de um retrato convincente da personalidade de Jesus ou da sequência dos acontecimentos de sua vida. Mas (ao contrário da opinião popular) Bultmann ainda tinha confiança de que podia chegar às principais idéias da mensagem de Jesus e entendia que essa proclamação fora decididamente moldada por um enfoque escatológico. O reino de Deus não significava o domínio de Deus na alma (Harnack), e sim o momento em que Deus daria fim ao mundo corrompido. Dessa maneira, Jesus apresentava Deus em termos radicais como Criador e Juiz, e seu vocabulário apocalíptico não podia ser considerado mera “casca”. Assim, “quem quer que considere Paulo ofensivo e perturbador tem de admitir que Jesus também o é”.
Em sua interpretação da proclamação de Jesus, Bultmann rompeu decisivamente com a ênfase liberal na ética e em Jesus como mestre de verdades atemporais e universais. Ao examinar o sentido da mensagem escatológica de Jesus e a situação humana nela apresentada, Bultmann viu Jesus fazendo uma convocação, um chamado à obediência radical. Para ele, a crítica de Jesus aos fariseus representou um ataque contra toda forma de legalismo que exigisse obediência apenas parcial ou externa. Em suas imposições absolutas, Jesus exigia que o eu se dedicasse totalmente a vontade de Deus, que o indivíduo abrisse mão da auto-satisfação que antes buscava. Além do mais, Bultmann percebe aqui um ponto real de correspondência com a teologia de Paulo. No centro da crítica de Paulo à Lei e na teologia paulina da cruz, Bultmann enxergava um ataque penetrante contra o legalismo judaico e contra qualquer tentativa de garantir a salvação com base em recursos puramente humanos. “O verdadeiro pecado do homem é que ele toma sua vontade e sua vida nas próprias mãos, conquista a própria segurança e assim tem sua autoconfiança, sua ‘jactância’” (Bultmann, Jesus, p.228). Desse modo, com base em contribuições interpretativas oriundas da filosofia existencialista, Bultmann detectou uma congruência material entre Jesus e Paulo na percepção que tinham da condição humana, embora a teologia de Paulo fosse, no aspecto teórico, mais clara que a de Jesus.

Mesmo na cristologia, Bultmann viu alguns elementos de semelhança, porque Jesus, embora não “exigisse fé em sua pessoa, exigia fé em sua palavra. Ou seja, ele fez sua aparição, consciente de que Deus o havia enviado na hora final do mundo”. Dessa forma, tornou-se inevitável que o proclamador passasse a ser o proclamado. A única diferença, embora significativa, é que o que Jesus proclamou como ato iminente de Deus, Paulo pregou como obra de salvação realizada.

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Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.