A crítica das fontes
foi uma realização marcante do séc. XIX. Entre suas contribuições importantes
estavam o estabelecimento da prioridade de Marcos, a identificação de Q e o uso
dessas fontes em Mateus e Lucas. Mas a crítica das fontes não podia ir além
disso, pois, por definição, ela estava limitada ao estudo dos documentos à
disposição. A crítica do séc. XX propôs uma outra pergunta: podemos ir até
atrás dos documentos escritos e chegar até o período entre os acontecimentos e
os primeiros registros escritos (cerca de 30-60 d.C.), quando ao relatos das
palavras e obras de Jesus circularam em aramaico? Este é o objetivo da crítica
das formas (ou Formgeschichte = história das formas), que tenta investigar e
analisar a origem e a história da tradição oral, pré-literária, que está por
trás de nossos evangelhos escritos. A premissa é que os evangelhos são
compostos de muitas perícopes menores, as quais circularam como unidades
separadas nas comunidades protocristãs antes de os evangelhos serem escritos.
A crítica das formas está
preocupada com as formas ou padrões destas histórias e ditos e as razões de sua
preservação nos evangelhos. O impulso original para este estudo veio do grande
biblista do Antigo Testamento Hermann Gunkel (1862–1932), que
desenvolvera técnicas na interpretação do AT pelas quais tentou estabelecer as
tradições orais subjacentes por trás dos documentos e a situação de vida destas
tradições. A crítica das formas do NT desenvolveu a percepção de Gunkel, e
podem-se distinguir três níveis na formação e preservação do material dos
evangelhos.
1) A situação na vida
de Jesus é o contexto e o significado de um relato ou dito avulso na vida
terrena de Jesus sempre que este contexto seja recuperável.
2) A situação na vida
da igreja é a situação ou contexto de um relato ou dito avulso da vida de Jesus
da proto igreja. O que fez a protocomunidade preservar esta lembrança
específica da vida de Jesus e qual significado ela lhe deu?
3) A situação no
Evangelho é o contexto de um dito ou história do Senhor no evangelho em si. O
que o evangelista quis ensinar ao registrar este acontecimento particular neste
ambiente particular?
Esta última pergunta
marca a transição da história das formas para a história da redação.
Acompanhe a continuação do estudo na próxima postagem...
David Rubens
Ótima explicação, muito obrigada.
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