quarta-feira, 19 de agosto de 2015

240 - Crítica das Formas: Bultmann e o Comentário do Evangelho de João.


Bultmann escreveu sobre João durante um longo período de tempo, começando em 1923. Sua obra prima foi seu comentário de 1941. Com sua penetrante exegese crítica, este comentário confirmou Bultmann como um exegeta muito influente na história do estudo da Bíblia, ainda que muitos discordem de suas conclusões. Segundo Bultmann, o primeiro passo na formação de João foi a obra do evangelista, muito possivelmente um gnóstico convertido à fé cristã. Ele extraiu o conteúdo de seu evangelho de três fontes principais e independentes umas das outras:
1) uma fonte de sinais, uma coletânea de milagres, mais simbólicos do que históricos, atribuídos a Jesus;
2) discursos revelatórios, uma coletânea de discursos poéticos de origem gnóstica oriental;
3) uma fonte da paixão-ressurreição, paralela à tradição sinótica, mas independente dela.
Após a morte do evangelista veio a obra do redator, ou editor, cujo trabalho consistiu principalmente em organizar e harmonizar o material. A organização era necessária porque o redator encontrou uma desordem terrível no trabalho do evangelista. Ele fez o melhor que pôde para organizar o material em sequência, mas não foi totalmente bem sucedido. Bultmann via sua própria tentativa de reconstruir a ordem original de João como uma continuação da obra do redator. Uma vez que o redator conhecia a tradição sinótica, ele tentou harmonizar a obra do evangelista com esta tradição. Mais importante ainda, ele tinha harmonizar a obra do evangelista com o ensinamento padrão da igreja a fim de torná-la aceitável à sua ortodoxia; ele o fez acrescentando, por exemplo, as referências sacramentais à obra antissacramental do evangelista e a escatologia tradicional para equilibrar e corrigir a escatologia demitologizada do evangelho. Essa harmonização teológica era necessária por causa da inclinação gnóstica do evangelista que usou conceitos gnósticos demitologizados para interpretar o significado do Cristo para seus contemporâneos. O mito do redentor gnóstico é demitologizado ao ser unido à pessoa histórica de Jesus de Nazaré; o dualismo gnóstico é demitologizado ao ser transformado de um dualismo metafísico em um dualismo ético.

Bultmann enfatizou fortemente Jesus como o Revelador, cuja revelação não é a comunicação de segredos gnósticos sobre o mundo superior, mas simplesmente a pessoa do próprio Jesus. Assim, a questão principal em João não é a ação salvífica realizada por Jesus, mas suas palavras: ele é a verdade, ele é a luz, e ele tem de ser aceito. Todos os que o conhecem são salvos. Não há mais necessidade de história da salvação, pois Jesus oferece sempre, aqui e agora, a oportunidade de decisão.


Acompanhe a continuação do estudo na próxima postagem...

David Rubens

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Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.