Cullmann se tornou o
principal proponente da história da salvação como a chave para a compreensão do
NT. Ele propôs esta alternativa à escola de Bultmann em dois livros
importantes. Cristo e o tempo, Salvação e história (alemão 1965). A abordagem
histórico-salvífica concebe a história como uma série de épocas redentivas,
sendo o evento Cristo o ponto central de uma linha do tempo que inclui um
período anterior de preparação, o estágio presente da igreja e o futuro
escatológico. Toda a história bíblica está marcada pela tensão permanente entre
promessa e cumprimento, o “já” e o “ainda não”. Contrariamente ao pensamento de
Bultmann, Cullmann sustentou que a história da salvação não é uma distorção
lucana, mas está enraizada no ensino de Jesus. A história da salvação é, assim,
uma característica de todo o NT, do próprio Jesus até João. Cullmann defendeu o
caráter apropriado da história da salvação como ferramenta exegética para se
chegar ao significado original do NT destacando que Jesus e a protoigreja se
basearam no AT e seu conceito de história.
Também se deveria
mencionar a importante contribuição de Cullmann para a teologia bíblica, o
livro A cristologia do Novo Testamento (alemão: 1957). Nesta obra Cullmann
tentou definir a cristologia da protoigreja expressa no NT, sem as
interpretações mais desenvolvidas da teologia subsequente. Ele examinou dez
títulos aplicados a Jesus no NT, que se referem à obra terrena de Jesus, sua
obra escatológica futura, sua obra contemporânea na igreja e sua preexistência.
Cullmann enfatizou exclusivamente o aspecto funcional da cristologia e evitou
as categorias estáticas da teologia greco-romana, com suas noções mais
desenvolvidas de pessoa e natureza, como além dos limites da exegese.
Para dar uma ilustração
de seu método, podemos examinar o título Senhor (Kyrios), que Cullmann expõe no
tópico da obra contemporânea de Cristo na igreja. Ele concorda com Wilhelm
Bousset (1865-1920) que a experiência da igreja no culto da presença de
Jesus o Senhor deu proeminência a este título, mas, contra Bousset, Cullmann
mostra que este título cristológico mais desenvolvido tem suas raízes no
cristianismo palestinen- se e não é o resultado do encontro da igreja com os
cultos de mistérios helenísticos.
Prof. David Rubens
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