O manifesto de
Bultmann, “O Novo Testamento e a mitologia”, publicado pela primeira vez em
1941, tornou-se o foco de agitação de um debate contínuo, frequentemente
acompanhado de mal-entendidos. Duas observações iniciais:
1) Por mito, Bultmann
não entende uma história imaginária ou algum tipo de conto de fadas, mas o uso
de imagens para expressar o sobrenatural em termos deste mundo.
2) Dever-se-ia
reconhecer a intenção profundamente pastoral da conclamação de Bultmann à
demitologização, e., a interpretar o NT em termos existencialistas. Para
Bultmann, a demitologização não é uma redução do NT, mas o único modo de tornar
sua mensagem salvadora acessível hoje em dia.
Bultmann sustentava que
a interpretação é necessária porque atualmente as pessoas não acham digna de
crédito a cosmo- visão mitológica obsoleta do NT. Portanto, para que elas sejam
desafiadas a uma decisão pelo querigma, o NT precisa ser demitologizado; o
marco mítico do NT precisa ser interpretado, para expor a compreensão de vida
humana contida nele. Bultmann encontrou no existencialismo de Heidegger uma
ferramenta adequada para esta interpretação do NT. Além disso, para Bultmann
esta interpretação é válida não apenas porque a própria natureza do mito a
exige, mas também porque podemos ver este processo tendo início no próprio NT,
especialmente em Paulo e João. Um exemplo desta demitologização no NT é a “escatologia
realizada” de João, e, sua ênfase na vida eterna aqui e agora, não em algum
futuro distante. Finalmente, o aspecto pastoral da demitologização se torna
claro quando se percebe que a eliminação da pedra de tropeço desnecessária da
mitologia ajuda Bultmann a expor a verdadeira pedra de tropeço, a ofensa do
evangelho que proclama que o ato escatológico de Deus “por nós e para nossa
salvação” ocorreu na vida e morte de Jesus Cristo.
A reação perceptiva
discordante de Bultmann (distinta da reação fundamentalista) não se dirigiu
contra a necessidade básica de reinterpretar, decodificar, “demitologizar”
algumas das imagens míticas do NT, mas contra o juízo de Bultmann sobre o que
constitui imagem ou mito inaceitáveis. Por exemplo, a ressurreição dos mortos e
o miraculoso, que, para Bultmann, não são mais significativos atualmente,
continuam significativos no juízo de outros pesquisadores.
Acompanhe a continuação do estudo na próxima postagem...
David Rubens
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