sábado, 15 de agosto de 2015

235 - Crítica das Fontes e Crítica das Formas


A crítica das fontes foi uma realização marcante do séc. XIX. Entre suas contribuições importantes estavam o estabelecimento da prioridade de Marcos, a identificação de Q e o uso dessas fontes em Mateus e Lucas. Mas a crítica das fontes não podia ir além disso, pois, por definição, ela estava limitada ao estudo dos documentos à disposição. A crítica do séc. XX propôs uma outra pergunta: podemos ir até atrás dos documentos escritos e chegar até o período entre os acontecimentos e os primeiros registros escritos (cerca de 30-60 d.C.), quando ao relatos das palavras e obras de Jesus circularam em aramaico? Este é o objetivo da crítica das formas (ou Formgeschichte = história das formas), que tenta investigar e analisar a origem e a história da tradição oral, pré-literária, que está por trás de nossos evangelhos escritos. A premissa é que os evangelhos são compostos de muitas perícopes menores, as quais circularam como unidades separadas nas comunidades protocristãs antes de os evangelhos serem escritos.
A crítica das formas está preocupada com as formas ou padrões destas histórias e ditos e as razões de sua preservação nos evangelhos. O impulso original para este estudo veio do grande biblista do Antigo Testamento Hermann Gunkel (1862–1932), que desenvolvera técnicas na interpretação do AT pelas quais tentou estabelecer as tradições orais subjacentes por trás dos documentos e a situação de vida destas tradições. A crítica das formas do NT desenvolveu a percepção de Gunkel, e podem-se distinguir três níveis na formação e preservação do material dos evangelhos.
1) A situação na vida de Jesus é o contexto e o significado de um relato ou dito avulso na vida terrena de Jesus sempre que este contexto seja recuperável.
2) A situação na vida da igreja é a situação ou contexto de um relato ou dito avulso da vida de Jesus da proto igreja. O que fez a protocomunidade preservar esta lembrança específica da vida de Jesus e qual significado ela lhe deu?
3) A situação no Evangelho é o contexto de um dito ou história do Senhor no evangelho em si. O que o evangelista quis ensinar ao registrar este acontecimento particular neste ambiente particular?
Esta última pergunta marca a transição da história das formas para a história da redação.

Acompanhe a continuação do estudo na próxima postagem...

David Rubens



Um comentário:


Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. parte do artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.