Bultmann escreveu sobre
João durante um longo período de tempo, começando em 1923. Sua obra prima foi
seu comentário de 1941. Com sua penetrante exegese crítica, este comentário
confirmou Bultmann como um exegeta muito influente na história do estudo da
Bíblia, ainda que muitos discordem de suas conclusões. Segundo Bultmann, o
primeiro passo na formação de João foi a obra do evangelista, muito
possivelmente um gnóstico convertido à fé cristã. Ele extraiu o conteúdo de seu
evangelho de três fontes principais e independentes umas das outras:
1) uma fonte de sinais,
uma coletânea de milagres, mais simbólicos do que históricos, atribuídos a
Jesus;
2) discursos revelatórios,
uma coletânea de discursos poéticos de origem gnóstica oriental;
3) uma fonte da paixão-ressurreição,
paralela à tradição sinótica, mas independente dela.
Após a morte do
evangelista veio a obra do redator, ou editor, cujo trabalho consistiu principalmente
em organizar e harmonizar o material. A organização era necessária porque o
redator encontrou uma desordem terrível no trabalho do evangelista. Ele fez o
melhor que pôde para organizar o material em sequência, mas não foi totalmente
bem sucedido. Bultmann via sua própria tentativa de reconstruir a ordem
original de João como uma continuação da obra do redator. Uma vez que o redator
conhecia a tradição sinótica, ele tentou harmonizar a obra do evangelista com
esta tradição. Mais importante ainda, ele tinha harmonizar a obra do
evangelista com o ensinamento padrão da igreja a fim de torná-la aceitável à
sua ortodoxia; ele o fez acrescentando, por exemplo, as referências sacramentais
à obra antissacramental do evangelista e a escatologia tradicional para
equilibrar e corrigir a escatologia demitologizada do evangelho. Essa
harmonização teológica era necessária por causa da inclinação gnóstica do
evangelista que usou conceitos gnósticos demitologizados para interpretar o
significado do Cristo para seus contemporâneos. O mito do redentor gnóstico é
demitologizado ao ser unido à pessoa histórica de Jesus de Nazaré; o dualismo
gnóstico é demitologizado ao ser transformado de um dualismo metafísico em um
dualismo ético.
Bultmann enfatizou
fortemente Jesus como o Revelador, cuja revelação não é a comunicação de
segredos gnósticos sobre o mundo superior, mas simplesmente a pessoa do próprio
Jesus. Assim, a questão principal em João não é a ação salvífica realizada por
Jesus, mas suas palavras: ele é a verdade, ele é a luz, e ele tem de ser
aceito. Todos os que o conhecem são salvos. Não há mais necessidade de história
da salvação, pois Jesus oferece sempre, aqui e agora, a oportunidade de
decisão.
Acompanhe a continuação do estudo na próxima postagem...
David Rubens
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